Vilarejo argentino é um dos lugares mais em conta no mundo para comer caranguejo gigante

Um voo de cerca de três horas e meia separa Buenos Aires, capital da Argentina, de Ushuaia, também conhecida como a cidade do “fim do mundo”. O título é disputado com a comunidade chilena de Puerto Williams, uma vila que cresceu ao outro lado da margem do canal de Beagle, mas a pendenga em nada tira o charme do destino argentino.

Entre os passeios alternativos —e criativos— de Ushuaia está a Ruta da Centolla (em português, a rota do caranguejo), acessível de carro a cerca de uma hora e meia mais ao sul, na comunidade de Puerto Almanza.

O trajeto passa pela lagoa Vitória e por uma paisagem que combina montanhas e as árvores bandeira, que levam este nome porque crescem dobradas devido ao forte vento, tudo misturado à neve e ao gelado mar do canal.

Em Puerto Almanza vivem cerca de 50 famílias que buscam sustento na pesca artesanal e no turismo. É um dos poucos lugares no mundo em que ainda é possível comer salmão, centolla e merluza austral selvagens.

José Luis Raipan, 45, dono do Onas Restaurante, recebeu seu nome em homenagem aos povos originários locais. Ele cresceu na região, acompanhando o pai pescador.

“Aqui não havia nada, a gente vivia acampando de ilha em ilha, indo em busca de onde estavam os peixes”, lembra.

Dois meses antes da pandemia, ele abriu para o público a pequena casa de madeira transformada em restaurante, junto com a esposa. “Trabalhamos somente uma temporada e logo tudo fechou, mas sobrevivemos”, fala.

No período, chegaram a atender 1.500 pessoas, “todos argentinos”, diz. Atualmente, José já tem reservas para toda a temporada de europeus que passam em cruzeiros pela região.

O público está quase sempre em busca da centolla, iguaria que costuma custar quatro vezes mais em qualquer restaurante de Ushuaia.

“A centolla vale 30 mil pesos em Ushuaia e aqui custa 8.000. Na Europa e nos Estados Unidos é muito mais caro”, defende José.

Os pratos de maior sucesso são o caranguejo na manteiga e gratinado, e as empanadas de caranguejo. Todos são feitos pela esposa de José, que segue pescando quando o tempo permite, na temporada de março a outubro, coletando quase 300 kg por mês.

“Eu não gosto dessa cozinha chamada gourmet. Já fui a restaurantes que têm muita cor e nada de sabor, você tem que comer e pagar o que vale”, avalia.

Além da rota da centolla, Ushuaia oferece belos passeios de uma paisagem preservada pelo frio e pela longitude. A cidade busca maneiras de investir em um turismo sustentável para unir o desenvolvimento à preservação da natureza.

Há atrativos como o hotel Arakur, localizado na Reserva Natural do Cerro Alarkén e de arquitetura inteligente para a preservação da área. Lá é possível agendar passeios ecológicos.

Foi ali, aliás, que Leonardo DiCaprio se hospedou quando, em busca de neve, mudou a locação do filme “O Regresso” do Canadá para o sul argentino. O hotel tem uma bela piscina de borda infinita com vista para as montanhas e um ótimo restaurante aberto ao público.

Na cidade também há o Trem do Fim do Mundo, um charmoso passeio que conta muito sobre como foi criada a cidade austral. Sua história é conectada ao presídio criado em 1986 —era para ele que inicialmente eram enviados os criminosos mais perigosos do país.

A cadeia chegou a abrigar 600 detentos. Hoje, abriga um museu que descreve como era a vida dos presos, além de um Museu Marítimo.

Os turistas não podem perder o tour pelo canal de Beagle para admirar leões-marinhos e o cormorão-imperiail, espécie que se parece bastante com os pinguins, na ilha do farol, nem o passeio pelo Parque Nacional de Tierra del Fuego.

Frequentado por quem quer praticar esportes ao ar livre, como trekking e longas caminhadas, o parque também é casa da única unidade dos correios argentinos, a unidade postal del Fim do Mundo, na enseada da baía de Zaratiegui.

Fonte: Folha de S.Paulo

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