Carlos Borges lança “Observando Estrelas”, uma viagem pelo coração das artes brasileiras nos últimos 40 anos

capa book cb Carlos Borges lança Observando Estrelas, uma viagem pelo coração das artes brasileiras nos últimos 40 anos
Carlos Borges reuniu 20 personalidades da cultura brasileira no livro “Observando Estrelas”

O  baiano Carlos Borges é um dos jornalistas brasileiros mais respeitados nos EUA. Incansável, é o criador do Press Awards e responsável por muitas das iniciativas que mais deram visibilidade ao emigrante fora do nosso país. O Focus Brasil, outra de suas invenções, é um evento que se espalhou por três continentes e se tornou referência da presença brasileira nestes lugares.  Entre um evento e outro, o jornalista reuniu em livro 20 histórias deliciosas, retratando encontros com algumas das personalidades que mais marcaram o cenário da cultura nacional nas últimas quatro décadas.

– Como surgiu a idéia de escrever Observando Estrelas?

CB – Na verdade eu comecei a escrever comentários e reflexões pouco tempo depois que cheguei aos Estados Unidos. Isso tem quase 30 anos, já que eu vim para cá em 1990. Já tinha a idéia de fazer um livro. Mas a correria da vida aqui na America é impiedosa e eu sou muito exigente comigo mesmo. Queria fazer algo que tivesse sentido e propósito. Em 2018, gra;ças a um empurrão dado por minha editora, Nereide Santa Rosa, eu encarei o projeto como ele está agora.

– Quanto tempo demorou para produzir o livro, da primeira frase digitada no computador ao produto final, já impresso?

CB – Verdade verdadeira? 26 anos!!!!!!

– Qual foi o encontro mais intrigante em sua jornada de confecção do livro?

CB – Para mim, o capítulo dedicado a Nelson Ned é muito especial. Eu sou um cara muito emotivo e tenho repulsa a preconceitos de qualquer tipo. Ouço e gosto de quase todo tipo de música e sempre acompanhei a trajetória de Nelson Ned, que se tornou uma grande estrela internacional nos países de cultura hispânica. Só que, para o Brasil, Ned foi sempre tratado como caricatura, anão de circo, uma coisa tenebrosa e que o magoou a vida inteira. Seu trabalho, formidável em termos do cancioneiro romântico popular, nunca recebeu o menor crédito e consideração pela mídia brasileira. No livro, nosso encontro – que foi dificílimo de ser concretizado – é marcado por um intenso desabafo.

– Qual o artista que não entrou no livro, mas que gostaria de ter abordado na obra e por que?

CB – Um só? Eu diria o genial Sidney Magal, com quem eu trabalhei diversas vezes e nos tornamos amigos. Eu apresentei Magali, a esposa, a ele, em Salvador, em 1978. E também tem a Zizi Possi, com quem eu tenho também uma história de envolvimento fraterno e trabalho, muito curiosas. Mas o número de 20 capítulos ficou de bom tamanho.

– Você está montando um roteiro de divulgação do livro. Por enquanto, quais as cidades confirmadas?

CB – A agenda dos eventos Focus Brasil me obriga a fazer esses lançamentos aproveitando as brechas do calendário. Serão três em agosto – Miami, Boston e Orlando – e três planejados para setembro – Broward County, Atlanta e New York. Os amigos – que graças a Deus são muitos! – estão se mobilizando para nos ajudar. Lançar livros em plena revolução digital é, em si, um ato de “rebeldia e resistência”. Então é possível que tenhamos lançamentos em Los Angeles, San Francisco, Phoenix e Seattle, mas ainda sem datas previstas. No Brasil temos já dois eventos marcados: São Paulo e Salvador, no começo de 2020.

– Como você vê este movimento de brasileiros produzindo livros em português fora do Brasil? Existe um mercado para isto? Há alguma possibilidade de chegarem ao mainstream?

Nós acompanhamos o movimento de produção de literatura brasileira no exterior há muitos anos. Já realizamos três encontros de escritores no Focus Brasil do Reino Unido, com muito sucesso. Mas é uma atividade com altos e baixos em sua constância. Agora estamos vivendo um momento curioso. Em 2018 tivemos cerca de 30 títulos lançados, dos mais diversos gêneros. O Focus Brasil em New York, que será totalmente dedicado a esses escritores brasileiros nos EUA, tem 69 autores inscritos. Esse número me surpreendeu muito. Quanto a chegar ao “mainstream”, é uma outra coisa. Acho que nunca se escreveu tanto como hoje e nunca se teve tanta demanda de conteúdo escrito como se tem agora, especialmente na area de conteúdo em audio e video – cinema, televisao, internet, etc. Portanto, existe uma demanda enorme, um campo vastíssimo, embora bem menos de livros impressos no formato tradicional. Mas eu acredito piamente que da mesma forma que a música clássica e a ópera não acabaram, o livro impresso tradicional sobreviverá. E pode acontecer o que aconteceu com o Vinil, não é mesmo?

– No Brasil abre-se um número absurdo de igrejas, farmácias e Pet Shops. E é, cada vez mais crescente o fechamento de livrarias no país. A que você atribui o fenômeno?

CB – Creio que esse fenômeno reflete a digitalização de tudo e todos e não um desinteresse pelos livros. O desinteresse é mesmo por sair de casa para comprar livros. Na contra-mão você tem os milhões de downloads de obras digitalizadas. Estamos no começo de uma revolução total onde os vaticínios podem não valer nada na manhã seguinte. A multiplicação de igrejas tem mais a ver com o aspecto mercantil de muitas dessas igrejas que são mais “negócio” e menos “templos de fé”. Mas isso é fruto dos tempos de transformação que estamos vivendo. A palavra escrita é seminal. Deixa de ser consumida a partir das livrarias e segue sendo cada vez mais consumida, só que pelos downloads.

– Você pensa em se dedicar mais à escrita fora do jornalismo, enveredando por outros gêneros no sentido mais “bíblico” da palavra literatura?

CB – Sonhar não paga imposto, né mesmo? Sim, eu quero poder me dedicar à Literatura em diversos campos porque acredito que muitas de minhas experiências e visões podem ser úteis. Tenho obsessão por ser útil e por ter um propósito em tudo o que faço. Já estou escrevendo o segundo livro que tem a ver com  minha experiência como imigrante. Gostaria de escrever para cinema e televisão, mas creio que este é um alvo ainda distante.

– O que o leitor de Observando Estrelas pode esperar quando abrir o livro e iniciar sua leitura?

CB – Para quem se interessa por cultura brasileira, nossa música, nossa comunicação, acho que o livro é uma viagem, um relato afetivo sobre experiências com mitos e “monstros sagrados”. Não tenho pretensões além dessa possibilidade. Quem não tem um mínimo de identificação com a cultura brasileira pode aproveitar e conhecer um pouco dessas figuras extraordinárias. Se tem um campo onde habita a certeza de que o povo brasileiro é extraordinário, com certeza esse campo são as artes.

– O leitor pode esperar um novo volume dando continuidade ao tema no futuro?

CB – Se esse primeiro volume tiver boa receptividade, creio que é possível. A editora acredita. Material, nós temos e seriam personagens espetaculares, como Sidney Magal, Zizi Possi, Emílio Santiago, Luiza Brunet, Gretchen, etc. Vontade, não falta…

Fonte: Brazilian Voice