Número de imigrantes sem documentos nos EUA é o menor em uma década, diz estudo

Pew Research Center estima presença de menos mexicanos e mais centro-americanos; recessão econômica e medidas duras do governo teriam freado entradas.

Pouco depois de entrar na campanha presidencial, o então candidato à Casa Branca Donald Trump sugeriu que o número de imigrantes sem documentos nos Estados Unidos poderia passar de 30 milhões. No entanto, um novo estudo mostra um contingente bem menor de estrangeiros em situação irregular, que ainda sofreu declínio expressivo em uma década. O levantamento do Pew Research Center estima que o país abrigava 10,7 milhões de imigrantes indocumentados em 2016 – o nível mais baixo desde 2004. A queda se deu sobretudo pela diminuição da entrada de mexicanos em solo americano, segundo o instituto.

Calcado em dados do Censo dos Estados Unidos sobre estrangeiros e outras cifras demográficas — como índice de mortalidade e admissões legais nas fronteiras — registradas até 2016, o estudo mostra que o número de imigrantes sem documentos atingiu seu máximo em 2007, com 12,2 milhões. Em 2016, quando o presidente Barack Obama deixou o cargo, o número de imigrantes irregulares que viviam nos Estados Unidos tinha seu menor nível em uma década: 10,7 milhões. Desde então, decresceu, em fenômeno explicado em parte, segundo os pesquisadores, pela recessão econômica americana a partir de 2008 e a subsequente limitação de oportunidades de trabalho no país em meio a uma lenta recuperação.

Grupo de imigrantes centro-americanos aguardam na fronteira entre EUA e México em Playas de Tijuana Foto: GUILLERMO ARIAS / AFP

“A recessão e a crise imobiliária foram eventos importantes para baixar esses números, mas é também possível que outras coisas tenham sido importantes. Nós sabemos que as forças da fronteira agiram mais neste período também, e as taxas de contrabando (de pessoas) aumentaram. Também sabemos que houve aumento nas deportações”, destacou D’Vera Cohn, uma das autoras do levantamento. Segundo o Departamento de Segurança Interna, o governo Obama deportou o número recorde de 2,5 milhões de pessoas, entre 2009 e 2015. O presidente Donald Trump reforça a necessidade de endurecer a lei da imigração. Não raro ele pressiona o Congresso, além disso, para que autorize o financiamento da construção de um muro na fronteira com o México. No último mês, o republicano enviou militares à divisa para frear a entrada de cinco mil centro-americanos que deixaram seus países com declarada intenção de pedir asilo nos EUA.

“Não é só que os números tenham caído, mas também quem esses imigrantes não autorizados são também mudou desde 2007”, ressaltou D’Vera Cohn. Antes mesmo de o republicano ser eleito à Casa Branca, a diminuição do número de imigrantes indocumentados vindos do México transformou o perfil demográfico das pessoas que vivem sem autorização no país. Os mexicanos ainda são aproximadamente a metade dos estrangeiros sem documentos nos EUA, mas a população se reduziu em 1,5 milhão entre 2007 e 2016, de acordo com o Pew Research. No mesmo período, o número de imigrantes não autorizados da América Central aumentou em 375 mil, em função da escalada da violência e da incerteza econômica na região do Triângulo Norte (Guatemala, Honduras e El Salvador).

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A imigração mexicana desacelerou. Segundo o instituto, dados do governo do México mostram que a maioria dos imigrantes cita a reunificação com a família como principal razão para o retorno à terra natal. Houve decréscimo no número de entradas nos EUA nos últimos cinco anos do período analisado. Entre 2011 e 2016, 386 mil novos imigrantes cruzaram as fronteiras americanas sem autorização. De 2002 a 2007, foram 715 mil — uma queda de 46%. Pesaram na movimentação migratória os cortes de empregos na área da construção civil, durante a recessão, e o endurecimento das medidas no acesso ao território dos EUA. Dois terços dos imigrantes sem documentos viviam nos Estados Unidos há pelo menos uma década em 2016. Segundo o estudo, o típico estrangeiro nesta situação, à época, estava no território americano havia cerca de 15 anos. Em 2007, a média era de nove anos.

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“É uma população muito mais enraizada, estabelecida que a de 2007. Há poucos residentes de curto prazo e muitos de longo período”, apontou D’Vera Cohn. O Pew Research estima que 1 milhão de imigrantes sem documentos estejam protegidos da deportação pela Ação Diferida para Chegadas na Infância (Daca) e outros mecanismos. O programa criado por Barack Obama alcança 700 mil estrangeiros que chegaram aos Estados Unidos ainda crianças com os pais. Outros 300 mil têm status temporário de proteção, concedido a imigrantes de países como El Salvador e Haiti, devastados por desastres naturais. O estudo aponta ainda que o vencimento de vistos se tornou um significativo fator da imigração irregular. Mesmo sem dados estatísticos objetivos, D’Vera Cohn explica que há a sensação do aumento de estrangeiros que entram no país com autorização, mas lá ficam de forma permanente. “Parece que a maioria das novas entradas em 2016 não era de imigrantes que cruzaram a fronteira sem documentos, mas de pessoas que chegaram com visto e passaram do prazo limite para ir embora”, explicou a pesquisadora.

Fonte: Brazilian Press