CÁRCERE PRIVADO – Brasileira que mora em Indiana diz que “foi vítima de tráfico humano e estuprada por nove meses”

A Revista Marie Claire publicou uma reportagem nesta semana que chocou a comunidade brasileira…


A Revista Marie Claire publicou uma reportagem nesta semana que chocou a comunidade brasileira nos Estados Unidos. A história conta trajetória de Luana Maciel, 39 anos, que depois de fugir de uma vida de abusos sexuais no Brasil, se viu na mesma situação em terras norte-americanas.

Ela contou que quando morou no Distrito Federal, ainda na infância, foi muito agredida pelo pai que sofria de transtorno bipolar e sua mãe que tinha sido diagnosticada com transtorno de personalidade narcisista.

Luana saiu de casa e recebeu abrigo na casa de uma amiga de sua mãe. Mas o sofrimento não parou por ai. “Eu fui molestada dos seis aos 14 anos de idade pelo marido desta amiga e quando eu contava ninguém acreditava”, afirmou.

“Aos 17 anos, já muito atrasada nos estudos, passei a frequentar o supletivo. Uma noite, voltando da aula, fui estuprada. Por vergonha e medo, não contei a ninguém o que aconteceu. Mas três meses depois, descobri que estava grávida. Desabafei com a mãe de uma amiga, que se compadeceu da minha situação e me levou para fazer aborto em uma clínica clandestina. Isso quase me levou à morte. Tive muitas complicações e fui parar no hospital para fazer uma cirurgia. E o que eu mais temia aconteceu. Minha mãe foi chamada ao hospital e fui agredida por ela. Até policiais foram chamados para conter a briga e sem o mínimo de treinamento ou discrição, me humilharam na frente de todos. A segurança do hospital permitiu que minha mãe me agredisse fisicamente, todos diziam que era “uma safada e vagabunda por ter engravidado”, contou.

Após tanto sofrimento, ela colocou em sua cabeça que se conseguisse se casar e constituísse uma família, “talvez não teria mais problemas e estaria protegida”. No mesmo ano em que foi estuprada ela conheceu um homem que frequentava uma igreja e se casou com ele. Mas o que parecia o início de um sonho, foi a sequencia do pesadelo. O marido dela a isolou da família, dos amigos e de tudo. As brigas e os escândalos eram tantos que Luana passou a ter vergonha de frequentar lugares que frequentava.

Na época, ela fazia faculdade de Direito e todos os dias quando chegava da aula era agredida por ele e acusada de traição.

Ela teve duas filhas neste relacionamento.

Em 2013, ela reencontrou uma amiga de infância que também prestava serviços para uma das empresas que trabalhavam para a Embaixada. As duas se reaproximaram e ela lhe apresentou um gerente que, ao saber da sua história, fez uma proposta de trabalho e mudança para os Estados Unidos. “Achei que, finalmente, a vida estava me dando uma oportunidade de ser feliz e dar uma vida melhor para minhas meninas”, lembra.

“Se eu não atendia às expectativas dos traficantes, não nos alimentavam. Famintas, pegávamos restos de comida jogados em sacos de lixo no porão”

Junto com as filhas, ela chegou aos EUA em 2014, e foi morar em Louisville, no estado do Kentucky. Chegando lá, ela percebeu que a proposta de emprego era uma mentira e foram levadas a um porão de uma casa, vigiada 24 horas. “Lá fui obrigada a fazer serviços domésticos e sexuais. No desespero, para proteger minhas filhas menores, eu fazia tudo o que me mandavam. Vivia em desespero”, relata. “Se, por cansaço ou depressão, eu não atendia às ordens, eles não nos alimentavam. Famintas, muitas vezes pegávamos restos de comida jogados em sacos de lixo no porão”, continuou. 

Ela e as filhas conseguiram fugir quando as pessoas que a vigiavam foram a um funeral. Elas correram muito, sem saber para onde estavam indo. “Quando saí de lá prestei queixa na polícia. Mas as autoridades não nos ofereceram nenhum tipo de ajuda. Cheguei a morar nas calçadas com minhas duas filhas, junto com os moradores de rua, até ir para um abrigo e depois ser ajudada pelo pessoal da igreja Catholic Charities”, afirmou.

A família se mudou para Indiana, onde também viveu situação de rua, assou frio e depois de muita insistência, descobrindo a Rede Nacional de Tráfico Humano nos Estados Unidos, onde consegui o apoio que precisava. A instituição a ajudou com moradia e a regularização do seu status imigratório.

O caso de denúncia do cárcere privado foi fechado pela polícia sob a alegação de falta de provas. Quase oito anos depois, o caso foi reaberto, mas o traficante não foi preso até hoje. “Já ouvi dizer que ele traficou mais três brasileiras e ainda está por aí atuando com sua quadrilha”, denunciou.

Luana disse que nunca mais voltou ao Brasil e sua mãe a visitou em 2020. Seu pai está com leucemia e ela ainda não tem permissão de viagem para ir visitá-lo. “Estou aguardando meus documentos. Sigo no aguardo pela permissão de viagem e o meu green card que deve sair até julho de 2023”, explicou.

Hoje Luana é uma estudante sênior e, em breve, será bacharel em Direito Criminal. Ela reside na cidade de Jeffersonville, Indiana, com suas duas filhas.



Fonte: Brazilian Times