Em comício, Trump diz que mandou reduzir testagem nos EUA e afirma que Brasil “não está bem” frente à pandemia

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, participou neste sábado, em Tulsa, no estado de Oklahoma, de seu primeiro comício desde 2 de março, antes da pandemia de Covid-19 se disseminar pelos Estados Unidos. Com um público abaixo do esperado, contrariando as expectativas presidenciais, Trump buscou reforçar sua campanha de reeleição com ataques a Joe Biden, candidato democrata à Presidência, e se vangloriar da resposta de seu governo à crise sanitária, amplamente criticada por especialistas.

Durante o discurso, o presidente disse que pediu para “reduzirem a testagem” para o novo coronavírus, já que os testes revelam o alto número de contaminações nos Estados Unidos, o país com mais casos e mortes pela Covid-19. Segundo Trump, quando testes são feitos em grande quantidade “você vai encontrar mais pessoas e mais casos” e até um jovem “fungando” será diagnosticado com a doença. Mais tarde, um funcionário da Casa Branca disse que o presidente estava fazendo “uma piada”.

Trump disse ainda que salvou “milhões de vidas” ao paralisar as atividades econômicas, paralisação ordenada por governadores e da qual foi um dos maiores críticos. Citando o Brasil e a Suécia como exemplos negativos, o presidente americano disse que o cenário poderia ter sido pior se tivesse adotado a estratégia de imunização coletiva ou de rebanho, na qual os que sobreviveram à Covid-19 carregam imunidade e impedem o vírus de se disseminar: — Perguntem como eles estão no Brasil. Não estão bem. E ele é meu amigo — disse Trump, referindo-se ao presidente Jair Bolsonaro.

O uso de máscaras não foi obrigatório durante o comício, realizado em uma arena fechada, e regras de distanciamento social também não foram respeitadas. Segundo a Universidade Johns Hopkins, os EUA têm mais de 2,2 milhões de casos e 119 mil mortes pela Covid-19, e as infecções continuam crescendo em pelo menos metade dos 50 estados americanos. Especialistas temem que o comício sirva de catalisador para uma explosão de novos casos em Tulsa. No início da semana, foi noticiado que a campanha de Trump exigiu que aqueles que comparecessem ao evento não a processassem se pegassem a doença.

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Abaixo das expectativas

O presidente esperava que seu discurso marcasse “a grande retomada” de sua campanha, e há alguns dias, chegou a afirmar que mais de 1 milhão de pessoas havia solicitado ingresso para o evento, realizado em uma arena de 19 mil lugares. Diversos assentos, no entanto, permaneceram vazios durante todo o discurso e a aparição do presidente em um segundo evento, em uma estrutura montada do lado de fora para aqueles que não conseguissem entrar na arena, foi cancelada, já que não havia público para tal. Segundo o New York Times, a lotação foi calculada em dois terços.

A campanha de reeleição culpou a imprensa por assustar os eleitores com temores sobre uma possível segunda onda da Covid-19 e manifestações antirracistas e contrárias a Trump. Durante o comício, o presidente chamou os presentes de “guerreiros” por comparecerem ao evento mesmo com “pessoas muito ruins do lado de fora”, a quem se referiu como “um punhado de maníacos”. O número de manifestantes anti-Trump no local, entretanto, também foi pequeno e, até a noite de sábado, havia poucos relatos de desentendimentos.

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O  foco do discurso de 1h40, no entanto, foi Biden, que lidera as intenções de voto com uma margem de 11 pontos percentuais. Trump se referiu ao seu adversário como “incorrigível fantoche da esquerda radical” e “fantoche da China” e disse que o país será “destruído” caso o ex-vice-presidente venha a ser eleito: — Eles irão expulsar qualquer um que discorde deles. Eles te chamam de racistas, eles não gostam de sua religião — disse o presidente à plateia, citando em diversos momentos lideranças políticas da ala esquerda do Partido Democrata, como as deputadas Ilhan Omar e Alexandria Ocasio-Cortez.

Tensões raciais

Trump pouco falou sobre as tensões raciais nos Estados Unidos e não citou, em nenhum momento, o assassinato de George Floyd, asfixiado por um policial branco no dia 25 de maio, estopim para os protestos contra o racismo. O presidente preferiu defender as polêmicas estátuas de colonizadores, exploradores e traficantes de pessoas escravizadas, que vêm sendo derrubadas durante as manifestações: — Eles querem destruir nossa herança para que possam substituí-la por seu novo regime opressivo  — disse o presidente, culpando a “a insana máfia da extrema esquerda” e afirmando que aqueles que queimarem bandeiras deveriam “ir para a prisão por um ano”.

Trump says he wants to "slow the testing down" on coronavirus - Axios

Acentuando sua disputa verbal com Pequim, Trump voltou a se referir ao vírus de modo racista, chamando-o de “vírus kung” e “vírus chinês”. Contrariando as diretrizes de saúde, Trump disse ainda que apertou as mãos de alunos que se formaram na Academia Militar de West Point porque queria parabenizar “essas bonitas pessoas jovens” e criticou a cobertura da mídia sobre a visita, que noticiou seu andar cambaleante enquanto descia do palco. Ao longo das últimas semanas, a escolha de Tulsa e a data do comício foram alvo de críticas de aliados e adversários, sendo vistas como provocações ao movimento contrário ao racismo que toma conta dos EUA. A cidade em Oklahoma foi palco, em 1921, de um dos maiores massacres raciais da História americana, quando 300 pessoas negras foram assassinadas. Hoje, cerca de 15% dos 400 mil habitantes de Tulsa, cidade historicamente republicana, são negros.

A data original do evento de Trump, por sua vez, era sexta-feira, coincidindo com o Juneteenth, quando se comemora o fim da escravidão nos EUA. Pressionado, Trump decidiu postergar o comício para sábado, justificando que muitos de seus amigos e apoiadores negros lhe sugeriram o adiamento como um sinal de respeito. Para marcar a data, milhares de pessoas marcharam pelos EUA na sexta-feira, com protestos nas cidades de Nova York, Los Angeles, Washington e Atlanta, entre outras. // O Globo.

Fonte: Brazilian Press