As joias arquitetônicas da Ucrânia em risco com invasão russa

  • Rafael Abuchaibe
  • BBC News Mundo

Casa com Quimeras em Kiev

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Casa com Quimeras em Kiev

No dia em que as tropas russas invadiram a Ucrânia, o presidente do país, Volodymyr Zelensky, apareceu em um vídeo que circulou nas redes sociais posando em frente a uma estrutura grandiosa no centro de Kiev.

É a Casa com Quimeras, ou Casa Gorodetsky, uma impressionante construção projetada pelo arquiteto polonês Władysław Horodecki (conhecido por alguns como o “Gaudí ucraniano”, em alusão ao célebre arquiteto espanhol Antoni Gaudí) e erguida no início do século 20.

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Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, gravou um de seus primeiros vídeos em frente à Casa com Quimeras

Localizada em frente ao palácio presidencial na capital ucraniana, a estrutura é tão única que serviu a Zelensky para informar ao mundo que ele ainda estava na Ucrânia, apesar do perigo, e enfrentaria uma invasão de seu país.

Hoje, dias após o início da invasão e quando começam a ser vistas as imagens do drama humanitário que se desencadeou na ex-república soviética, alguns especialistas expressam preocupação com as muitas joias arquitetônicas que, assim como a Casa com Quimeras, dão à Ucrânia um lugar especial na arquitetura mundial.

“Acordo todas as manhãs com medo de que destruam a Catredral de Santa Sofia, no centro da cidade”, diz Titus Hawryk, que escreveu um dos livros mais reconhecidos sobre arquitetura ucraniana: “A arquitetura perdida de Kiev”, em entrevista à BBC News Mundo, o serviço de notícias em espanhol da BBC.

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Edifícios da era soviética em Kiev

A Catedral de Santa Sofia de Kiev, construída para rivalizar com a Santa Sofia de Constantinopla (“Hagia Sophia”, que foi catedral e depois mesquita, atualmente um museu) em Istambul, na Turquia, é um complexo de edifícios monásticos que adorna a capital ucraniana com suas cúpulas douradas que brilham ao sol.

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Praça da independência Maidan Nezalezhnosti em Kiev

Hawryk explica que a arquitetura da cidade em particular já foi vítima de ataques russos anteriormente. Algumas das antigas construções foram perdidas.

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Catedral de Santa Sofia, em Kiev

“Na década de 1930, os bolcheviques depredaram inúmeras estruturas e, durante esse ataque, destruíram a igreja de cúpula dourada que fora construída na Idade Média”, assinala Hewryk.

Além disso, explica o especialista, existem estruturas antigas na Ucrânia, como as igrejas de madeira, muito mais vulneráveis aos ataques durante o conflito.

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Igrejas de madeira do leste da Ucrânia

“Por exemplo, no leste da Ucrânia, onde estamos vendo tanta destruição, existem as antigas igrejas de madeira… A maioria delas foi construída por pessoas nos vilarejos e algumas atingiram alturas incríveis.”

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Kiev ao entardecer

Hewryk diz que alguns especialistas consideram o trabalho em madeira na Ucrânia um dos mais importantes da Europa.

A preocupação estende-se também aos centros históricos de algumas cidades do país, particularmente o de Lviv, considerado pela Unesco (braço da ONU para educação e cultura) como patrimônio mundial.

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Praça Rynok, em Leópolis

“Estamos profundamente preocupados”, diz Lazare Eloundou, diretor do Centro do Patrimônio Mundial da Unesco, à BBC News Mundo.

“No momento, o patrimônio de Kiev é extremamente importante. Tememos que a destruição seja grande e uma perda para a humanidade por sua importância social, por seus mosteiros, por todos os seus museus. Isso deve ser preservado por seu maravilhoso valor mundial”.

Soma-se a isso o risco enfrentado pelas estruturas construídas durante a era soviética, apesar da ironia que isso possa representar.

“Escrevi um artigo sobre Kharkiv na década de 1920. Durante os tempos soviéticos, os russos mudaram a capital de Kiev para Kharkiv. E começaram a construir um complexo de prédios governamentais. Ele é único na Europa porque se trata de uma série de estruturas construtivistas”, diz Hewryk.

“Comecei dizendo que minha primeira preocupação do dia era Hagia Sophia, porque minha segunda preocupação é essa estrutura construtivista da década de 1920.”

Eloundou argumenta, por fim, que qualquer “esforço intencional para destruir o patrimônio cultural pode ser considerado um crime de guerra”.

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Fonte: BBC