Bolsonaro e Trump têm muito em comum para conversar, diz John Bolton

Assessor de Segurança Nacional dos EUA falou sobre a expectativa da reunião entre os presidentes na terça-feira (19) em Washington. Venezuela e comércio entre os países devem estar entre as pautas do encontro.

O Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Bolton, disse em entrevista exclusiva à GloboNews que acredita que Bolsonaro e Trump ‘vão se dar muito bem’ e ‘que eles têm muito em comum para conversar’. Os presidentes de Brasil e Estados Unidos se reúnem em Washington na terça-feira (19), no primeiro encontro de caráter bilateral realizado pelo brasileiro no exterior. Bolsonaro deve embarcar para os Estados Unidos neste domingo (17) acompanhado de uma comitiva formada por 6 ministros, entre eles o da Justiça, Sérgio Moro, o da Economia, Paulo Guedes e o de Relações Exteriores, Ernesto Araújo.

Eles ficarão hospedados na Blair House, a casa oferecida aos visitantes que o presidente americano considera mais importantes, e que integra o Complexo da Casa Branca. Veja qual o cronograma previsto no final da reportagem. Uma das prioridades do encontro será a situação na Venezuela, de acordo com o assessor de Trump. Bolton elogiou a atuação do Brasil na tentativa de levar ajuda humanitária ao país vizinho.

“O Brasil carrega um fardo substancial por algum tempo por causa do fluxo de refugiados que saem da Venezuela. Colômbia e o Brasil são os países do hemisfério que têm as duas maiores populações de refugiados. Então, nós achamos que o Brasil fez um excelente trabalho algumas semanas atrás nos esforços para levar ajuda humanitária para a Venezuela. É realmente ultrajante que o regime de Maduro tenha tentado bloquear isso. Gostaríamos de encontrar formas de aliviar o sofrimento do povo venezuelano. Eu acho que a melhor maneira seria a transferência de poder para o Juan Guaidó [autoproclamado presidente interino]. Vamos trabalhar para encontrar um governo democrático para o país e aproveitando os recursos naturais extraordinários em todas essas áreas. O Brasil, a Colômbia, a Argentina… os países líderes nesse hemisfério podem trabalhar muito juntos”.

Comércio bilateral

Depois da crítica do presidente Donald Trump ao protecionismo e tarifas impostas pelo Brasil aos EUA, a relação comercial também vai estar na pauta. Bolton sugeriu que há oportunidade de mais espaço para discutir um acordo na área. “Todos esses são assuntos que nós devemos conversar. Eu acho que nos governos anteriores havia um tipo de impasse, não havia muito progresso. Eu acredito que o Brasil, obviamente, tem que observar seus próprios interesses nessas conversas comerciais. O presidente [Trump] não espera nada além disso, mas com as economias que ambos temos e o nosso desejo de fortalecer os laços no hemisfério [ocidental], há muitas possibilidades, como acordos bilaterais desse tipo ou formas de que possamos dar passos para aumentar o comércio bilateral estão nas conversas”.

Conselho de Segurança da ONU

Perguntado sobre um possível apoio dos EUA na ambição histórica do Brasil de conseguir um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, Bolton falou que isso pode depender de uma expansão dos países membros do órgão. “Esse é um tema que vem sendo discutido por muito tempo. Eu discuti quando fui embaixador nas Nações Unidas. Há muitas pessoas que querem ser membros permanentes também, mas temos que ter em mente também a efetividade do Conselho de Segurança. Se você o torna tão grande quanto a Assembleia Geral, ele vai ser tão eficiente quanto a Assembleia Geral e queremos protegê-lo disso. Mas, se houver uma expansão, o Brasil certamente tem o direito legítimo de reivindicar um espaço entre os países envolvidos nisso”. Autoridades americanas dizem que o Brasil pode ganhar o título de importante aliado extra-Otan, concedido a aliados estratégicos que não estão na Organização do Tratado do Atlântico Norte. Um dos benefícios, é o acesso à tecnologia na área militar.

Política externa

Bolton afirmou ainda acreditar que Bolsonaro tem muitas prioridades internas no momento antes de pensar em assumir um papel maior no cenário global. “É totalmente apropriado que o Brasil desempenhe um papel maior [no cenário mundial]. Eu acho que o presidente Bolsonaro tem isso em mente. Eu acho que seu foco principal no momento, como vejo, é a pressão do Brasil por políticas internas necessárias pelas quais ele fez campanha. Alguns desses temas ele, obviamente, tem que priorizar. E eu acho que o povo do Brasil espera isso. Mas nós estamos prontos para conversas com o Brasil. Nós estamos realmente animados com a possibilidade de nos tornarmos parceiros em diversos temas internacionais e acho que os dois presidentes vão falar disso quando se encontrarem.

John Bolton, assessor de Segurança Nacional dos EUA — Foto: Reprodução/GloboNews

Expectativa para o encontro

John Bolton disse que essa é uma oportunidade histórica na relação dos Estados Unidos com o Brasil. “Embora nós tenhamos tentado ficar próximo do Brasil ao longo dos anos, isso foi difícil em administrações anteriores. Então, há muitos, muitos passos que podemos tomar e o presidente Bolsonaro traz uma energia de verdade para o relacionamento. Ele está determinado a fazer progresso e ele está muito ansioso e muito ativo e nós queremos tentar ser o mais compreensíveis quanto pudermos”. O assessor também falou que os presidentes ‘têm muito em comum’ e que Trump talvez possa ser chamado de ‘Bolsonaro da América do Norte’ em uma alusão à denominação de Bolsonaro como ‘Trump dos trópicos’. “Eu não estou dizendo que muito disso realmente vai se concretizar na primeira reunião, mas eu acho que eles vão abrir um precedente. Eu fiquei muito impressionado quando me encontrei com o então presidente eleito Bolsonaro no Rio. Eu acho que os dois vão se dar muito bem e acho que eles têm muito em comum para conversar. Então, isso é um dos motivos porque nós achamos que o relacionamento pessoal que nós esperamos que os dois tenham vai se espalhar para um relacionamento bilateral mais amplo. Isso é uma razão pela qual o presidente Trump está tão animado em receber o presidente Bolsonaro aqui em Washington.

Cronograma

Domingo: o porta-voz informou que Bolsonaro e sua comitiva têm previsão de decolar de Brasília rumo a Washington às 8h do próximo domingo (17). O voo deve durar nove horas. Já nos EUA, haverá um jantar na residência do embaixador do Brasil em Washington com “formadores de opinião”.

Segunda-feira: ministros brasileiros participarão de um debate sobre investimentos, realizado na Chamber of Commerce. Haverá uma audiência com Henry Paulson, ex-secretário do Tesouro dos EUA, além das assinaturas de acordos entre os dois países. Parte da comitiva participará de um painel chamado “Bolsonaro e Trump, novo começo das relações de Brasil e EUA”. Também há previsão de um painel sobre o futuro da economia brasileira e de um jantar oferecido pelo conselho empresarial Brasil-EUA.

Terça-feira: pela manhã Bolsonaro terá um encontro com Luis Almagro, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), na Blair House. Após, Bolsonaro será recebido por Trump na Casa Branca, onde os dois terão um “encontro privado”, com a presença apenas de tradutor. A agenda na Casa Branca ainda prevê um almoço de trabalho e reunião, seguida de uma declaração à imprensa dos presidentes. Bolsonaro também fará uma visita ao Cemitério Nacional de Arlington e irá ao “túmulo do solado desconhecido”. Ainda na terça, Bolsonaro terá uma reunião com lideranças religiosas na Blair House, seguida de um jantar de trabalho. O retorno em Brasília será ainda na terça.

Fonte: Brazilian Press