BONITO (MS) – O ecoturismo tem crescido como tendência na retomada das viagens. A importância desse segmento, que promove viagens ligadas à sustentabilidade e ao contato responsável com a natureza, foi reconhecida até pela ONU em recente resolução.
No entanto, é difícil saber como acontecerá esse crescimento, e, no caso brasileiro, como combinar a exuberância natural com a governança necessária para chegar aos melhores cenários. Explorar essas possibilidades e apontar possíveis caminhos para o crescimento do ecoturismo foi o que motivou o painel “Tendências no ecoturismo: como potencializar minha empresa e meu destino”, durante o Inspira Ecoturismo, evento promovido pelo Sebrae em Bonito (MS).
Em conversa mediada pela diretora técnica do Sebrae-MS, Sandra Amarilha, a Embratur apresentou um estudo que visa apontar os cenários mais prováveis para o ecoturismo quando estivermos em 2035. “Tudo indica que o ecoturismo seguirá crescendo nos próximos anos. Então, consultando 50 especialistas no tema, chegamos a quatro cenários que podem evoluir até 2035 no ecoturismo no Brasil. São cenários passíveis de acontecer e que estaremos monitorando”, disse Mateus Alves, gerente de Informação e Inteligência de Dados da Embratur, que apresentou a pesquisa no evento.
Os cenários levam em conta duas variantes principais: o crescimento e dinamismo da economia brasileira e a expansão da atividade do ecoturismo. Eles também se relacionam com tendências mais amplas, como a crise climática global e a demanda crescente por sustentabilidade, até aquelas mais regionalizadas, como o Turismo regenerativo e as práticas específicas como a neutralização de carbono.
Considerando desempenho positivo ou negativo para a economia como um todo e o ecoturismo, chegou-se a quatro situações possíveis:
1. Cenário pujante (alta dinamização da economia, baixo crescimento do ecoturismo): as pessoas terão maior qualidade de vida e irão querer contato com a natureza, mas não haverá governança disseminada e uma diversidade de pequenos negócios que deem conta dessa demanda. O resultado mais provável é que só destinos já conhecidos seguirão se desenvolvendo, e estes acabarão massificados e com o meio ambiente degradado.
2. Muitos oásis nacionais (baixa dinamização da economia, alto crescimento do ecoturismo): nesse cenário, o fortalecimento do ecoturismo só se dá pela iniciativa individual de alguns empreendedores, que lideram as práticas sustentáveis de forma pouco integrada. Haveria o fortalecimento de alguns polos de atratividade a um alto custo, tornando esse tipo de viagem mais elitizado e pouco acessível à maior parte da população. A proteção ao meio ambiente ficaria restrita aos locais onde a atividade se desenvolve.
3. Devagar, quase parando (baixa dinamização da economia e baixo crescimento do ecoturismo): no pior cenário imaginado, haveria poucos empreendedores criativos e com pouquíssimos incentivos para desenvolver a atividade, falhando em aumentar fluxo de turistas e proteger adequadamente a natureza
4. Brasil, Terra do Ecoturismo (alta dinamização da economia e alto crescimento do ecoturismo): cenário ideal, com o setor fortalecido, apoiado por políticas governamentais, e o ecoturismo expandido, descentralizado e diversificado, conseguindo atrair turistas nacionais e estrangeiros de alta renda. Consegue agregar comunidades locais às atividades, como indígenas e outras populações locais, respeitando suas tradições locais e o ambiente. O risco de massificação seria contrabalanceado por investimentos em diferentes regiões e qualificação das atividades.
Para Mateus Alves, embora os cenários resultem em diferentes tipos de problemas, as ações para evitá-los já são conhecidas: qualificação dos profissionais, incentivo ao empreendedorismo e acesso a crédito barato, disseminação das boas práticas de sustentabilidade e governança, investimento descentralizado, engajamento das populações locais e adoção de atitudes e produtos sustentáveis são algumas delas.
“A pergunta-chave é: o ecoturismo será protagonista para criação de um futuro sustentável, ou um agente passivo que reage a mudanças, atua de forma desordenada e sem governança?”, questiona. Segundo ele, se incentivadas as ações identificadas como benéficas para a expansão do ecoturismo, seria mais provável chegar ao cenário mais positivo.
CRESCIMENTO COM PROPÓSITO
Outro participante do painel foi Richard Alves, consultor na Lab Turismo e especialista em gestão de destinos. Ele apontou outro fator importante para levar em conta para que o ecoturismo seja mais disseminado no Brasil: o crescimento com propósito, a nível pessoal e também empresarial.
“Somos constantemente chamados a cumprir com protagonismo no crescimento do ecoturismo. E precisamos refletir: estamos vendendo apenas pernoite, cama, transporte, um atendimento a necessidades básicas? Ou vendendo experiências, oportunidades de momentos de transformação, e entendemos que o Turismo de natureza é muito mais do que alguns serviços conectados?”, provocou.
Ele criticou estabelecimentos e empresas que se dizem sustentáveis, mas usam práticas e produtos não condizentes com essa atuação, como materiais descartáveis, plástico de todo tipo, amenidades não renováveis etc. Segundo ele, apenas aumentando o nível de consciência sobre o que envolve a sustentabilidade, e atuando verdadeiramente voltado para unir viagens e preservação, é que se terá um crescimento com qualidade no segmento.
“Claro que é importante se aprimorar, ter qualificação técnica. Mas tem algo que precede isso, que é definir o seu propósito para o trabalho. Eu não consigo ter um negócio competitivo, sustentável, se ele não estiver altamente conectado com a realização de um propósito individual. E sem isso, não conseguimos definir também o propósito de minha empresa”, afirmou.
O Inspira Ecoturismo discute tendências, desafios e caminhos para o Turismo de natureza e aventura no Brasil. O evento vai até 20 de maio.
Rafael Faustino, especial para o Portal PANROTAS
Fonte: PANROTAS