Por que NJ e NY são o epicentro do coronavírus nos EUA?

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Especialistas em saúde pública disseram que vários fatores influenciam os números vertiginosos da região metropolitana de Nova York

Na sexta-feira (27), New Jersey tinha o 2º maior número de casos confirmados de coronavírus nos EUA, com 8.825

A pandemia de coronavírus tomou conta dos EUA e as frentes de batalha contra a doença mudam diariamente. Entretanto, semana passada, uma coisa ficou bastante clara: New Jersey e Nova York estão no coração do surto no país. Na sexta-feira (27), New Jersey tinha o 2º maior número de casos confirmados de coronavírus nos EUA, com 8.825. O Estado Jardim estava apenas atrás da vizinha Nova York; que registrou 44.635 casos até sexta-feira.
Outras cidades americanas foram duramente atingidas pelo coronavírus; sendo Seattle (WA) o coração do primeiro surto do vírus nos EUA; Boston seguiu com exposições decorrentes de uma conferência médica; mas os números na área metropolitana de Nova York/New Jersey aumentaram mais rapidamente do que em qualquer outro do país até agora.

A Dra. Deborah Birx, que lidera a resposta do Governo Federal à pandemia do coronavírus (Covid-19), disse na segunda-feira (30) que a região metropolitana de Nova York tem o “índice de incidência” de 1 entre 1 mil; o que é 5 vezes o que o resto do país está enfrentando.
Especialistas em saúde pública disseram que vários fatores influenciam os números vertiginosos da região, incluindo densidade populacional, dependência de transporte público e testes em rápida expansão. Mas esses especialistas também alertaram o que se tornou um refrão comum na batalha contra o coronavírus: ainda há muito que não sabemos sobre a doença ou sua propagação.

. Concentração populacional:

Nova York é a cidade mais densamente povoada dos EUA e New Jersey é o estado mais densamente povoado do país. O grande número de pessoas que vivem tão próximas umas das outras facilita a propagação de uma doença infecciosa como o coronavírus, disse o Dr. David Cennimo, especialista em doenças infecciosas e professor da Universidade Rutgers.
“Quero dizer, estamos um sobre os outros”, disse Cennimo. “Acho que qualquer coisa que tenha que ser atenuada pelo distanciamento físico terá dificuldade em ser controlada em qualquer cidade”.

Enquanto isso, a dependência do transporte público em Nova York e New Jersey, principalmente no norte do Estado Jardim, facilita a disseminação do coronavírus e não somente o metrô de Nova York, segundo especialistas. A Dra. Stephanie Silvera, epidemiologista e professora da Universidade Estadual de Montclair, disse que a dependência do transporte público em cidades no norte de New Jersey, como Newark e Jersey City, gera o mesmo risco para essas áreas.

Em New Jersey, Cennimo disse que ouviu de forma jocosa de colegas no Condado de Bergen que as cidades com estações de trem de New Jersey parecem ter um número maior de casos de coronavírus. “É pejorativo dizer que foi isso que causou, entretanto, penso que houve mais exposição dessa maneira”, disse Cennimo.

O transporte público ainda é considerado um serviço essencial em New Jersey, embora o número de passageiros tenha caído nos últimos dias, pois os residentes foram ordenados a ficar em casa. A NJ Transit reduziu o serviço para seus trens, VLTs e ônibus nos últimos dias.
A Metropolitan Transportation Authority, que supervisiona os metrôs, ônibus e dois sistemas ferroviários da cidade de Nova York, cortou seu serviço na terça-feira (23).

O fato de a região abrigar 3 aeroportos internacionais também pode ter contribuído para a expansão do COVID-19, disse Silvera. “É possível que mais pessoas que chegaram aqui testaram positivas”, comentou.

. Dados gerais:

Cennimo e Silvera observam que Nova York aumentou consideravelmente seus testes para o coronavírus, e New Jersey está seguindo o exemplo. Isso significa que os dois estados provavelmente têm uma maior compreensão da disseminação da doença que a população em outros estados.

“Você quer saber se outros lugares estavam testando de acordo com a população”, disse Cennimo.

Entretanto, os testes disponíveis não são necessariamente suficientes para que os especialistas entendam completamente os padrões da disseminação do coronavírus. Silvera disse que a cidade de Nova York divulgou estatísticas de distritos para casos de coronavírus que ilustram quais grupos de pessoas são mais ameaçados pela doença. Pessoas de baixa renda que têm mais dificuldade em acessar recursos de saúde na cidade têm se mostrado mais em risco, disse Silvera.

“Ainda não é certo se vamos começar a ver essas disparidades exacerbadas pela crise”, disse Silvera.

O especialista observou, porém, que o sistema de saúde pública descentralizado de New Jersey, que é composto pelo Departamento de Saúde de New Jersey e 94 departamentos de saúde locais que supervisionam 565 municípios, luta para disponibilizar com eficiência dados em níveis municipais. Portanto, sem números em nível local, é difícil determinar se esses mesmos padrões na cidade de Nova York estão ocorrendo no Estado Jardim. Mesmo que New Jersey e Nova York parecem estar sofrendo o mesmo impacto da crise até agora, outras partes do país ainda precisam permanecer hiper vigilantes, enfatizam os especialistas.

Na quinta-feira (26), as autoridades federais alertaram que Detroit e Chicago estão emergindo como novos pontos de coronavírus. Cennimo disse que está particularmente preocupado com o que acontecerá quando o coronavírus começar a se espalhar pelas áreas rurais, onde os residentes têm menos acesso a hospitais e outras infra-estruturas de saúde.

Silvera observou que estamos apenas cerca de uma semana em sérias medidas de distanciamento social, e alertou que ainda enfrentamos o pior, tanto em New Jersey como em Nova York e em todo o resto do país. Ela disse que a gripe de 1918 se espalhou dessa maneira, surgindo em grupos de cidades e não de uma só vez.

“Não é uma pandemia, mas uma série de epidemias”, alertou Silvera.

Fonte: Brazilian Voice