Abra uma empresa de prestação de serviços. Pode ser de telefonia, TV por assinatura, cartão de crédito ou qualquer outra coisa. Tanto faz. Na seqüência, crie um sistema de telemarketing e contrate meia dúzia de garotas que saibam, pelo menos, ler. Compre no mercado paralelo uma lista de telefones de clientes em potencial, escreva uma cartilha cheia de gerundismos e bote as gurias para “estar ligando” o dia inteiro.
Ofereça promoções. Todo mundo gosta de pensar que está pagando menos, mesmo que você tenha dobrado o preço do serviço e oferecido um desconto de 30%. Não precisa avisar os clientes, mas as promoções devem estar sempre vinculadas a uma armadilha chamada fidelidade. Ou seja, depois dos primeiros 3 meses de descontos o cara estará preso e amarrado aos seus serviços para o resto da vida. E pagando o dobro.
É importante convencer os incautos a aceitar o débito automático, artifício que lhe permite fazer o que bem entende sem que haja a suspensão do pagamento. Detalhe fundamental para o sucesso do empreendimento.
Assim que você tiver conquistado uma razoável carteira de clientes, pode começar a relaxar. Não se preocupe em prestar os serviços para os quais foi contratado. O mais importante é ter uma boa central telefônica com gravações para o atendimento ao consumidor. A idéia é deixar as pessoas penduradas, digitando opções no telefone, perdidas num labirinto de múltipla escolha. Seja qual for o assunto, o tempo de espera para quem liga deve ser o mais longo possível. É preciso torrar a paciência do cliente. Logo no início, ameace com uma gravação dizendo: “nosso tempo de espera está elevado…”. Isso já elimina metade das ligações.
Quem insistir, deve passar por um interrogatório rigoroso que inclui números de RG, CPF, CEP, telefone residencial e data de nascimento. É a arte da embromação, um esquema capaz de sustentar uma chamada ad infinitum. Mas se alguém cumprir todas as tarefas dessa gincana e quiser ser atendido, não tem jeito. Uma de suas garotas terá que recitar o capítulo de tele-atendimento da cartilha e prometer que “vai estar providenciando”, “vai estar transferindo”, “vai estar” fazendo um monte de coisas. Mesmo que não faça.
Para o caso extremo de aparecer um chato, aquele tipo de sujeito que perde horas no telefone, leva tudo às últimas conseqüências e não desiste nunca, há um recurso infalível que é deixar cair a ligação.
E por aí vai. Se precisar de um sócio, me liga.
Fonte: Brazilian Voice