Acervo do artista Frans Krajcberg sofre com deterioração e infestação de insetos

O Sítio Natura, lugar onde viveu o premiado artista plástico Frans Krajcberg (1921-2017) e que abriga hoje o seu acervo, fica em Nova Viçosa, incrustado em área remanescente de mata atlântica, próximo ao Parque Nacional Marinho dos Abrolhos.

Nascido na Polônia e naturalizado brasileiro, ele ficou conhecido por obras que tinham como matéria-prima troncos e raízes calcinados. Escultor, fotógrafo, gravador e pintor, era também ativista ambiental, denunciava queimadas e desmatamento.

A “casa do Tarzan”, como Krajcberg chamava seu ateliê, fica no alto de um pequi. O local tem o quarto arrumado, livros e utensílios de higiene à vista no banheiro. No tronco estão as cinzas do artista, protegidas por um aquário.

Todo o caminho é cercado por mata e, após uma breve caminhada, o visitante chega à área que concentra as obras do escultor-ativista ambiental.

Em frente ao prédio que funciona como administração do lugar ocorre o primeiro contato com uma das partes destinadas a obras sobre Amazônia e queimadas, mas a reportagem não conseguiu se aproximar delas: a área era, em julho, uma das mais atingidas por uma infestação de pulgas. 

O governo da Bahia, detentor do acervo e do espaço após a morte do artista, informa que não se deve chamar o espaço de museu e que planeja retirar as obras de lá. O desejo de Krajcberg é que seu espaço virasse museu.

No centro do principal prédio há uma homenagem a Chico Mendes, seringueiro e ativista assassinado em 1988, em Xapuri, no Acre. A obra reproduz o processo de extração de látex da seringueira –mas o líquido que escorre dos sulcos na madeira é vermelho, e não branco. Vermelho, por sinal, é a cor que impera entre os grandes galhos e raízes retorcidos das obras. 

Pelos cantos desse prédio há obras já quebradas. O espaço sofre infiltrações. Cupins e brocas também ameaçam.

Dois homens que trabalhavam com Krajcberg são os responsáveis por manutenção e restauro. Evangelho Félix, 46, começou como pedreiro. “Ele não podia mais pegar no pesado, então era a gente que fazia. Mas as ideias eram dele. O olhar era dele”, diz. O outro ajudante é Oraldo do Nascimento Costa, 56, que viajava com o artista para procurar madeira. A reportagem presenciou uma das peças em processo de restauração, atacada por brocas.

Só é possível visitar o Sítio Natura a partir de agendamento por ofício ([email protected]). 

Segundo Marlene Figueredo Gonçalves, da administração, há um esforço para que o espaço esteja aberto ao público geral nas datas de aniversário e morte de Krajcberg.

João Carlos de Oliveira, diretor-geral do Ipac (Instituto do Patrimônio Artístico Cultural da Bahia), diz que o espaço é agressivo para esse tipo de obra. “É um meio ambiente extremamente nocivo pela presença da umidade, do clima e tudo mais.”

O local onde Krajcberg morou será destinado a contar a história dele e terá como peça central a preservação ambiental, diz o diretor. “Nossa expectativa é ter a obra salvaguardada e que tenha fruição em um equipamento que possa preservar este acervo.”

O inventário do acervo está pronto. O Ipac afirma que tem feito a gestão e acompanhamento de descupinização e retirada de pulgas.

Fonte: Folha de S.Paulo