Olimpíada de Tóquio 2021: por que a Rússia não pode competir, mas seus atletas podem

Atletas russas da ginástica

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Atletas russas venceram os EUA na ginástica feminina durante as Olimpíadas de Tóquio

Quando os atletas russos sobem ao pódio depois de ganhar um ouro olímpico em Tóquio, eles ouvem um concerto para piano de Tchaikovsky, em vez do hino nacional da Rússia. Eles também não podem agitar a bandeira do país ou competir em nome de sua nação.

Essas sanções são uma resposta ao recente histórico de uso de substâncias proibidas por atletas da Rússia.

Por quatro anos, o país operou um programa de doping patrocinado pelo Estado. Ele foi usado na “grande maioria” dos esportes olímpicos de verão e inverno. Também houve adulteração de testes nos Jogos de Inverno de 2014 de Sochi, na Rússia, onde os anfitriões terminaram no topo do quadro de medalhas.

Desde então, os atletas russos enfrentam restrições nos Jogos Olímpicos. Em Tóquio, mais de 300 atletas de 30 modalidades estão competindo sob o nome de Comitê Olímpico Russo (ROC), que até esta segunda-feira era o quinto no quadro de medalhas, com 12 de ouro e 50 no total.

O sucesso dos atletas não caiu bem para alguns de seus concorrentes, que acreditam que a Rússia não deveria ter permissão para competir nos Jogos.

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Ginastas russas comemoram sua primeira medalha de ouro olímpica na modalidade desde 1996.

O nadador americano Ryan Murphy disse que a final dos 200 metros costas na sexta-feira “provavelmente não foi limpa”, depois que ele perdeu o título olímpico para o russo Evgeny Rylov.

O nadador britânico Luke Greenbank, que ganhou o bronze naquela corrida, disse: “É obviamente uma situação muito difícil não saber se quem você está competindo está limpo (no uso de substâncias proibidas)”.

“Obviamente, há muita mídia em torno da federação russa chegando às Olimpíadas. É frustrante ver isso como um atleta, sabendo que há um programa de doping patrocinado pelo Estado em andamento e que mais poderia ser feito para resolver isso”, completou Greenbank.

Um dia antes, a remadora americana Megan Kalmoe disse que “ver uma equipe que nem deveria estar aqui sair com uma prata é uma sensação desagradável”. Sua fala ocorreu após a medalha de prata da dupla Vasilisa Stepanova e Elena Oriabinskaia.

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A esgrimista da equipe ROC, Sofya Pozdnyakova, comemora a medalha de ouro em Tóquio

Enquanto Murphy mais tarde rebateu seus comentários, dizendo que estava falando sobre doping em geral, Rylov disse que o americano tinha direito de ter essa opinião, dado o passado de doping da Rússia.

Já o ROC tuitou que seus atletas estavam em Tóquio “com todo o direito”. “Quer alguém goste ou não, você precisa saber como perder. Mas nem todo mundo precisa”, disse o órgão.

Enquanto isso, o tenista Daniil Medvedev reagiu com raiva quando lhe perguntaram se os atletas russos nas Olimpíadas carregavam o “estigma de trapaceiros”.

“É a primeira vez na minha vida que não vou responder a uma pergunta e você deveria estar envergonhado. Não quero vê-lo novamente”, disse o número dois do mundo ao repórter que o questionou sobre o assunto.

‘O debate foi difícil’

O escândalo de doping veio à tona em 2014 após uma investigação de uma rede de TV alemã. Dois anos depois, um relatório encomendado pela Agência Mundial Antidoping (Wada) encontrou evidências de adulteração nos Jogos de Inverno de Sochi.

O estudo revelou que houve uso generalizado de drogas para melhorar o desempenho e doping sanguíneo praticado por atletas russos do atletismo. O esquema foi incentivado e encoberto por técnicos, médicos e autoridades estatais e esportivas, aponta o documento.

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O medalhista de ouro Evgeny Rylov, da Rússia, ganhou a prova na final dos 200 metros costas, na natação

A Rússia foi praticamente proibida de competir na Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016, e apenas aqueles que conseguiram provar estarem limpos foram autorizados a participar dos Jogos de Inverno de Pyeongchang, na Coreia do Sul, em 2018. Porém, os atletas tiveram que competir sob uma bandeira neutra.

Sob a proibição atual da Wada, a Rússia não pode competir em grandes eventos esportivos. Tóquio é agora a terceira competição em que os atletas enfrentam restrições.

Os competidores da ROC não podem usar a bandeira russa, mas podem usar as mesmas cores – azul, vermelho e branco – desde que suas roupas não tenham a palavra Rússia ou qualquer outro emblema nacional.

Por exemplo, a equipe de natação artística foi proibida de incluir um urso em seus trajes de banho, já que o Comitê Olímpico Internacional (COI) o considerou intimamente associado à Rússia. Nem puderam usar inteiramente a música With Russia from Love durante sua performance, pelo mesmo motivo.

Apenas 10 atletas de atletismo representaram o ROC em Tóquio.

O presidente da World Athletics, Sebastian Coe, disse nesta semana que a Rússia – cuja federação de atletismo continua suspensa – deveria ser grata por ter atletas ainda em disputa, dado seu longo histórico de “ofuscamento” e pouco progresso em relação ao doping.

“O debate em torno da mesa foi bastante difícil”, disse ele. “Houve colegas meus que questionaram se algum atleta neutro deveria estar lá. Foi decidido pela força-tarefa que 10 era um número apropriado e o conselho endossou isso.”

Nesses Jogos, a Agência Internacional de Testes (ITA) – um órgão independente do COI – está supervisionando todos os controles de doping.

O ITA disse na sexta-feira que mais da metade dos 5.000 testes de doping esperados em Tóquio 2020 já foram realizados, mas não há informações ainda sobre nenhum caso positivo.

O órgão disse que os esportes mais testados até agora foram as modalidades aquáticas, além do remo, atletismo, ciclismo e levantamento de peso, enquanto as equipes mais testadas são competidores dos Estados Unidos, Austrália, China, Grã-Bretanha – e do próprio Comitê Olímpico Russo.

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Fonte: BBC