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Um ou dois? Guia do beijo no rosto pelo mundo

Talvez você já tenha visto, fora do Brasil, duas pessoas se cumprimentando ora com um beijo no tosto, ora com dois beijos e se perguntou: como é, afinal, a etiqueta do cumprimentar quando estamos fora de casa? Ao contrário de um aperto de mão ou um abraço, que são comuns na maioria dos lugares, o costume de beijo na bochecha é diferente em cada cultura.

Na Espanha, o comum é um beijo em cada bochecha; em partes do Afeganistão, o costume é beijar até oito vezes. Tudo isso mostra que o beijo na bochecha é mais arte do que ciência, ou seja, você nunca sabe o que esperar de cada lugar.

Para quem viaja para o exterior, entender como isso funciona é uma boa ajuda. Fazer o movimento errado pode até ofender a pessoa que está sendo cumprimentada. A Condè Nast Traveler foi a fundo no assunto e trouxe interessantes reflexões para o dilema.

A origem de tudo

No livro One Kiss or Two: In Search of the Perfect Greeting (Um beijo ou dois: em busca da saudação perfeita, ainda sem tradução para o português), o diplomata Andy Scott constrói hipóteses sobre a origem da tradição do beijo na bochecha. “Na epístola para os Romanos, São Paulo instrui seus seguidores a cumprimentar uns aos outros com um beijo sagrado, que no caso era na boca. O ato se tornou uma saudação comum entre os primeiros cristãos e uma parte central da cerimônia católica”, diz ele.

Com o tempo, a igreja católica se sentiu incomodada com a sensualidade do ato e decidiu eliminar esse símbolo do Império Romano. O encostar de lábios virou então um roçar de bochechas, o que explicaria o porquê da saudação ser tão popular em grande parte dos países com maioria católica. A prática é comum em partes do Oriente Médio, Ásia e onipresente na América Latina e Europa Continental.

Scott diz que o beijo no rosto começou com camponeses e foi adotado pela elite quando as classes mais baixas e rurais começaram a migrar para as cidades.

Guia do beijo no rosto

Nunca é demais saber em que lugares do mundo você deve oferecer a bochecha, assim como quantos beijos esperar. Só na França, o número varia drasticamente em cada região, de acordo com uma pesquisa feita com mais de 100 mil cidadãos em 2014. Parisienses consideram dois beijos a norma, enquanto três são o comum em Provence e quatro no Vale do Loire. Veja a tradição de alguns países:

Um beijo: Colômbia, Argentina, Chile, Peru e Filipinas.

Dois beijos: Espanha, Itália, Grécia, Alemanha, Hungria, Romênia, Croácia, Bósnia, Brasil (que, como a França, varia de acordo com a região; no Rio Grande do Sul são três, no Rio de Janeiro dois, em São Paulo um) e alguns países do Oriente Médio (mas apenas entre pessoas do mesmo sexo).

Três beijos: Bélgica, Eslovênia, Macedônia, Montenegro, Sérvia, Holanda, Suíça, Egito e Rússia (acompanhado de um abraço de urso).

A logística das bochechas

O beijo tem diferenças a depender do país — é el beso na Espanha, beijinhos em Portugal, beijos no Brasil e beso-beso nas Filipinas — mas a logística é quase sempre a mesma. Você começa encostando bochecha direita com bochecha direita e depois muda para a face esquerda, repetindo se necessário. A única exceção é na Itália, onde o il bacio começa na esquerda.

Algumas culturas realmente encostam os lábios na bochecha, mas é melhor evitar. Ao invés disso, encoste a face e beije o ar fazendo um barulho suave de smack! — no lugar do escandaloso mwah! — evitando qualquer troca de saliva. Mas por quê?

“Alguns vão dizer que é por causa do batom”, conta Scott, “outros, para evitar a propagação de germes.” De fato, em 2009, o The Telegraph informou que muitas instituições francesas baniram o beijo para prevenir um surto de gripe suína H1N1.

Não sabe o que fazer com o resto do seu corpo? “Eu aconselho as pessoas a imitarem a outra. Não ficar parado, mas fazer exatamente o que ela está fazendo”, conforme Lydia Ramsey, especialista em etiqueta e autora do livro Manners That Sell (ainda não disponível em português). “Retribua com o mesmo cumprimento ou aceite o do outro gentilmente, sem travar.”

Os perigos

Na América Latina é comum cumprimentar alguém que você acabou de conhecer com um beijo — é o equivalente a estender a mão na América do Norte. Isso também é verdade na Europa, mas não é tão comum. Se você for recepcionado com um beijo e não tem certeza de quantos serão, se garanta com dois.

“Estranhamente, existe uma relação inversa [em muitos lugares] entre o número de beijos e o quão próximo você é da pessoa”, diz Scott. “É como se o segundo beijo cancelasse o significado do primeiro. Ao invés de intimidade, o ato se torna simplesmente ritualístico.”

Quem beija quem?

As dinâmicas de gênero também devem ser levadas em consideração. Na Europa e América Latina, cumprimento com beijo entre duas mulheres e entre um homem e uma mulher são bem aceitos. Beijos entre dois homens são raros e só acontecem em lugares como Argentina, Sérvia e no sul da Itália. Como esperado, a saudação com beijo entre homens e mulheres não são bem vistos em lugares mais conservadores.

Pegadinhas à parte, Scott encoraja o viajante a tentar, mesmo com o risco de cometer uma gafe ou darem um passo em falso.

Fonte: Viagem e Turismo