Os 15 melhores programas de TV para se sentir viajando

Não há como escapar dessa realidade: a maioria de nós não poderá viajar por muito, muito tempo, ainda.

Com certeza existem preocupações mais prementes —saúde pessoal, linhas de suprimento, manter a despensa abastecida, cuidar dos filhos—, mas a antecipação e a paz interior que uma viagem de férias, uma reunião familiar ou uma visita ao exterior propiciam agora desapareceram, e ninguém sabe por quanto tempo.

Não é nem seguro e nem possível (em cada vez mais casos) visitar a Noruega, a França ou seja lá que país, quando você está condenado a ficar em casa.

Mas talvez seja. Uma das delícias genuínas da era do streaming está no grande número de programas internacionais de TV que ela tornou disponível, e para consumo imediato. Acrescente uma dose de diários de viagem e você pode visitar o mundo todo, do conforto (e confinamento) de seu sofá.

Abaixo, alguns dos melhores programas para combater a inquietação causada pelo isolamento:

“Somebody Feed Phil”, Netflix

“Comida é o grande conector”, diz Phil Rosenthal, “e o riso é o cimento”. A série original da Netflix acompanha o produtor de TV em viagens a Lisboa, Buenos Aires e outros lugares do planeta, em uma tentativa de “encontrar a fonte” de algumas de suas comidas favoritas —e descobrir o mundo no processo. A maior parte dos momentos de humor da série surge do confronto entre a persona urbana e tipicamente americana de Rosenthal e a necessidade de aceitar algum desconforto que visitas a esse tipo de lugar requerem.

“Our Planet”, Netflix

O narrador David Attenborough e a equipe responsável por sua aclamada série “Planeta Terra” criaram essa minissérie especial de oito episódios para a Netflix com dois propósitos: celebrar o planeta em que vivemos e apontar para os desordenamentos e perigos que surgiram nos ecossistemas. Essa mensagem continua a ter importância vital, mas o senso de deslumbramento da série e suas imagens poderosas são o destaque; a série foi inteiramente registrada com câmeras 4K —as selvas da Indonésia, o deserto do centro da África, as florestas de Madagascar, o Oceano Atlântico e o Ártico—, todos visíveis em uma grande tela plana que leva o espectador o mais perto possível da experiência real.

“Sense8”, Netflix

Da trilogia Matrix a “A Viagem”, jamais faltou ambição às irmãs Wachowski, e essa série de duas temporadas que produziram para a Netflix tem locações exóticas como parte da premissa, que conecta oito desconhecidos em oito cidades do planeta com as vidas e mundos dos demais protagonistas. Ao contar a história, os realizadores cobriram tanto terreno quanto um programa de viagem faria, com imagens deslumbrantes de Mumbai, Londres, Seul, Nairóbi, Cidade do México, Berlim, Nápoles, Malta, Amsterdã, São Paulo e muitos, muitos outros lugares.

“The Night Manager”, Amazon Prime

Quando o roteirista David Farr e a diretora Susanne Bier adaptaram para a televisão o romance de espionagem que John Le Carré publicou em 1993, eles não só atualizaram a cronologia como alteraram as locações —a história enxuta e refinada foi filmada na na Suíça, em Marrakech e na Espanha (um cenário especialmente digno de menção é a linda casa de campo espanhola do vilão Hugh Laurie). Os puristas quanto ao trabalho de Le Carré podem objetar, mas os demais espectadores estarão ocupados demais curtindo o sabor europeu e a fotografia ensolarada da série.

“Killing Eve”, Globoplay​

Os filmes e programas de espionagem gostam de saltar de ponto a ponto do planeta, o que os torna especialmente apropriados para os espectadores que estão morrendo de vontade de viajar, e a adaptação muito bem sucedida da BBC America para os livros da série “Villanelle”, de Luke Jennings, embora subverta muitas das convenções do gênero espionagem, precisa também aderir a ela, mesmo que só para satirizá-las. Por isso, Eva Polastri, a agente do MI6 que protagoniza a história, deve ir de Londres a locações como a Toscana, Berlim, Bucareste, Paris, Amsterdã, Roma e outros lugares, em sua perseguição à assassina profissional Villanelle (Jodie Comer).

“Wallander”​, Claro Vídeo

A série de romances policias de Henning Mankell, que já tinha sido adaptada para o cinema e em uma série de TV sueca, foi de novo adaptada para a TV britânica, com o mais britânico dos atores, Kenneth Brannagh, no papel título. Mas a série se passa na Suécia, como os livros, e esse é um de seus pontos mais fortes. Mike Hale, crítico de TV do The New York Times, elogia a série pelo seu uso “do terreno plano e bruto da costa sul da Suécia, com seus campos reluzentes e árvores solitárias delineadas contra o azul acinzentado do céu”.

“Babylon Berlin”, Globoplay

Próxima parada: Alemanha, para essa série neonoir produzida com extravagância e passada na capital alemã pouco antes da ascensão de Hitler, durante a República de Weimar. A série —considerada a produção mais cara na história da TV alemã— usa pesadamente um set permanente no estúdio Babelsberg, mas também recorre a numerosas locações na cidade e no país, entre as quais o Theater am Schiffbauerdamm, a sede da prefeitura de Berlim, a Igreja Protestante do Redentor e o Museu Ferroviário da Baviera.

“Dark”, Netflix

Por outro lado, se você prefere as pequenas cidades da Alemanha, na era atual (bem, mais ou menos na era atual), faça uma visita à aldeia de Winden, que serve de cenário a esta série complicada e atmosférica. Narrando a história de quatro famílias e três gerações de tragédias —sequestros, suicídios, mortes— que muitas vezes convergem nos bosques escuros e assustadores da região, a série é apavorante o bastante para fazer com que o espectador se sinta bem por não sair de casa.

“Dix Pour Cent”, Netflix

A indústria cinematográfica francesa recebe o mesmo tratamento dado às suas versões americana e inglesa em seriados como “Segura a Onda” e “Extras”: uma sátira interna ao mundo do entretenimento que mistura estrelas reais às trapalhadas de uma agência de talentos que talentos altamente disfuncional, que parece estar desabando. O que a série revela é que a maquinaria que mantém as coisas em funcionamento por trás das cenas nada tem de bonita (muita mesquinharia, muita fofoca, muita deslealdade), mas ainda assim as telas mostram muito glamour e oferecem diversas oportunidades de curtir o cenário parisiense e o tapete vermelho dos poderosos.

“My Brilliant Friend”, HBO Go

Algumas séries flutuam por suas locações, fazendo apenas conexões ocasionais. Mas a adaptação da HBO para os romances napolitanos de Elena Ferrante não é só uma história que se passa na Itália dos anos 1950: finca raízes lá, e parece fortemente ciente de cada escadaria, de cada pátio, de cada apartamento no bairro operário que lhe serve de cenário. É uma locação, escreve James Poniewozik, em que “todos vivem amontoados e fofocas e bisbilhoteiros são inescapáveis”. Mas a série também oferece lindos vislumbres do mundo fora do bairro, de uma região mais rica de Nápoles ou de uma ilha de veraneio. É um lembrete bem vindo de que, quando as coisas parecem mais sombrias, ainda assim é possível escapar.

“Kingdom”, Netflix

E continuamos em nossa jornada através do mundo, chegando à Coreia do Sul e voltamos no tempo (ao século 16) para esta série original da Netflix, que mistura drama histórico, zumbis, espadachins, sátira política e (ops) doenças contagiosas —tudo isso em grande escala, com muita ação e grandes e coloridas sequências de ação coreografadas em lindas florestas e diante de paisagens deslumbrantes. Mike Hale escolheu a série como um dos melhores programas internacionais da década, e elogiou a “brilhante” obra pelos seus “valores de produção elevados”.

“Giri / Haji”, Netflix

Para essa série lançada recentemente (produzida pela BBC Two e distribuída pela Netflix), desembarcamos em Londres e Tóquio para uma trama intercultural sobre um detetive de Tóquio (Takehiro Hira) que tenta rastrear seu irmão criminoso no submundo do crime. Ajudando-o na busca —na medida do possível— há uma detetive da polícia londrina (Kelly MacDonald), cujo ânimo parece estar perpetuamente associado ao clima da cidade: tristonho e cinzento. Mas a série também captura de modo muito bonito o brilho das duas cidades à noite, quando os cidadãos respeitáveis deixam as ruas e as coisas começam a ficar realmente interessantes.

“Outlander”, Netflix

Há uma estranha circularidade em assistir (ou mais provavelmente rever) a adaptação para os romances de Diana Gabaldon por conta das locações —já que número considerável dos espectadores da série terminou por visitar o centro da Escócia só para conhecer em pessoa as locações do programa. E elas são lindas, colinas suaves, castelos veneráveis, pântanos nevoentos e florestas frondosas, oferecendo ainda mais escape do que já estamos desfrutando com a história de uma mulher da década de 1940 que inexplicavelmente vai parar na Escócia do século 18. E ela faz o que todos estamos tentando fazer agora: o melhor que pode.

“Black Sails”, Netflix

Quando essa história do coronavírus acabar, pode ser que não queiramos mais estar em terra, e não existe programa melhor para nos levar ao alto mar do que essa série de aventura e drama, quatro temporadas de aventuras de piratas que nos contam a história de Long John Silver. Ainda que se passe nas Índias Ocidentais em 1715, a série foi filmada na África do Sul, que serve como um similar convincente do Caribe. As águas são cristalinamente azuis e as praias poderiam ser irresistivelmente convidativas, se não fossem aqueles piratas incômodos.

“Os Crimes de Fortitude”, Globosat Play ​

E por fim chegamos ao topo do mundo —bem, o mais perto possível dele—, na ilha ártica de Fortitude, o cenário dessa série de aventura e mistério. Fortitude é um lugar fictício (seria coincidência demais que não fosse), e por isso as três temporadas da série foram rodadas na Islândia e Noruega; as geleiras frígidas e as montanhas recobertas de neve podem vir a calhar se ainda estivermos trancados em casa quando chegar o verão.

Tradução de Paulo Migliacci

Fonte: Folha de S.Paulo