
A sexta (5) sextou grandão, com a OMS decretando o fim da emergência sanitária da pandemia de Covid-19. É hora de discutir também o fim da parafernália pandêmica que tomou conta de bares e restaurantes.
Em especial, dos infames cardápios em QR code que muitos lugares insistem em manter, a despeito do queixume geral da freguesia.
A peste do coronavírus acelerou e legitimou uma série de transformações, que já estavam em curso, no enxoval de mesa. Refiro-me a guardanapos, talheres, temperos e outras coisa deixadas à disposição do cliente.
A tendência é deixar tudo embaladinho individualmente. Medida higiênica e profundamente irritante.
Quer coisa mais disparatada do que palitos de dentes empacotados um a um? Há décadas é consenso que palitar os dentes à mesa é uma baita de uma grosseria.
Simplesmente não há por que oferecer palitos. Para espetar a batata frita, existe o garfo. Para quem faz questão de executar a higiene bucal na mesa, que carregue o próprio fio dental.
A substituição dos saleiros por diminutos envelopes de papel deixa a mesa mais feia e gera algum desperdício. Mas pelo menos eles são fáceis de abrir. O problema é quando você troca as bolas, põe adoçante no bife e sal no cafezinho.
Quanto aos sachês de ketchup, mostarda e maionese, parece que eles foram desenhados com a finalidade de reduzir o consumo desses condimentos. Abrir o primeiro saquinho é OK… aí o desafio cresce à medida que a sua mão fica engordurada de hambúrguer.
Para limpar mãos sebentas, guardanapos. Os gênios do design criaram a dupla de guardanapos envelopada em papel encerado. Você usa um guardanapo, o restaurante manda três folhas de papel para o lixo.
Tudo isso é chato de usar e tem charme negativo, mas se apoia num discurso de oferecer um ambiente sanitariamente seguro para o cliente do restaurante.
O cardápio em código QR não tem mais essa desculpa. Eles surgiram no auge do pânico da pandemia, quando punham algum tipo de camisinha até no botão de chamar o elevador.
Quase ninguém manuseia o cardápio impresso enquanto come. A contaminação por saliva é desprezível, e os mais precavidos têm o onipresente álcool em gel –outra inovação pandêmica– para se limpar ali mesmo.
O cardápio no celular é infernal.
Numa mesa com várias pessoas, sempre tem alguém com o telefone sem bateria. Um mesmo aparelho circula de mão e mão, bem higiênico.
Os velhos não conseguem acessar o menu. Quando conseguem, não enxergam patavina. A navegação é sempre péssima e exige a supervisão de um garçom fungando atrás do seu ombro.
Pior mesmo, só quando o sistema exige que o pedido seja feito ali mesmo, no celular, e enviado digitalmente para a cozinha. Em 100% das ocasiões que usei essa tecnologia, o pedido veio errado ou não chegou.
No Twitter, o dono de um bar no Rio comentou que o cardápio em QR code facilita a vida dos comerciantes. Eles não precisam reimprimir o material quando remarcam preços ou oferecem um prato novo.
Pois então: o cardápio digital é bom para quem serve, não para quem usa. Vamos acabar com essa chateação?
Fonte: Folha de S.Paulo