Campos de detenção: por que China foi punida por seu tratamento a muçulmanos

Trabalhadores caminham perto da cerca o que é oficialmente conhecido como um centro de educação de habilidades vocacionais em Dabancheng, China, em 4 de setembro de 2018.

Crédito, Reuters

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A China criou campos de detenção de minorias na região de Xinjiang

Países ocidentais impuseram sanções a autoridades na China por abusos de direitos contra o grupo minoritário uigur, de maioria muçulmana.

A China deteve uigures em campos na região noroeste de Xinjiang, onde surgiram alegações de tortura, trabalho forçado e abuso sexual.

As sanções foram introduzidas como um esforço coordenado pela União Europeia, Reino Unido, Estados Unidos e Canadá.

A China respondeu com suas próprias sanções às autoridades europeias. O país negou as acusações de abuso, alegando que os campos são instalações de “reeducação” usadas para combater o terrorismo.

No entanto, o secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, Dominic Raab, disse que o tratamento dado aos uigures equivale a “violações terríveis dos direitos humanos mais básicos”.

A União Europeia não aplicava novas sanções à China por abusos dos direitos humanos desde o Massacre da Praça da Paz Celestial, em 1989, quando tropas em Pequim abriram fogo contra manifestantes pró-democracia.

O que sabemos sobre as sanções?

As sanções, incluindo proibições de viagens e congelamento de bens, afetam altos funcionários em Xinjiang, que foram acusados ​​de graves violações dos direitos humanos contra muçulmanos uigures. São eles:

  • Chen Mingguo, diretor do Departamento de Segurança Pública de Xinjiang, a força policial local
  • Wang Mingshan, membro do comitê permanente do Partido Comunista de Xinjiang, que, segundo a União Europeia, “detém uma posição política importante e encarregada de supervisionar” a detenção de uigures
  • Wang Junzheng, secretário do partido do Corpo de Produção e Construção de Xinjiang (XPCC, na sigla em inglês), uma organização econômica e paramilitar estatal
  • O ex-vice-chefe do Partido Comunista em Xinjiang, Zhu Hailun, acusado de ter ocupado uma “posição política chave” na supervisão do funcionamento dos campos
  • O Departamento de Segurança Pública do Corpo de Produção e Construção de Xinjiang, responsável pela implementação das políticas XPCC em questões de segurança, incluindo a gestão de centros de detenção

Raab classificou o abuso de muçulmanos uigures em Xinjiang como “uma das piores crises de direitos humanos de nosso tempo”.

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“Agindo com nossos parceiros, 30 no total, estamos enviando a mensagem mais clara ao governo chinês de que a comunidade internacional não fará vista grossa a violações tão graves e sistemáticas de direitos humanos básicos, e que agiremos em conjunto para responsabilizar os culpados”, disse ele a parlamentares.

Em um comunicado, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, disse que a China está cometendo “genocídio e crimes contra a humanidade”. Os EUA disseram que sancionaram Wang Junzheng e Chen Mingguo por sua conexão com “detenção arbitrária e abusos físicos graves, entre outros abusos graves dos direitos humanos”.

O Ministério das Relações Exteriores do Canadá disse: “Cada vez mais evidências apontam para violações sistemáticas dos direitos humanos por parte das autoridades chinesas”.

As sanções ocorreram em meio ao crescente escrutínio internacional sobre o tratamento dado pela China aos uigures.

Do que a China é acusada?

Estima-se que mais de um milhão de uigures e outras minorias foram detidos em campos em Xinjiang, que fica no noroeste da China e é a maior região do país. Como o Tibete, a área é autônoma, o que significa, em teoria, que tem alguns poderes de autogoverno.

Mas, na prática, ambos enfrentam grandes restrições por parte do governo central chinês.

Os uigures que vivem na região falam sua própria língua, semelhante ao turco, e se consideram cultural e etnicamente próximos das nações da Ásia Central.

O governo chinês foi acusado de realizar esterilizações forçadas em mulheres uigures e de separar crianças de suas famílias.

Uma mulher testemunhou que as mulheres eram retiradas de suas celas “todas as noites” e estupradas por um ou mais homens chineses mascarados. Um ex-guarda de um dos campos, que falou sob condição de anonimato, descreveu a tortura e a privação de comida de presidiárias.

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Tursunay Ziawudun passou nove meses em um campo de detenção em Xinjiang em 2018

Com a cobertura sobre uigures e coronavírus, a China proibiu as transmissões de TV da BBC World News no país.

O país inicialmente negou a existência dos campos, antes de defendê-los como uma medida necessária contra o terrorismo. E negou as acusações de abusos de direitos humanos.

Como a China respondeu às sanções?

A China disse que as sanções (inicialmente anunciadas pela União Europeia) eram “baseadas em nada além de mentiras e desinformação”.

O país disse que iria sancionar 10 pessoas e quatro entidades na Europa “que prejudicam gravemente a soberania e os interesses da China e espalham mentiras e desinformação maliciosamente” em resposta. As pessoas afetadas pelas sanções chinesas estão proibidas de entrar no país ou fazer negócios com ele.

O político alemão Reinhard Butikofer, que preside a delegação do Parlamento Europeu para a China, está entre as autoridades de maior destaque na lista da China. Adrian Zenz, um dos principais especialistas nas políticas da China em Xinjiang, e o acadêmico sueco Bjorn Jerden também foram alvos.

Zenz relatou extensivamente sobre supostos abusos em Xinjiang. Seu relatório do ano passado sobre a esterilização forçada de uigures motivou apelos internacionais para que as Nações Unidas investigassem. A mídia estatal o chamou de uma “figura infame anti-China” e o acusou de espalhar mentiras.

O parlamentar holandês Sjoerd Sjoerdsma, que foi incluído na lista de sanções da China, disse que as medidas retaliatórias “provam que a China é sensível à pressão”.

“Que isso seja um incentivo para todos os meus colegas europeus: falem”, escreveu ele no Twitter.

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Fonte: BBC