Casal de cicloviajantes cria guia da serra do Espinhaço, entre MG e BA

Após um período de férias (sem sair de casa, obviamente), esse blog volta para compartilhar os relatos de viagens de vocês, leitores. E, para deixar claro, jornadas passadas, que podem inspirar as futuras 😉

O casal Rafaela Asprino e Antonio Olinto vive como nômade há mais de 20 anos e, nesse período, tem trabalhado para divulgar o cicloturismo no Brasil.

De suas viagens pelo país e pelo mundo, Rafaela e Antonio desenvolveram guias de cicloturismo e documentários. A expedição pela serra do Espinhaço, entre Minas Gerais e Bahia, que eles narram abaixo, gerou o “Guia de Cicloturismo Serra do Espinhaço”.

Eu sei que em tempos de coronavírus não podemos viajar, e muitas vezes nem sair de casa. Mas ainda podemos relembrar momentos marcantes que tivemos em outras cidades. Que tal compartilhar sua história de viagem com o blog Check-in? É só escrever para o email [email protected].

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Muitas questões surgem quando nos propomos a viver experiências além daquelas que conhecemos. Medos, desejos, pré-conceitos, sentimentos que brotam e que, de certa forma, revelam nossa forma de ver o mundo.

Para lançar-se ao desconhecido é preciso coragem. Mas para viver essas experiências de forma plena, é preciso desprendimento, não só dos bens materiais que nos envolvem no dia a dia mas, principalmente, da nossa forma de ver o mundo.

Gostamos deste axioma que, de forma crítica, relativiza “verdades” sobre o mundo e também sobre nós mesmos.

Desde 2007, nossa proposta é a de criar uma rede de caminhos interessantes para viajar de bicicleta no Brasil. Em nosso último mapeamento para a elaboração do “Guia de Cicloturismo Serra do Espinhaço”, tivemos que aguçar nossos sentidos para compreender e viver toda a beleza de uma região que ainda preserva sua cultura e natureza, exótica para nós.

Quando começamos a nos aproximar das montanhas de Diamantina (MG), nos sentimos cada vez mais atraídos por suas formas únicas: áridas e espinhosas, as características visuais destas montanhas se mostram muito diferentes das da Mantiqueira e da serra do Mar, por exemplo.

A decisão de seguir rumo norte por esta verdadeira “espinha dorsal”, que corta o interior de nosso país, nos trouxe o sentimento de aventura, de estarmos desbravando um universo que, em última análise, já fazia parte de nosso imaginário e de nossa identidade como brasileiros.

Mas, o que seria aventura, afinal? Se fizermos essa pergunta, cada pessoa terá uma resposta diferente: desafio, superação, risco, enfrentar perigos…

O termo “aventura” tem origem do latim “ad venture”, ou seja, o que está por vir. A definição que mais gostamos é a que liga a aventura a atitudes novas, novos caminhos, algo que nos faça dar um passo adiante na linha de nossa “zona de conforto”.

Em nossos trabalhos de mapeamento na serra do Espinhaço, encontramos as principais características que nos atraem em uma aventura de bicicleta: lugares pouco visitados, tranquilos, que nos façam sentir livres.

E como a maior parte dos cicloturistas já percebeu, a grande viagem não está exatamente no destino, mas sim no próprio caminho. Conviver com as pessoas simples destes interiores tão longínquos e aprender sobre seu modo de vida, sua cultura e tradições sempre é a parte mais gratificante da viagem.

Mapa dos roteiros do “Guia de Cicloturismo Serra do Espinhaço” (Divulgação)

A desolação dos ambientes nos leva à introspecção e ao autoconhecimento. O desgaste físico e o calor nos fazem pensar nas razões que nos levaram a escolher viver tudo aquilo que envolve uma viagem de bicicleta como essa. A beleza exótica da paisagem e o carinho que recebemos deste povo tão sofrido pelas duras condições do semiárido realmente mudaram preconceitos e paradigmas que tínhamos sobre a região, realmente mudaram nossa forma de ver o mundo, e também de nos vermos no mundo.

Com um histórico de guias que passam desde o Rio Grande do Sul até o Nordeste, podemos dizer que aprendemos muito com esta última viagem e cada quilômetro percorrido nos fez ainda mais apaixonados pela beleza e pluralidade das pessoas e culturas existentes em nosso grande país.

“Guia de Cicloturismo Serra do Espinhaço”

Como na maior parte de nossos guias, o cicloturista poderá escolher os pontos de início e final, criando seu próprio circuito, fazendo as paradas nos locais que julgar mais interessantes.

Além do trajeto direto entre Diamantina e o Parque Nacional da Chapada Diamantina (999,11 km), o guia oferece como um bônus um circuito que faz a volta no Parque Nacional, com 203,14 km de extensão. Sendo assim, o cicloturista poderá montar um circuito de uma semana ou viajar por um mês inteiro, perfazendo todos os caminhos do guia.

Abaixo, alguns números do guia:

  • 1.232,12 km de caminhos planilhados entre 24 municípios de 2 estados, em 2 regiões do Brasil (Sudeste e Nordeste) | (228,21 km em pavimento e 1.003,91 km em terra)
  • Trajeto mais curto entre Diamantina (MG) e Mucugê (BA): 999,11 km | (159,71 km em pavimento e 839,40 km em terra) ascendência acumulada: 17.444 m / descendentes acumuladas: 17.277 m (sentido Sul/Norte)
  • Volta no Parque Nacional da Chapada Diamantina: 203,14 km com 3.110 m de altimetria | (74,53 km em pavimento e 128,61 km em terra)
  • Trajeto mais longo, incluindo visita às cachoeiras, parques e a volta no Parque Nacional da Chapada Diamantina: cerca de 1.280 km com mais de 22.300 m de ascendência acumulada
  • 1ª edição: 224 páginas, 56 mapas, 55 gráficos de perfil altimétrico e 81 planilhas

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Aviso aos passageiros 1: A cicloviajante Cândida Brenner de Azevedo já contou aqui como foi sua primeira viagem sozinha, em que pedalou mais de 30 dias pelo Reino Unido

Aviso aos passageiros 2: Confira algumas dicas para viajar de bicicleta e não cair em roubadas

Fonte: Folha de S.Paulo