Na Serra da Mantiqueira, Caconde é boa opção para descansar e comer bem

Restrições a viagens de avião, necessidade de isolamento e de estar em lugares mais arejados fizeram o turista mudar seus hábitos. Como aponta pesquisa Datafolha, um terço dos paulistanos diz ter viajado na pandemia –e desse grupo, 71% foram de automóvel.

Nessa linha, conhecer lugares serranos, com bastante área verde e de fácil acesso por carro se tornou uma alternativa não apenas viável, como mais segura –e que continua igualmente interessante, mesmo com a reabertura da economia.

A região de Caconde (290 km de São Paulo), cidade de cerca de 20 mil habitantes na divisa do estado com Minas, é uma opção a ser explorada no circuito biocultural da Serra da Mantiqueira. A área montanhosa, já procurada por quem curte esportes de aventura, também recebe bem quem visa descansar e aproveitar a gastronomia.

Um roteiro de três dias é suficiente para conhecer mais a fundo a cidade que é margeada pelo rio Pardo, onde se encontra a usina hidrelétrica de Caconde, e por produtores de café.

​Aonde ir

O Mirante de Caconde pode ser uma das primeiras paradas. A 1.195 metros de altitude, com fácil acesso de carro, o local em formato de trevo de quatro folhas é todo místico e oferece uma vista linda da represa. Dá para passar bons momentos apreciando a paisagem ou meditando. E quem gosta de aventura pode contratar um voo livre partindo dali.

Seguindo, o turista não pode deixar de visitar as famílias produtoras da região, um dos pontos altos da cidade. Começando pela família Bazilli, que já serviu café para dois papas (Bento 16, em 2007, e Francisco, em 2013) em suas visitas ao Brasil.

Representante da quinta geração no comando do negócio, Roberta Bazilli recebe o turista em sua fazenda, um cafezal de 15 alqueires e 27 mil pés, e nela explica sobre cafés especiais e sua produção totalmente artesanal. “As pessoas vêm para ver como é a torra e provar, claro”, conta a proprietária, que estudou em São Paulo mas decidiu “fugir” da cidade grande e tocar o negócio da família em meio à natureza.

Também recebem o turista de braços abertos (e mesa montada) a família Fiorini, que produz vinho colonial. Pamela Fiorini, engenheira agrônoma e filha do proprietário, leva os visitantes para andarem pela plantação de uva, explicando detalhes da colheita e tirando dúvidas –e acompanhados por Havena, a cã da família e mascote do local.

Enquanto isso, seu Silvano, o pai, apronta a degustação farta de queijos e vinhos que é feita na recepção do sítio. Tudo muito caseiro e afetuoso. Os interessados podem comprar uma garrafa de vinho (quase diretamente da fonte) e também geleias artesanais. ​

A cerca de 20 minutos dali, no município vizinho de Divinolândia, vale visitar a igreja ecológica de são Francisco de Assis. A capela, cercada por muito verde, foi construída por moradores de um bairro rural e tem como base objetos reciclados e madeira de demolição.

Com sorte, o visitante vai encontrar o sorridente Rovílson –um senhor que cuida da igreja há 12 anos e que acredita ter sido curado de um câncer por intermédio de são Francisco de Assis. Desde então, como promessa, ele compra ração para os passarinhos que rondam o espaço.

“Dá uns R$ 100 por mês, e eu tiro sorrindo da minha aposentadoria”, conta Rovílson. “Bati na porta de são Pedro e ele disse que não era minha hora, então tenho que sempre agradecer.”

​Onde comer

Um dos restaurantes mais tradicionais da região é o Terra de Fogo, que faz parte do complexo da Pousada do Xerife (mais detalhes abaixo). Além de ter pratos típicos da região, como a tilápia, e muitas opções da cozinha mineira, o local tem a vantagem de ter uma vista de tirar o fôlego, já que está situado a mais de mil metros de altitude. Dá para comer literalmente olhando as montanhas e plantações da região.

Outra parada que deve ser incluída no roteiro, especialmente no almoço de domingo, é o alambique e restaurante Prosa Caipira. O espaço serve comida caipira em esquema de bufê (R$ 43 por pessoa), para comer à vontade, e é um alambique com certificação. A ideia é almoçar e visitar a produção da bebida, que é totalmente artesanal. E provar, é claro, as cachaças.

No jantar, a dica é a Pizza na Roça –uma pizzaria que fica onde o nome mesmo sugere, “na roça”, em um sítio em meio à natureza de Caconde. Lá, os donos recheiam as massas tipicamente italianas com toques caipiras, como a pizza Pepperoni da Roça (R$ 70), que leva salame picante de produção própria, ou a Pizza na Roça (R$ 64,50), recheada com mozarela, linguiça curada, ovos e milho.

Para descansar

Fique na Pousada do Xerife, localizada na beira da rodovia que liga as cidades de Caconde e Divinolândia, em São Paulo. O acesso é fácil, asfaltado, e a vista é grande atração, já que a pousada está a mil metros de altitude e fica de cara para a serra. De lá é possível fazer todos os passeios pela região.

Para a experiência ser completa, a dica é fazer a hospedagem em um dos chalés suspensos, construídos em madeira e com uma parede toda de vidro (R$ 400 a diária). É como se os hóspedes flutuassem pela montanha. Opção certa para acordar com a melhor vista ou apreciar o pôr do sol da cama, com a imensidão da Serra da Mantiqueira aos pés.

A jornalista viajou a convite da Pousada do Xerife

Fonte: Folha de S.Paulo