Vacina contra covid-19 ‘rompe’ pela 1ª vez relação entre infecções e mortes no Reino Unido

  • Rachel Schraer
  • Repórter de Saúde da BBC News

nurse preparing vaccine

Crédito, Getty Images

Um novo estudo sugere que o programa de vacinação do Reino Unido pode estar quebrando a relação que existia até então entre casos de covid-19 e mortes, segundo cientistas que monitoram a epidemia.

O levantamento da Imperial College de Londres aponta que as infecções pela doença caíram em cerca de dois terços desde fevereiro.

Desde então, o número de casos permanece estável. Mas o que chama atenção é o número de mortes continua caindo.

A pesquisa, encomendada pelo governo, é baseada em testes de covid-19 com 140 mil pessoas selecionadas para representar a população da Inglaterra.

Desse grupo, testado para o vírus entre 11 e 30 de março, 227 tiveram resultado positivo (0,2% dos casos, ou uma em cada 500 pessoas).

No período anterior de testes, de 4 a 23 de fevereiro, a taxa de infecção era maior: cerca de uma em 200 pessoas tinha o vírus.

Entenda

Os novos resultados indicam queda de dois terços no número de casos no país.

Na medição anterior, cientistas atribuíam a melhora nos números ao lockdown severo que estava em vigor, e não à vacinação.

Mas agora os cientistas acreditam que reduções em mortes — cada vez mais descoladas do número de casos — são fruto das vacinas, como o professor Stephen Riley do Imperial College London, um dos autores do estudo, explicou à rádio Times.

“De setembro (de 2020) em diante, temos uma correlação boa entre hospitalizações e mortes e infecções subjacentes”, disse.

“Mas o que estamos relatando hoje é que, se você olhar para esse padrão de janeiro em diante, verá uma divergência bastante consistente. Achamos que é um sinal de como o programa de vacinação está quebrando o vínculo anteriormente forte entre o padrão de infecções e o padrão de mortes e hospitalizações.”

Novamente, os números ajudam a entender a conclusão.

Desde o começo de março, o número diário de casos de covid-19 no Reino Unido tem se mantido entre 5 mil e 6 mil. No mesmo período, o número de mortes diárias seguiu caindo e foi de um patamar de 200 mortes para menos de 50, em média.

Infecções mais comuns em crianças

Depois de uma queda significativa entre fevereiro e março, durante o período de aproximadamente três semanas até o final de março os casos estavam “quase estáveis”, disse Riley.

Os cientistas estimaram que o número de reprodução do vírus (conhecido como “R”) durante esse período até o final de março era 1, o que significa que a epidemia estava estável, mas não em queda.

Lembrando: o “R” é superior a 1 indica que a pandemia está se expandindo. Quando inferior a 1, a lógica é inversa: ela está se retraindo.

“Desde o primeiro relaxamento substancial de restrições na Inglaterra, com a abertura de escolas em 8 de março de 2021, a taxa de declínio de novos casos diminuiu consideravelmente”, diz o relatório.

Desde então, as infecções foram mais comuns em crianças em idade escolar primária e secundária (de cinco a 12 anos) e mais baixas em maiores de 65 anos, o que a equipe Imperial disse ser “consistente com um efeito da vacinação”.

Isso “provavelmente reflete o aumento do contato social” entre as pessoas, diz Riley, e parte disso tem a ver com a reabertura de escolas.

Apesar da redução na queda, o especialista comemorou o fato de as taxas de infecção não terem subido quando as escolas reabriram.

Mesmo com a vacinação, essa era uma possibilidade, segundo ele.

De agora em diante, o professor alerta que as autoridades precisam acompanhar com bastante atenção o fim de restrições e lockdowns na Inglaterra. A nação está em processo de reabertura de sua economia, mas essa reabertura se dá de forma gradual — com determinados setores só podendo retomar suas atividades se certas metas de vacinação e queda de infecção forem atingidas.

Riley acredita que, quanto mais rápido a vacina for distribuída, menor será a chance de o aumento do contato social levar a uma nova alta nos casos.

Dúvidas sobre vacinas

Mais de 5,6 milhões de pessoas já foram totalmente vacinadas com duas doses no Reino Unido, enquanto 31,7 milhões receberam a primeira dose.

Uma nova orientação foi emitida na quarta-feira (07/04) recomendando que menores de 30 anos devem receber uma vacina diferente da Oxford-AstraZeneca, após uma revisão encontrar uma ligação potencial entre o imunizante e coágulos sanguíneos raros.

O regulador de medicamentos do Reino Unido disse que não há provas de que a injeção tenha causado os coágulos, mas parece haver novos indícios de que exista algum tipo de relação.

Alguns países europeus restringiram o uso da vacina AstraZeneca, e o regulador de medicamentos da União Europeia disse que coágulos sanguíneos incomuns devem ser listados como possível efeito colateral “muito raro” da vacina.

Especialistas e políticos vem tentando tranquilizar as pessoas, afirmando que episódios de coágulo sanguíneo são muito incomuns. O Reino Unido segue comprometido com seu plano de oferecer a todos os adultos uma primeira dose da vacina até o final de julho.

O primeiro-ministro Boris Johnson fez um apelo para que as pessoas continuem recebendo a vacina AstraZeneca. Pelo Twitter, ele disse que ela “já salvou milhares de vidas” e que as pessoas devem “continuar a ter plena confiança nas vacinas”.

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Fonte: BBC