Em meados do ano 2000 eu percorria as lojas e mercados brasileiros espalhados entre Miami e Boca Raton para copiar os pequenos anúncios pregados nos seus quadros de avisos. Neles, as pessoas buscavam um lugar para morar, emprego, doações de móveis, oportunidades de negócios e outras necessidades da vida imigrante. Aqueles pequenos anúncios serviriam depois como conteúdo para a primeira edição do AcheiUSA.
Naquela época a comunidade brasileira vivia um momento especial de crescimento, e vários jornais comunitários já circulavam. Mas desde a primeira vez que estive nessa região do sul da Flórida percebi que havia espaço para um novo jornal, diferente de todos. Pensava em um veículo que trouxesse uma utilidade concreta para o leitor e que não dependesse de muito esforço para editá-lo, já que o único funcionário seria eu mesmo, encarregado de prover conteúdo, fazer o design gráfico, vender publicidade e distribuir o jornal em dezenas de pontos na vasta área que fica entre Miami e Boca Raton, a de maior concentração de brasileiros no estado da Flórida.
A solução para a equação foi criar um jornal quinzenal de anúncios classificados grátis. Assim, o conteúdo seria fornecido pelo leitor e o jornal teria a utilidade de reunir em um só lugar tudo que a comunidade procurava. Juntei duas inspirações – o jornal Balcão e um caderno de classificados do Jornal do Brasil, ambos do Rio de Janeiro – e cheguei ao formato e ao nome “Achei”, completado com o USA, de United States of America.
A primeira edição do AcheiUSA foi entregue na gráfica no sábado, 28 de outubro de 2000, e começou a ser distribuída na segunda-feira, dia 30. Na mesma semana, começaram a chegar, via fax, os anúncios que seriam publicados gratuitamente na edição seguinte, preenchidos em um pequeno formulário impresso no jornal. Foi um sucesso instantâneo. Os anúncios classificados formaram o alicerce sobre o qual o jornal evoluiu ao longo dos vinte anos que completou em 2020. Sobre essa base construímos um jornal completo, com editorial comandado por jornalistas profissionais, uma legião de colaboradores, fotógrafos, profissionais gráficos e distribuidores.
Durante esses vinte anos o AcheiUSA consolidou-se como um veículo de extrema importância para a comunidade brasileira, tanto na sua edição impressa quanto no seu website, líder absoluto entre todos os veículos comunitários em português no País. Sua reputação de credibilidade e responsabilidade editorial garantiu o reconhecimento de instituições importantes e parcerias duradouras com eventos populares, como o Inffinito Brazilian Film Festival e o Pompano Beach Brazilian Festival, e associações empresariais de relevância internacional, como a Brazilian-American Chamber of Commerce of Florida, maior câmara de comércio binacional do estado, onde o AcheiUSA ocupa lugar de destaque como Trustee Member.
Chegamos aos vinte anos cheios de vitórias, mas também confrontados com novos desafios. O mundo mudou bastante nessas duas décadas, e com ele a relação do leitor com a notícia. As mídias sociais e a quantidade de informação disponível na internet obrigaram os veículos de comunicação a repensarem seus formatos, editorias e relação com os leitores. E foi isso extamente que fizemos. Graças a essa adaptação, hoje o AcheiUSA é líder absoluto online entre as mídias comunitárias em português nos Estados Unidos, e de maior presença nas mídias sociais, onde arregimentou mais de 100 mil seguidores.
Enquanto alguns argumentam que a abundância de informação atual feriu gravemente os veículos de comunicação tradicionais, nós pensamos que na verdade eles nunca foram tão necessários. Como guardiões da informação responsável, os veículos profissionais são a grande arma no combate à proliferação de informações falsas – as conhecidas fake news – que tanto mal têm causado. Os veículos de comunicação com compromisso histórico de credibilidade são um porto seguro para a informação confiável de que tanto precisa a sociedade, porque no final das contas eles dependem da confiança do leitor para a própria sobrevivência.
O AcheiUSA tem tido esse compromisso há vinte anos e vai continuar tendo pelos próximos vinte, pelo menos.
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Fonte: AcheiUSA