A saúde de migrantes e refugiados na pandemia do coronavírus

Imagem: Acnur.

No contexto atual da pandemia do novo coronavírus, questões relacionadas aos migrantes e refugiados e sua interface com a saúde ganham destaque. Ora, as políticas de combate à crise sanitária têm afetado diretamente as migrações internacionais, restringindo fluxos de mobilidade humana, e fomentado violações dos direitos dessas populações.

Os entraves à migração regular e segura impostos pelo fechamento de fronteiras são, sem dúvida, pontos críticos no que diz respeito à precária situação desses grupos. Porém, não são os únicos. A pandemia vem, por exemplo, agravando expressões de xenofobia motivadas pela associação entre o “estrangeiro” e a doença, traço que acompanha a história das epidemias e reforça a discriminação à qual e reforça a discriminação à qual essas pessoas normalmente já estão submetidas.

Os dados recentes sobre o avanço do coronavírus no mundo também demonstram que a crise global de saúde exacerba desigualdades sociais de renda, raça e gênero, impactando as pessoas diferentemente. As condições de trabalho e moradia, o acesso à informação e ao cuidado médico, a existência de políticas públicas e de redes de proteção, tudo isso determina a vivência que cada um durante o momento atual.

Nesse sentido, a vulnerabilidade que marca a condição social das pessoas migrantes, refugiadas e deslocadas também faz com que elas sejam afetadas de forma desproporcional. Imagine a tragédia à que estão submetidos aqueles que se encontram nos centros de recepção e campos de refugiados, caso haja um surto de Covid-19 entre os abrigados. Há pessoas em campos de detenções fechados sem condições de cumprir as medidas de distanciamento social recomendadas e sem acesso a itens básicos de higiene, como sabonete e água potável.

A preocupação relacionada à forma como essa população está sendo afetada não se refere apenas a essas situações, infelizmente. Em grande medida, migrantes se inserem no mercado de trabalho dos países de residência de forma informal. E, quando formalizados, na maioria das vezes executam trabalhos considerados essenciais (nas áreas de limpeza, produção agrícola e alimentícia, construção civil etc) de forma precarizada. Ou seja, são funções supostamente menos qualificadas que não necessariamente garantem condições dignas. Resultado: eles ficam mais expostos ao vírus e têm condições menos adequadas para manutenção de sua saúde física, mental e econômica.

Além disso, muitos migrantes habitam em moradias pequenas e precárias, compartilhadas com um grande número de pessoas, o que compromete a possibilidade de isolamento e os deixa mais expostos ao novo coronavírus. No mais, a desinformação, agravada pela barreira da língua (sobretudo para aqueles recém-chegados) e o medo de acessar os serviços públicos (em especial para aqueles que se encontram indocumentados) são outros entraves comuns ao acesso à saúde.

Existem, portanto, singularidades relacionadas à trajetória de deslocamento e às condições de vulnerabilidade dos migrantes e refugiados que têm um efeito perverso. Sim, eles são impactados de forma ainda mais dura pela pandemia (junto a outros grupos historicamente mais vulneráveis).

No entanto, reconhecer os determinantes sociais dessas populações não significa reduzir a individualidade de cada migrante a esses aspectos. O adjetivo “vulnerável” não resume, de maneira nenhuma, as as múltiplas trajetórias dessas pessoas, profundamente marcadas por práticas de resistência, resiliência e solidariedade.

As vivências e saberes que elas carregam consigo podem apontar caminhos para todos nós que sofremos nesse momento de crise. Assim como os migrantes em deslocamento, nós estamos diante do desconhecido. Isso nos convida a uma transformação não apenas dos hábitos, mas a uma reinvenção dos arranjos sociais como um todo.

Texto: Ana Elisa Bersani, Alexandre Branco Pereira e Andressa Castelli* – Portal Veja-Saúde.

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Fonte: Gazeta News