As vantagens de beber em casa, no bar virtual

Quando esta desgraceira toda começou, pouco mais de um ano atrás, veio de imediato o uso abusivo e indiscriminado da expressão “novo normal” –para designar a possível acomodação dos hábitos às restrições impostas pela pandemia.

O termo foi tão martelado que, em tempo recorde, virou clichê, lugar-comum do tipo mais vicioso. Machuca os tímpanos de quem ouve e a retina de quem lê.

Treze meses depois, o “novo normal” sumiu, se escafedeu. Ninguém fala mais dele. Porque, eita!, ele se normalizou. E ninguém fala daquilo que é normal.

Depois de um brevíssimo intervalo em que sonhamos tirar o nariz para fora da porta, voltamos à abnegação do confinamento doméstico. Sem escola, sem parque, sem restaurante, sem bar.

Para quem é de bar, ficar sem beber com os amigos dá uma tristeza danada.

A gente se vira com encontros remotos, por aplicativos de teleconferência, como o Zoom. Cada um com seu copo. Cada um com a sua garrafa.

As desvantagens do bar virtual todo mundo conhece. Falemos das vantagens.

O banheiro –o seu banheiro– está ali ao lado. A cama também. Não precisa pegar táxi nem Uber. Você escolhe o que beber. Não tem o sujeito que leva a cerveja I e bebe a cerveja H. Não tem treta na hora de dividir a conta. Não tem embaço na hora de dizer tchau, é sói apertar um botão.

Para quem bebe profissionalmente, como eu, a teleconferência é uma ferramenta bem interessante.

Participei de três degustações de vinho desde o início da pandemia.

A primeira, em meados do ano passado, contemplava bebidas produzidas na Campanha Gaúcha, o pampa profundo. Tive o privilégio de participar remotamente desde o meu retiro temporário em Ubatuba –recebi as garrafas em São Paulo e as levei para lá.

Mais recentemente, estive em uma happy hour promovida pela vinícola Garzón. Pude provar vinhos da fantástica safra de 2020 (cuja colheita eu presenciei) e tive o prazer de reencontrar amigos que fiz no Uruguai –ainda que pela telinha do computador.

A última degustação digital foi de uma confraria criada pela importadora catarinense Decanter. Como tema, vinhos premiados de várias regiões da Itália. Eles tiveram o capricho de dividir o líquido em garrafinhas que foram entregues nas casas dos participantes.

Nessa modalidade de degustação, o anfitrião tem o trabalho e o custo da remessa das garrafas. Mas as vantagens também são muitas.

Quem produz vinho geralmente mora longe dos centros urbanos. Muitas vezes, em outro país. A degustação virtual poupa tempo de dinheiro de uma viagem profissional longa e cansativa. Poupa também o aluguel de um espaço para a realização da degustação física.

Óbvio que os encontros remotos nunca vão igualar as conversas cara a cara. Mas é bom se acostumar e ver vantagens. Porque já é normal e não deixará de ser.

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Fonte: Folha de S.Paulo