Não existe dinheiro fácil na América. Golpe milionário de Luís Miranda

Edição de setembro/2019 – p. 18

Não existe dinheiro fácil na América. Golpe milionário de Luís Miranda

Se no Brasil a sucessão de escândalos envolvendo políticos da esfera federal – compra de votos, propina de campanha, operações fraudulentas atingindo grandes construtoras –, as denúncias que vieram à tona comprometem o deputado federal Luís Miranda (DEM-DF), que aplicou golpes milionários no Brasil e nos EUA, lesando pessoas que perderam imóveis e cifras consideráveis ao se tornarem sócias do deputado em supostos negócios. Foi o estopim para que Brasília se transformasse em dias de caos, revoltando a cúpula do DEM que exige explicações. O parlamentar nega a fraude, mas os fatos são evidentes e não há como conter a enxurrada de acusações. Miranda também responde por abuso de poder econômico e compra de votos no TRE do Distrito Federal, ao sortear telefones celulares.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que Luís Miranda terá que dar explicações ao partido e à sociedade sobre a denúncia de que aplicou golpes milionários no Brasil e nos EUA. “Ele tem a obrigação, o dever e o direito de dar as explicações e vai dar. Foi o que ele me disse quando informado dos das denúncias. Eu acho importante que ele esclareça cada um dos itens para que a sociedade tenha as informações corretas”, explica Maia, reforçando o pedido já feito pela Executiva Nacional do Democratas (DEM).

Luís Miranda, que foi youtuber, ganhou notoriedade na internet dizendo que era fácil ficar rico. Chegou a alcançar quatro milhões de seguidores nas redes sociais. “Qualquer um pode ter uma Lamborghini, cara. É só querer, todo mundo pode ter uma casa na beira da praia. É só querer. É uma decisão”, dizia ele, manipulando pessoas – empresários e investidores.

O deputado vendeu mais de oito mil cursos, chamado “Os Segredos da América”. Ele prestava consultorias sobre como entrar nos EUA de maneira legal e chegar a morar no país, adquirindo um green card. A ideia surgiu sobre como mostrar a possibilidade de crescer e prosperar na maior economia do mundo. Chegou a trabalhar com o negócio de compra e venda de veículos de leilão, com promessas de lucro líquido por mês de 6%, em lucro que seria dividido igualmente entre ele e o cliente.

Um ex-funcionário, no entanto, que afirma ter trabalhado por dois anos com Miranda, disse que, no primeiro trimestre, o fundo de investimento não deu lucro esperado, relatando que o deputado teria apresentado dados falsos, induzindo amigos e familiares dos clientes a investirem também.

A Justiça do Distrito Federal determinou a apreensão do passaporte do deputado, como resultado de um processo iniciado em 2011. O processo começou oito anos antes de o empresário tomar posse como deputado. Na época, ele era sócio em uma clínica de estética de Brasília e foi processado por uma paciente atendida na clínica para fazer uma depilação a laser, mas que saiu com várias queimaduras no corpo.

Segundo o desembargador Josaphá Francisco dos Santos, a retenção do passaporte é “uma medida atípica”, tomada como forma de obrigá-lo a pagar as indenizações. O magistrado alegou que o deputado “vem se esquivando de cumprir a sentença” e “não mostra disposição em pagar o débito”.

Por ter mandato parlamentar, Luís Miranda e a família têm um passaporte diplomático, que vale por três anos. Com ele, o deputado não precisaria passar pelas filas de imigração e, em alguns casos, poderia viajar sem tirar visto.

Sorteio de telefones celulares

De ex-youtuber a deputado federal, Luís Miranda é acusado de corrupção eleitoral ativa e abuso de poder econômico, no Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal (TRE), por ter sorteado telefones celulares dois dias antes do começo da campanha, no ano passado. De acordo com a denúncia, ele prometeu entregar três aparelhos de última geração – no valor de R$ 6.990 cada – para os participantes que mais interagissem durante a transmissão no Facebook.

O sorteio, ao vivo, foi feito em 14 de agosto de 2018. No dia 18 de agosto, Miranda divulgou os nomes dos vencedores e entregou os aparelhos. Nessa data, a campanha já havia começado. Segundo o parlamentar, não houve motivação política no sorteio. “Minha empresa nos Estados Unidos sorteou, fora do período eleitoral, três iPhones para ganhadores de Miami”, disse quando foi feita a denúncia.

Segundo o processo no TRE, Luís Miranda usou o próprio cartão de crédito para patrocinar o post do sorteio na internet. Pelas regras, todas as despesas eleitorais têm que ser pagas por meio de uma conta exclusiva da campanha – com um CNPJ apenas para esse fim. Além disso, a despesa não foi declarada à Justiça Eleitoral. As contas do parlamentar foram reprovadas pelo TRE em dezembro de 2018.

Miranda foi eleito deputado federal pelo Distrito Federal com 65.107 votos, teve as contas da campanha reprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral. Ele recorre da decisão. De acordo com o relator do caso, Waldir Leôncio, Miranda cometeu três irregularidades: comprovação irregular dos gastos; não apresentação dos comprovantes das despesas efetuadas; saques de R$ 95.731,23 que não se destinaram à composição do fundo de caixa, mas para o pagamento de diferentes despesas. A norma determina que os pagamentos devam ser feitos individualmente, por meio de cheque nominal ou transferência bancária.

Fonte: Nossa Gente