Ghislaine Maxwell: o que julgamento significa para príncipe Andrew

  • Dominic Casciani
  • BBC

Príncipe Andrew olha para baixo, com olhar sério

Crédito, Getty Images

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O príncipe (foto) diz que só conheceu Epstein por conta de sua amizade com Maxwell

A socialite britânica Ghislaine Maxwell foi condenada na quarta-feira (29) por agenciar adolescentes para serem abusadas pelo financista Jeffrey Epstein — ele foi condenado por abuso sexual anteriormente e morreu em 2019.

Quais podem ser as implicações da condenação de Maxwell para seu antigo amigo, o príncipe Andrew, duque de York e terceiro filho da rainha Elizabeth 2ª?

A sentença da socialite veio em meio à preparação dos advogados do príncipe Andrew para comparecerem ao mesmo tribunal federal em Manhattan, Nova York (EUA), para defendê-lo em uma ação indenizatória movida por uma das vítimas de Epstein contra o membro da realeza britânica.

Então, como a condenação de Maxwell pode afetar a situação jurídica do príncipe?

Ghislaine Maxwell é quem estava em julgamento, mais ninguém

Crédito, Reuters

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Ilustração de Ghislaine Maxwell no julgamento

Algo óbvio e importante para se ter em mente é que a condenação de Maxwell se aplica apenas ao que ela fez. Ninguém mais estava sendo julgado.

O duque de York não enfrenta uma ação criminal nos Estados Unidos. Ele está sendo separadamente processado por Virginia Roberts Giuffre, uma das vítimas de Epstein.

Na verdade, o julgamento atual não reuniu qualquer evidência até agora de que o príncipe Andrew esteve supostamente envolvido em delitos.

Mas agora, uma grande e antiga amiga dele é considerada uma abusadora condenada

Durante sua entrevista para a BBC em 2019, o príncipe Andrew disse ao programa Newsnight que seus laços com Epstein foram fruto de sua amizade de longa data com Ghislaine Maxwell.

O príncipe disse que conheceu Epstein em 1999, e sua proximidade com Maxwell foi o único motivo para essa aproximação. Entretanto, durante todo o julgamento, acusadores apontaram para Maxwell não como uma ajudante involuntária de Epstein, mas uma peça fundamental em seus planos para cometer abusos.

Se Ghislaine Maxwell tivesse sido absolvida, isso poderia ter minado imediatamente as acusações de Virginia Roberts Giuffre, porque ela alega em documentos judiciais que a socialite britânica “passou anos supervisionando e gerenciando a rede de tráfico sexual de Epstein e recrutando ativamente meninas menores de idade, incluindo [ela mesma]”.

Assim, a condenação recente pode impulsionar os advogados de Giuffre a ressaltar as acusações contra o príncipe Andrew, dizendo que agora não restam dúvidas de que Maxwell teve um papel nos abusos cometidos por Epstein.

O relacionamento do duque de York com Ghislaine Maxwell é agora tão importante para as evidências no caso de danos quanto seu relacionamento com Epstein, que se suicidou na prisão em 2019.

Epstein não era apenas um conhecido

Os argumentos de Giuffre enfatizam repetidamente que Epstein era próximo do duque a ponto de comparecer à sua festa de 40 anos e a ter seus contatos pessoais.

Crédito, US Attorney’s Office SDNY

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Epstein e Maxwell retratados em cabana em Balmoral

Durante o julgamento, os promotores apresentaram novas fotos de Maxwell e Epstein para enfatizar o quão próximos eles eram — a natureza da relação era incerta, mas os dois já namoraram. Uma dessas imagens mostra a dupla condenada relaxando em uma cabana de madeira dentro da enorme propriedade privada da rainha: Balmoral, na Escócia.

A foto foi tirada em 1999, quando o príncipe Andrew convidou Maxwell e Epstein para ficar no castelo.

Apesar de terem sido recebidos em um dos lugares mais protegidos, seguros e isolados do Reino Unido, isto não é prova de que o duque tenha tido envolvimento ou conhecimento de delitos.

Virginia Giuffre não apareceu no tribunal

Uma das testemunhas contra Maxwell, conhecida apenas como “Carolyn”, disse no julgamento que havia sido apresentada a Epstein por Virginia Roberts. E um ex-funcionário de Epstein se lembra de ter visto Giuffre na propriedade do bilionário na Flórida. Então, por que ela não apresentou provas no julgamento desta semana?

Bem, em primeiro lugar, ela não foi citada na acusação como uma das vítimas de abuso no julgamento de Maxwell. Portanto, não havia necessidade legal de o júri considerar o que ela tinha a dizer.

Mas ela ainda assim poderia ter sido chamada. Os promotores permaneceram calados quanto a isso — alguns repórteres em Nova York especulam que Giuffre não foi chamada porque poderia acabar desviando o foco do julgamento ou porque advogados de Maxwell teriam localizado supostas inconsistências em seus relatos na mídia.

Também é possível que os promotores, lutando contra as diferentes leis estaduais dos EUA em relação à idade de consentimento, a mantiveram fora para simplificar o julgamento.

Mas, como disse o jornal New York Times, sua história pairou sobre o julgamento. Parece que suas palavras não serão testadas até que ela apresente provas em sua ação indenizatória contra o príncipe Andrew.

Os promotores apresentaram evidências sobre as atividades de Epstein na casa de Maxwell em Londres — onde Giuffre alega que mais tarde foi traficada para o príncipe Andrew, uma acusação que o príncipe nega veementemente.

As provas que o júri ouviu não se relacionam a essa alegação específica.

A testemunha conhecida apenas como “Kate” disse que Maxwell fez amizade com ela em 1994 e a convidou para um chá em sua casa em Belgravia, Londres. Maxwell então a teria preparado para um encontro sexual com Epstein.

Kate teria sido levada posteriormente para a casa do financista na Flórida, EUA, onde Maxwell teria dado a ela um uniforme colegial para vestir.

O testemunho de Kate foi uma tentativa evidente dos promotores demonstrarem como Maxwell identificava garotas para satisfazer as demandas de Epstein.

Mas Kate estava acima da idade para consentimento no Reino Unido e, portanto, o juiz decidiu que o júri não poderia considerar sua história como prova de um crime cometido por Maxwell.

Mais importante para o duque, a história de Kate não deu qualquer indício de que Maxwell traficava garotas para os amigos de Epstein.

Crédito, Virginia Roberts

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Virginia Giuffre disse que pediu a Epstein para tirar esta foto dela com o príncipe Andrew e Maxwell; o duque de York disse que não se lembra dela ou do momento da fotografia

Embora o mundo tenha visto a fotografia do duque ao lado de Virginia Roberts na casa de Ghislaine Maxwell, o príncipe Andrew só apareceu nas evidências apresentadas por Kate de forma periférica, quando ela disse que Maxwell mencionava o nome dele e de outras pessoas ricas e famosas que conhecia.

O príncipe Andrew confirmou ao Newsnight que esteve na casa de Maxwell em Belgravia anteriormente — mas disse que não se lembrava de ter conhecido Giuffre ou de ter tirado uma foto.

Houve menção ao ‘Lolita Express’

Larry Visoski, piloto de longa data de Epstein, disse no julgamento que havia levado o príncipe Andrew e outras celebridades para destinos luxuosos no jatinho do bilionário. O duque de York havia dito anteriormente ao Newsnight que estivera naquela aeronave.

Acusadoras e acusadores de Epstein dizem que o jato era um “Lolita Express” — um meio de transportar seus confidentes e adolescentes sob seu controle.

Se a ação indenizatória for adiante, os registros de voos podem ser uma evidência importante para qualquer um dos lados, dependendo do que eles revelarem sobre quem foi transportado, para onde e quando.

Uma das acusadoras de Maxwell, “Jane”, lembrou-se ter estado no jato com o duque de York, mas não o acusou de delitos.

O júri também absolveu Maxwell de seduzir Jane a viajar da Flórida a Manhattan para que Epstein pudesse fazer sexo com ela.

Crédito, News Syndication

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Príncipe Andrew e Jeffrey Epstein no Central Park, Nova York, em 2010

A condenação de Maxwell tem implicações para a Scotland Yard?

A Polícia Metropolitana (Scotland Yard) decidiu até agora não tomar ação sobre as alegações de crimes no Reino Unido relacionadas a Jeffrey Epstein. Nunca foi confirmado se a polícia examinou ou não as alegações de Giuffre contra o príncipe Andrew, o que corresponde a um padrão antigo da polícia de raramente confirmar a identidade de qualquer pessoa viva que apareça em suas investigações.

A questão é se a Scotland Yard será obrigada a alterar essa posição, dada a condenação criminal de Maxwell em um caso que incluiu eventos em Londres.

Dado que as evidências de Kate relacionadas a Londres não cobriam um crime e eram relacionadas apenas ao financista morto e a Maxwell, é difícil imaginar a polícia mudando de posição agora.

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Fonte: BBC

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