São Paulo numa pizza de muçarela

Não, você não leu este texto antes. A coluna de duas semanas atrás tratava de pizza de calabresa. Aqui o assunto é totalmente diferente: pizza de muçarela. Talvez você ache que eu sou maníaco por pizza –com toda razão.

O motivo de eu retornar à pizza é um estudo sensacional feito por professores e alunos da Fatec Sebrae. Eles tomam a pizza por parâmetro para avaliar o poder de compra da população de várias partes de São Paulo.

Qual pizza é mais cara: uma de R$ 29 ou outra de R$ 51,80?

A resposta não é tão óbvia quanto parece. “Caro” pode ser uma noção relativa à soma de dinheiro que você tem para gastar.

No caso das duas pizzas acima, a primeira corresponde à média dos preços em Lajeado, bairro mais pobre da cidade, no extremo leste; a segunda é do distrito de Alto de Pinheiros, o mais rico da capital, na zona oeste.

Colocando-se a renda média e o preço da pizza na fórmula matemática do estudo, chega-se à seguinte conclusão: se o altodepinheirer fosse pagar, por uma pizza, a mesma fatia de seu orçamento que o lajeader paga, o preço seria R$ 131,60.

Invertendo-se o raciocínio, a pizza de Lajeado custaria 13,30 caso o valor correspondesse à mesma fração de renda paga pelo concidadão rico do oeste.

Ou seja, o pobre paga mais pela pizza. Nada surpreendente, mas poucas vezes desenhado de forma tão didática.

O estudo em questão se chama Índice Mozarela. Ele é meio que uma versão paulistanizada do Índice Big Mac, criado pela revista inglesa The Economist para comparar o poder de compra de vários países com base no preço de dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola e picles no pão com gergelim.

(Parênteses para dizer que o nome do índice é “mozarela” e a Folha me obriga a escrever “muçarela”, mas eu acho que deveria ser “mussarela”, como sempre foi nos cardápios das pizzarias. Escrevo “muçarela” sob protesto.)

Enfim, o tal índice, doravante denominado IM, mapeia as pizzarias de uma determinada região com base nas coordenadas do Google Maps e depois coleta o preço da pizza de queijo simples, sabor mais básico e menos caro.

Feita a média dos preços, ela é dividida pela renda média do distrito, e o quociente é multiplicado por 100. O número resultante é o índice em si.

O IM mais alto de São Paulo é 1,20 e está em Perus, zona norte, segundo distrito mais pobre da cidade. Lá, a pizza sai por R$ 36,30 – valor maior do que o pago pelos moradores da Vila Sônia (R$ 35,90), 16.º mais rico dos 96 distritos paulistanos, na zona oeste.

Ou seja, a pizza de Perus é a mais cara de todas em termos relativos. E a da Vila Sônia é a mais barata.

Em números absolutos, o maior preço está em Moema: R$ 62 por uma pizza de muçarela, um completo disparate. O menor se encontra no Capão Redondo, R$ 27. Mas adivinha quem gasta mais do orçamento? Sim, Capão! Os caponers têm IM 0,70, contra 0,59 dos moemers.

Aguardando ansiosamente aqui as revelações do Índice Coxinha e do Índice Brigadeiro de Leite Ninho.

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Fonte: Folha de S.Paulo

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