Nove em cada dez resorts brasileiros já estão em funcionamento, segundo levantamento da Resorts Brasil (entidade do setor). Entre os hotéis com foco em viagens de negócio, 75% estavam abertos em agosto, de acordo com pesquisa do Fohb (Fórum dos Operadores Hoteleiros do Brasil).
A pandemia de coronavírus, que obrigou muitos estabelecimentos a fechar entre março e abril, também fez com que os locais tivessem que se adaptar para voltar a receber hóspedes. E algumas dessas alterações devem permanecer a longo prazo.
As rotinas de higienização foram reforçadas e se tornaram mais visíveis ao hóspede. Além de estar limpo, é importante ostentar a limpeza.
No hotel de luxo Renaissance, nos Jardins, em São Paulo, lacres nas portas dos quartos indicam que ninguém adentrou o ambiente após a higienização. No spa, funcionários com máscara, protetor para o rosto, luvas e avental abrem na frente do cliente pacotes com lençóis que serão usados.
O Ibis Budget Paulista, hotel econômico da rede Accor na região central de São Paulo, tem funcionários com máscara, medição de temperatura na entrada e toalhas embaladas em plástico.
Para conquistar a confiança do consumidor, alguns estabelecimentos buscaram grifes médicas para embasar seus protocolos, como a rede brasileira GJP Hotels & Resorts, que teve consultoria do Hospital Sírio-Libanês, e o hotel de luxo paulistano Palácio Tangará, que recorreu ao Hospital Albert Einstein.
“Faz toda a diferença quando falamos que os protocolos são do Sírio, as pessoas vão com mais tranquilidade para os hotéis”, diz Fabio Godinho, diretor-executivo da rede GJP.
Para Orlando Souza, presidente do Fohb, quem não tiver procedimentos claros, embasados por instituições de saúde, vai ficar fora do jogo.
“Empresas, operadoras de turismo e agências de viagem não podem mandar clientes para hotéis com processos desconhecidos”, afirma.
Mesmo depois que a pandemia passar, as rotinas de higiene devem continuar como um diferencial para as hospedagens, acredita Souza.
Espaços com área externa, que permitam atividades ao ar livre, também levam vantagem neste momento.
O Palácio Tangará, que fica ao lado do parque Burle Marx, na zona sul de São Paulo, volta a funcionar no dia 17 com um novo restaurante em local aberto, o Pateo do Palácio.
“A ideia surgiu no ano passado, como uma forma de aproveitar melhor um espaço existente, mas o que seria um luxo passou a ser uma necessidade”, diz Celso do Valle, diretor da hospedagem.
Se o hóspede preferir, também poderá fazer tratamentos do spa e atividades da academia ao ar livre.
Para Ana Biselli, presidente da Resorts Brasil, as áreas abertas dos resorts são uma vantagem para o segmento, mas é preciso redobrar a limpeza de itens que são compartilhados entre os hóspedes, como espreguiçadeiras e equipamentos esportivos, e monitorar o uso de máscaras.
“O foco da hotelaria é receber bem o cliente, mas agora também temos que colocar algumas condições para que ele possa usar o resort com respeito às outras pessoas”, diz.
Tecnologias para diminuir a necessidade de contato entre visitantes e funcionários já eram alvo de investimento do setor, mas agora passaram a ser um diferencial.
No Renaissance, clientes do programa de fidelidade da rede, Marriott Bonvoy, podem fazer check-in, check-out, conversar com funcionários, agendar serviços e até destrancar a porta do quarto com o aplicativo para celular, sem encostar em mais nada.
“Uma das coisas que deve ficar é o uso da tecnologia. Quem aprende a fazer tudo com o telefone não vai dar um passo para trás”, afirma Vanessa Martins, gerente-geral do Renaissance.
No quarto, os papéis usados para apresentar cardápios, horários de funcionamento e serviços foram substituídos por uma placa com QR Code, para o hóspede acessar com o celular.
A GJP, que já projetava uma plataforma para os hóspedes, acelerou o seu lançamento. A ferramenta permite fazer check-in e reservar restaurantes e atividades.
Em resorts ou hotéis urbanos, parte importante das receitas vinha de viajantes a negócio, hospedados para participar de eventos e reuniões, que muitas vezes aconteciam na própria hospedagem.
Esse segmento foi o mais afetado pela pandemia e o que deve demorar mais para voltar. De acordo com o Fohb, a ocupação dos hotéis associados, que trabalham com o público de negócios, foi de apenas 11% em julho, contra 60% em fevereiro.
Já que ainda há restrições para eventos presenciais, os hotéis estão tentando atrair clientes para reuniões e congressos digitais.
O Prodigy Santos Dumont, da GJP, no Rio, montou um estúdio para transmissões ao vivo. O mesmo fez o Renaissance, que transformou uma sala em estúdio com “chroma key”, parede verde sobre a qual são projetadas imagens. Ambos pretendem manter as estruturas depois da pandemia.
A adoção do home office também não passou despercebida. O Ibis Budget Paulista tem desde maio dois quartos adaptados para funcionar como escritório: em vez da cama, há uma mesa de trabalho.
Segundo Bruna Lombello, gerente-geral da unidade, a aceitação do público tem sido boa, e a unidade estuda manter o serviço por mais tempo.
No Tangará, casais com filhos que reservarem um quarto durante a semana poderão usar mais um apartamento, durante o dia, para trabalhar ou estudar, sem taxa extra.
Já a GJP criou um programa para incentivar estadas longas, com descontos para períodos maiores que oito dias, e inclui um kit com itens para quem precisa trabalhar ou estudar do quarto.
Para Biselli, o home office pode gerar um novo segmento de clientes para o setor, mas a continuação desses serviços depende da adoção do trabalho remoto pelas empresas depois da pandemia.
Fonte: Folha de S.Paulo