
A atividade física, seja como prática de bem-estar ou como profissão, foi afetada pela pandemia assim como todos os âmbitos de um estilo de vida que envolva deslocamento e interação social. Ao se praticar um esporte, e principalmente aqueles em grupo, entra-se em contato com pessoas, e, mesmo mantendo o distanciamento necessário, a segurança ainda precisa ser posta em primeiro lugar.
A pandemia, em longo prazo, originou uma série de questões referentes à saúde mental que antes talvez passassem batido. Uma simples ida à academia ou uma partida de vôlei com os amigos na praia parecia apenas mais uma atividade do dia-a-dia, mas a ausência dessas atividades afetou muito mais do que as pessoas imaginavam.
Quem vê o esporte como um estilo de vida e quem tem o esporte como fator decisivo para a carreira – como atletas universitários – sentiu de forma extrema o impacto da pandemia. O vôlei, em particular, é um esporte muito popular entre os brasileiros e com forte presença universitária no sul da Flórida. O vôlei como estilo de vida e como carreira foi um dos esportes afetados pela pandemia por requerer mais de um jogador para que uma partida ocorra, e tanto atletas profissionais como praticantes de final de semana sentiram o impacto de uma interrupção brusca e devastadora.
Vôlei como carreira profissional
Viktoria Velika, de 22 anos, é uma estudante-atleta internacional que está em Miami cursando Inglês e Escrita Profissional. Nascida e criada na Eslováquia, ela tem um histórico longo de viagens profissionais jogando vôlei pela Europa, e seu histórico lhe proporcionou a possibilidade de uma bolsa de estudos na Barry University.
Devido aos acontecimentos referentes ao vírus da COVID-19, no entanto, a prática profissional semestral que lhe garante a bolsa de estudos foi completamente afetada e teve de ser adaptada. Os esportes universitários preparam-se por um semestre do ano para as temporadas de jogos que ocorrem no semestre seguinte, e a temporada do outono de 2020 teve de ser adiada.
Viktoria conta ao Gazeta News os detalhes práticos das mudanças e como se sentiu mental e fisicamente, sendo uma atleta que treinava todos os dias o ano inteiro, passar o primeiro ano de sua vida desde a infância parada em quarentena por seis meses.
Conferências foram realizadas, segundo Viktoria, para que decisões referentes à temporada de competições acontecessem. A maioria votou que a temporada fosse transferida para 2021 e o outono deste ano fosse usado para os treinos. Os treinos, ela detalha, vão acontecer de forma bem diferente. As atletas precisarão medir a temperatura antes de começar a praticar, sanitizar as bolas a cada quinze minutos, e as partidas com não mais do que um grupo pequeno de duas ou três jogadoras, assim se revezando.

Viktoria também explicou para o Gazeta como se sentiu durante os meses parada após o surto do COVID-19. Uma das principais diferenças que notou em seu dia a dia foi a ausência de regras. “Como atleta, estou acostumada com cronogramas que não são criados por mim, e sim pelo técnico. Essa foi a minha vida desde os meus 10 anos de idade, eu sigo regras e vivo em torno dos cronogramas criados por outras pessoas.”
Ela conta que a forma como reagiu ao tempo livre que tinha foi diferente do que esperava.
“Com a pandemia, de repente eu estava com todo esse tempo livre nas mãos para fazer o que eu quisesse. Eu planejava me exercitar por conta própria, desenhar, ler meus livros, mas meu corpo não correspondia”.
Entretanto, por mais que a pandemia não tenha atingido suas expectativas, ela percebeu como o esporte é importante em sua vida. “Mesmo o vôlei me trazendo muito estresse como atleta, eu percebi, durante a pandemia, que na verdade o esporte é um escape da realidade necessário para mim. Me deixa mais animada quando estou me sentindo para baixo. Sem o vôlei como escape, é muito difícil e estranho. Achei que seria diferente ter um tempo para descansar, mas agora sinto que uma parte de mim está faltando.”
Viktoria conta ao Gazeta que o vôlei não irá se resumir aos anos universitários de sua vida. “Quero tentar jogar profissionalmente após a graduação, e a pandemia me fez perceber o quanto eu amo vôlei e o quanto eu amo ser uma atleta.”
Torneios cancelados

Gabriela Lara, apesar de não ser uma atleta profissional, tem o vôlei como estilo de vida e parte importante de sua rotina de bem estar. Ela é a organizadora de um grupo de brasileiros no sul da Flórida que se encontra para partidas mais descontraídas e torneios mais sérios.
Moradora do condado de Broward, Gabriela tem uma página dedicada ao esporte na Flórida. A página “@brazucasnaflorida” no Instagram foi criada para que todos os amantes do esporte se unissem em um só lugar e o encontro e planejamento de partidas e torneios fosse mais fácil. O grupo ganhou o prêmio Focus Brasil como melhor evento comunitário, premiação que reconhece brasileiros de destaque fora do país.
Gabriela contou ao Gazeta News que, quando a pandemia se espalhou, em março, a cidade de Deerfield cancelou um torneio que havia sido formalmente organizado e documentado. Após o cancelamento, passou alguns meses em quarentena e explicou que, em longo prazo, percebeu como o esporte fez falta no seu dia a dia. Na quarentena, sem jogar, não tinha mais a sensação de bem-estar que o esporte lhe proporcionava. Além disso, não havia mais a socialização com outros brasileiros que também veem no vôlei uma fonte de bem-estar.

Aos poucos, Gabriela contou que voltou a se encontrar para partidas em praias e cidades diferentes, porque atualmente nada está certo.
Em Pompano, por exemplo, ela levou a própria rede e não houve nenhum problema. Entretanto, ela conta que na praia de Deerfield recentemente tiveram que parar de jogar pois houve reclamações de outras pessoas. Um policial se aproximou e até confessou que por ele não havia problema, mas as pessoas se sentiram incomodadas então as partidas foram encerradas naquele dia.
Atualmente, torneios oficiais ainda não estão acontecendo mas Gabriela e seu grupo continuam se encontrando em praias diferentes para tentar manter esse hábito tão necessário em suas vidas.
As prefeituras e seus respectivos departamentos de Miami-Dade, Broward e Palm Beach foram contactadas pelo GN para se pronunciarem sobre medidas de segurança e recomendações em relação aos esportes ao ar livre, mas nenhuma respondeu.
O esporte é fonte de bem-estar e adrenalina necessária para quem o pratica. Com a pandemia, esportes como o vôlei foram extremamente afetados e fãs do esporte, assim como atletas profissionais, tiveram que lidar pela primeira vez com a falta que a ausência fez em suas vidas. Aos poucos, as atividades estão voltando ao normal de forma adaptada, essa é a “nova realidade” muito citada.
Related Images:
[See image gallery at gazetanews.com]
O post O impacto da pandemia para esportistas no sul da Flórida apareceu primeiro em Gazeta News: O maior Jornal Brasileiro da Florida, nos EUA.
Fonte: Gazeta News