Por que as empresas e influenciadores de viagem ainda não incorporaram o antirracismo?

Quando George Floyd foi assassinado em 2020, o debate sobre questões raciais ganhou a internet, as rodas de conversa entre amigos, a mídia e chegou e nas empresas. Influenciadores postaram tela preta, fizeram lives, abriram espaço para pessoas negras ocuparem seus perfis. A onda passou, as discriminações raciais que agridem e matam cotidianamente não. No turismo, percebemos que o racismo estrutural não retrocedeu e as viagens continuam sendo um espaço de privilégio, acessado por um percentual de pessoas negras muito pequeno comparado a representação que temos na sociedade brasileira (56%).

Mais grave do que a baixa representatividade é lembrar que as pessoas negras tiram férias, mas o racismo não. Mesmo quando estão em seu momento de lazer negros e negras brasileiras sofrem discriminação racial por outros turistas ou pelas próprias empresas do setor que ainda se recusam a se capacitar ou realizar ações de combate ao racismo. O tema racial ainda aparece de forma tímida nos debates e precisa a cada evento ser pautado por movimentos de pessoas negras, como o coletivo de Afroturismo, que não o deixa ficar de fora de feiras como Abav, WTM, entre outras.

Quando chega novembro, mês em que é comemorado o Dia da Consciência Negra (20), em que ações antirracistas se tornam urgentes, nossas caixas de e-mail ficam cheias de pedidos de empresas culpadas por não terem feito nada o ano todo e preocupadas em parecerem diversas ao realizar alguma ação nesse mês. No turismo, no entanto, as grandes agências, redes hoteleiras e mesmo influenciadores de viagem parecem ignorar esse debate. Nem em novembro se preocupam em abordar a questão.

Então, por que as empresas e influenciadores de turismo ainda não incorporaram o antirracismo? Porque os brancos ainda não entenderam que é papel deles lutar contra o racismo; têm dificuldade de abrir mão de privilégios e espaços que sempre ocuparam; não estão dispostos a sair de suas bolhas, debater sobre o tema e promover pessoas e lugares de cultura negra; não tem doído no bolso dessas agências, hotéis, companhias de transporte e blogueiros continuar focando seus negócios e comunicações somente na branquitude.

Se a cara deles nem arde de vergonha de só reproduzir o mesmo discurso envelhecido do turismo, uma coisa tenho certeza: vão perdendo público e relevância à medida que cresce o número de pessoas negras conscientes e querendo se ver nesses espaços. Poderia nomear aqui cada uma dessas empresas e influencers para quem esse texto é endereçado, mas tenho certeza que a carapuça servirá e deixo uma pergunta urgente para eles: que tal aproveitar novembro para começar a realizar ações antirracistas e estendê-las como prática ao longo do ano? E, você, leitor, faça esse texto chegar a sua agência de viagem, companhia aérea ou de transporte, rede de hotel, influenciadores de viagem que segue e me responda: quem deve usar seu privilégio para promover a diversidade no turismo?!

Fonte: Folha de S.Paulo

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