Nos cinco primeiros meses deste ano, 21,9 mil brasileiros foram detidos pelos agentes da fronteira após cruzar ilegalmente a fronteira do México com os Estados Unidos. O Brasil é o 8° país que envia imigrantes irregulares para os EUA pela fronteira, de acordo com a agência. Para se ter ideia do tamanho desse fluxo, é como se os agentes de migração dos EUA encontrassem, em média, 150 brasileiros por dia tentando acessar o país a pé.
De acordo com os dados da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA (CBP), foram registrados 180.034 migrantes, a maioria adultos solteiros, em maio. O número subiu ligeiramente de 178.854 em abril e 172.000 em março. O volume atual de brasileiros na rota migratória irregular supera, inclusive, a alta de 2019, quando 18 mil deles entraram irregularmente no país, o que justificou a decisão do então presidente Donald Trump de incluir os cidadãos do Brasil em um processo de deportação sumária, algo que não ocorria há décadas, diz a análise da BBC.
Foi o maior total mensal desde abril de 2000, com números crescentes vindos de fora da América Central. Esses números de 2021, ainda parciais, já são o maior da série histórica iniciada em 2007, de acordo com os dados do órgão de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos. Agora, o país é a oitava nação a mais enviar imigrantes irregulares aos EUA no mundo, à frente de países como a Venezuela e a Colômbia, por exemplo, e em patamar semelhante ao de Cuba. “Estamos testemunhando um dramático aumento da quantidade de brasileiros tentando acesso aos EUA pela fronteira com o México. Eles representam 5% de todas as detenções feitas em abril de 2021, por exemplo. E 60% deles estão em famílias completas, o que sugere ser um movimento de mudança definitiva de país”, afirmou Paul J. Angelo, especialista em migração e América Latina do Council on Foreign Relations à BBC News. Há 10 anos, em 2011, apenas 472 brasileiros foram detidos na mesma condição.
Os EUA vivem uma grave crise migratória, com mais de um milhão de pessoas detidas por agentes americanos apenas no ano fiscal de 2021. Em sua primeira viagem internacional, esta semana, a vice-presidente Kamala Harris esteve na Guatemala e exortou os migrantes a interromper o fluxo para o país. “Não venham”, disse Harris. “O Brasil, assim como a América Latina, passa por uma crise econômica, que se aprofundou com a pandemia, e provoca uma grande desesperança na população. Além disso, a chegada ao poder de (Joe) Biden acionou no imaginário dos migrantes uma noção de que esse seria um governo menos agressivo com quem quer migrar”, explica Sueli Siqueira, socióloga da Universidade Vale do Rio Doce e especialista em migração de brasileiros para os EUA. De acordo com Siqueira, o número de brasileiros que efetivamente entra em território americano sem ser notado pelos agentes de migração do país pode ser muito maior.
Apenas no último mês, 15 famílias do Brasil que ela monitorava em sua pesquisa acadêmica fizeram a travessia pelo México com sucesso. A entrada de brasileiros tem sido motivo de críticas de opositores ao governo Biden. “Nossas fronteiras estão abertas para o mundo todo! Por exemplo, entre 1,2 mil e 1,5 mil brasileiros viajam a Tijuana toda semana… mas não é para turismo”, afirmou em maio o congressista republicano Jody Hice, da Geórgia, em seu Twitter, em menção à cidade mexicana que faz fronteira com a Califórnia. Autoridades americanas informaram à BBC News Brasil que mantêm contato direto com autoridades brasileiras sobre o assunto. Há poucas semanas, a gestão Biden reiniciou voos com brasileiros deportados a Belo Horizonte, em uma continuidade com a política de Trump. // BBC Brasil.
Fonte: Brazilian Press