Detentos preparam refeições numa penitenciária no Condado de Orange (CA) Vários detentos preparam as marmitas que serão servidas aos outros presos
Ativistas alegam que detentos são mal alimentados para serem forçados a trabalhar “quase de graça” para comprar comida extra
Detido na Califórnia com centenas de imigrantes que aplicaram para asilo, Douglas Cruz teve que optar: Ele podia se contentar com a comida oferecida no centro de detenções e ficar permanentemente faminto. Ou trabalhar na cozinha da prisão, ganhar dinheiro e comprar comida extra na cantina local.
Cruz decidiu trabalhar, mas o salário de US$ 1 por dia no centro privado Adelanto Detention Facility não foi suficiente para muita coisa. Uma lata de atum era vendida por US$ 3.25. Isso é mais de 4 vezes o preço na filial da Target próximo à cidade desértica de Adelanto, a 2 horas de distância de Los Angeles (CA). Douglas manteve-se com “noodles” a US$ 0.58 o pacote, o dobro da Target. Um bastão miniatura de desodorante a US$ 3.35 custa mais do que 3 dias de trabalho, um luxo impossível, relatou ele.
“Caso eu comprasse isso, não haveria dinheiro suficiente para comprar comida”, disse Cruz.
. Mão-de-obra barata:
Atum e desodorante seriam considerados problemas pequenos para indivíduos detidos como Douglas. Agora com 25 anos, ele tentou asilo após fugir de gangues de rua que queriam recrutá-lo em Honduras, um lugar onde dizer “não” pode resultar em execução. Entretanto, advogados de imigração denunciam quer os preços exorbitantes de artigos de primeira necessidade fazem parte de uma estratégia mais ampla usada pelos centros privados para conseguir mão-de-obra barata e assim diminuir os custos operacionais e aumentar a lucratividade.
Imigrantes e ativistas denunciaram que instalações como a Adelanto, de propriedade da companhia Geo Group Inc., com sede em Boca Raton (FL), a maior empresa privada de encarceramento, de deliberadamente racionar o essencial, até mesmo comida. A estratégia seria forçar os detentos a trabalharem por centavos a hora para complementar as refeições escassas.
O porta-voz do Geo Group, Pablo Paez, considerou tais alegações “completamente falsas”. Ele disse que os detentos recebem refeições aprovadas por nutricionistas, o programa de trabalho e estritamente voluntário e os salários pagos são determinados pelo governo federal. A companhia alegou que tais preços “estão de acordo com os cobrados nos mercados locais”. Além disso, a Geo Group “lucra o mínimo com os itens vendidos, sendo que a maior parte desse lucro é destinada a um “fundo do bem-estar” para comprar equipamento recreativo e outros itens aos detentos”.
Você “trabalha por alguns centavos a hora ou vive sem coisas básicas como sabão, xampu, desodorante e comida”, relatou o detento Wilhen Hill Barrientos, de 67 anos, numa ação judicial apresentada em 2018 pelo Southern Poverty Law Center (SPLC) contra a CoreCivic Inc., a segunda maior empresa do ramo no país. No processo, Barrientos alega que um carcereiro disse-lhe para “usar os dedos” quando ele pediu papel higiênico no Stewart Detention Center, localizado na cidade rural de Lumpkin (GA).
Os detentos estão denunciando o que eles consideram um sistema opressor nos quais as companhias os privam de artigos de necessidade básica para força-los a trabalhar por salários abaixo do mínimo, dinheiro que rapidamente é recuperado nas cantinas dos centros.
“Essas companhias de segurança estão lucrando ao explorarem o que é essencial”, disse a advogada Meredith Stewart, do SPLC.
Grupos defensores dos direitos dos imigrantes apresentaram ações judiciais semelhantes contra a CoreCivic e o Geo Group na Califórnia, Colorado, Texas e Washington.
Fonte: Brazilian Voice