Pista de skate com vista para o Coliseu é nova atração turística em Roma

Eles construíram e as pessoas vieram. Na maioria meninos adolescentes, de Roma Nord, Ostia, Prenestina, Monterotondo e outros subúrbios, caminhando para o centro de Roma de pranchas na mão, para fazer heelflips, airwalks e boardslides entre os obstáculos de um novo skatepark, que abriu ao público pouco antes do Natal.

“Estávamos desesperados; não tínhamos nada”, disse Lorenzo Ficini, 27, especialista em marketing e skatista que, como se tivesse ensaiado, abordou a repórter para dizer que queria agradecer à cidade pelo skatepark. Um triunfo espontâneo de relações públicas.

“Para nós, é a realização de um sonho –a estrutura é ótima. E depois”, disse Ficini, apontando com a cabeça para o sul, onde os arcos superiores do Coliseu emergiam sobre uma fileira de árvores, “temos isso. É maravilhoso.”

O parque de skate –situado no Monte Ópio, como essa área com vista para o anfiteatro do século 1o é conhecida desde os tempos antigos– é orgulhosamente elogiado pelas autoridades da cidade de Roma como o skatepark com a melhor vista do mundo.

“Pense num cenário para fotos”, disse Alessandro Onorato, membro do Conselho da Cidade de Roma responsável por turismo e eventos.

A localização única, disse ele, ajudou a convencer a World Skate, órgão regulador dos esportes, de que deveria realizar uma competição de street skate em Roma no verão passado. O evento atraiu centenas de atletas de ponta de todo o mundo, e o parque de última geração construído para a competição foi deixado para proveito dos romanos.

“Isso mostra como um evento único pode ter um impacto duradouro numa cidade”, disse Onorato.

Em uma tarde recente, o constante “baque, baque” dos skatistas em suas aterrissagens enchia o ar. “É uma grande conquista para nós”, disse Papik Rossi, 49, presença constante no circuito de skate de Roma. “Nunca tivemos um skatepark central.”

Ele disse que se apaixonou pelo skate depois de assistir ao clássico filme “De Volta para o Futuro”, de 1985, e, baixando a voz, acrescentou: “Eles vão negar, mas metade das pessoas que conheço começou pelo mesmo motivo”.

O novo parque é “bom para novos skatistas”, disse Rossi, mas ele ainda prefere as ruas.

Quando Rossi começou a andar de skate na década de 1980, praticamente todos os skatistas da cidade se chamavam pelo primeiro nome. Ugo Bertolucci, 49, também fez parte dessa cena inicial. Então, disse Bertolucci, os skatistas eram considerados “extraterrestres”, malucos em uma nação onde o futebol era rei. “Agora é um esporte olímpico”, ele encolheu os ombros.

Bertolucci lembrou que, antes da internet, era mais difícil aprender truques novos. Naquela época, skatistas como ele assistiam a fitas VHS de seus colegas nos Estados Unidos –o berço do skate–, “repetindo sem parar, até ficarem exaustos”.

Aprendendo na prática, as quedas eram inevitáveis. Hoje, um tipo mais formal de educação vem das muitas escolas de skate que surgiram em meio à crescente popularidade do esporte.

E é preciso estar disposto a arriscar multas, porque o skate é proibido nas ruas de Roma. Os redutos preferidos dos rebeldes: o Foro Italico, local do Estádio Olímpico, e o bairro periférico de EUR. Ambas são áreas da era fascista, cheias de pedra travertino de formas geométricas e extensões variadas –o sonho de qualquer skatista.

Esse sonho agora se deslocou para uma área que até poucos meses atrás provocava pesadelos no vereador Onorato.

Quando a administração de centro-esquerda de Roma chegou ao poder, em outubro de 2021, a área onde hoje fica o skatepark estava repleta de seringas e degradada, com bancos arrebentados.

Uma pista de skate mais modesta que existia foi vandalizada diversas vezes e depois fechada quando um menino se machucou, segundo um porta-voz da prefeitura. Jornais locais relataram a deterioração do local, com fotos mostrando pilhas de lixo e rampas quebradas.

“Sabe qual foi o meu maior pesadelo?”, perguntou Onorato numa entrevista por telefone. “Que nove meses atrás um correspondente estrangeiro visitasse a área, porque teria escrito um artigo dizendo que a 200 metros do Coliseu era uma área de tráfico e usuários de drogas.”

“Não é mais o caso”, disse ele.

O novo skatepark faz parte de um playground maior, e o projeto, que custou cerca de 200 mil euros (cerca de R$ 1,1 milhão) para ser construído, incluirá um pequeno campo de futebol, uma quadra de vôlei, um local com aparelhos de ginástica e uma área voltada para o Coliseu com tabuleiros de damas e xadrez. “Assim como o Central Park”, disse Onorato.

E o vandalismo, segundo as autoridades italianas, será coisa do passado. Antes, disse Onorato, a vigilância era desleixada e a área ficava praticamente por conta própria. Agora, a manutenção e a segurança do skatepark estão a cargo de uma empresa ligada ao governo, que organiza eventos desportivos e promove o bem-estar.

Ainda é cedo para dizer como o projeto vai se sair, mas as autoridades estão otimistas. Dizem que o skatepark é uma forma de tirar o pó da imagem mofada de Roma, que carrega o peso de sua história.

O skatepark também atende a uma demanda crescente na cidade, onde a popularidade do skate aumentou desde que o esporte foi apresentado na Olimpíada de Tóquio, disse Marla Ascone, 44, que, com o marido, Nicolò Mattia Cimini, 43, é proprietária e administra um skatepark privado em Roma. “Hoje em dia, quando saímos, muitas vezes encontramos skatistas que não conhecemos”, disse ela. “Antes, você conhecia todo mundo.”

Ao anoitecer, os skatistas fizeram suas últimas manobras. Um deles, Fabio Spalvieri, lamentou a falta de estruturas em sua cidade, Frosinone, cerca de 75 quilômetros a sudeste de Roma, o que o obriga a viajar. “Pelo menos é divertido”, disse.

Agora que o skatepark está pronto, Onorato disse ter certeza de que virão pessoas do exterior também, citando emails que recebeu de skatistas de todo o mundo intrigados com o local.

“Há todo um grupo de pessoas que, graças a este parque, virão a Roma não para ver a Capela Sistina ou a Basílica de São Pedro, mas porque querem rolar pelo parque”, conta. “Era isso que queríamos –comunicar ao mundo a imagem de uma cidade mais contemporânea.”

Fonte: Folha de S.Paulo

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