A aposta da ciência para fazer um hambúrguer de soja menos ruim

As imitações vegetais de carne têm um enorme problema para conquistar consumidores além dos vegetarianos e veganos: o gosto é horrível.

Na versão mais simplória, a tal “carne vegetal” é simplesmente proteína de soja, insípida e esponjosa. A engenharia de alimentos tenta resolver a questão com um caminhão de aditivos de aroma e sabor, corantes, estabilizantes, emulsificantes e o resto do arsenal químico.

Parece ser uma tarefa razoavelmente simples, já que a PTS é como uma tela em branco. Só que nunca funciona.

Hambúrgueres e salsichas fajutos, mesmo os de última geração, acabam parecendo o que de fato são: algo sem a menor graça, turbinado com tempero de miojo ou pozinho de Doritos. Engana na primeira mordida, depois fica intolerável.

Nos Estados Unidos, já têm alguns anos as pesquisas para se desenvolver a tal carne cultivada: pegam-se células musculares de um animal vivo para reproduzi-las em laboratório.

Em tese, é a solução ideal para não sacrificar nem as vacas nem o hambúrguer.

Na prática, é caro e complicado demais. Músculos são estruturas complexas que precisam ser replicadas fielmente para se obter um produto parecido com carne de verdade. Ainda não se consegue fazer isso em grande escala e por um preço aceitável.

Acabo de ler uma matéria da revista The Atlantic (meio velhusca, admito, do mês passado) que aponta uma solução intermediária: a gordura animal cultivada. Misturada à proteína vegetal, ela fornece o fator carnudo que falta a todos os hambúrgueres plant-based.

A empresas de tecnologia de alimentos Mission Barns, da Califórnia, está investindo na banha de laboratório. O princípio é o mesmo da carne cultivada: removem-se células de animas vivos para a empreitada.

A diferença é que banha não precisa ter textura de picanha ou contrafilé. As células adiposas se reproduzem numa massa amorfa parecida com manteiga ou margarina. Um pouco assustador, decerto.

A repórter Yasmin Tayag, da Atlantic, aprovou um bacon feito de planta misturada a essa banha sintética. Diz, na reportagem, que o troço é tão bom quanto o bacon vero.

Aguardemos. Se é que essa coisa um dia chegará ao Brasil.

Se for bom mesmo, é uma grande notícia para os animais e os carnívoros que se preocupam em reduzir o consumo de carne.

Para os veganos, não vai fazer diferença. É um produto de origem animal, portanto vetado para eles.

Fonte: Folha de S.Paulo