O Réveillon do f***-se

Adoraria fechar este ano com a certeza de que aprendemos algo mais do que fazer pão ou poses de yoga pra postar no Instagram. Mas, infelizmente, o que temos visto na última semana deixa claro que boa parte da sociedade brasileira vai sair de 2020 do mesmo jeito que entrou: olhando pro próprio umbigo e com a tecla f***-se apertada até o talo.

O lugar para onde resolvi viajar teve poucos casos de covid-19 e eu venho de uma zona crítica? F***-se! O meu (só o meu!) ano foi terrível e a minha saúde mental precisa disso.

O vilarejo no confins da Bahia para onde vou não tem nem um posto de saúde pra população local? F***-se! Se der ruim eu volto e corro pro Einstein.

As festas, mesmo com “protocolos”, têm potencial de ser eventos “supertransmissores”? F***-se! Se o Neymar e os bacanas de Trancoso podem, não vou ser idiota de ficar em casa isoladão!

A prefeitura da cidade do litoral aonde vou chegou a implorar para que as pessoas não viajassem pra lá porque os casos de coronavírus já estavam fora de controle ANTES das festas? F***-se! Eu só tenho esta época pra viajar e preciso pular as sete ondas.

Os Estados Unidos tiveram um pico de contágios sem precedentes depois das celebrações de Ação de Graças (entre 3 e 10 de dezembro, 15.966 pessoas morreram e 1,4 milhão recebeu diagnóstico positivo da doença, segundo reportagem do UOL)? F***-se! Deus é brasileiro.

A soma do Natal + Réveillon + verão pode levar os hospitais (inclusive privados) a um colapso? F***-se! A vacina tá aí (#sóquenão).

Mesmo antes do Réveillon, as UTIs de São Paulo já estão com 61,4% de ocupação? F***-se! Eu sou jovem e tenho histórico de atleta!

A Europa está praticamente confinada neste fim de ano pra tentar deter a segunda onda, que também já chegou ao Brasil? F***-se! No Brasil o Réveillon é muito mais importante!

Ontem o Brasil voltou a registrar mais de 1000 mortos em 24h por covid-19? F***-se! Todo mundo vai morrer, já dizia o nosso presidente.

Fonte: Viagem e Turismo