Caminhada explora origem de bairro italiano em São Paulo

A capital paulista é cheia de opções de passeio, que vão de city tours em ônibus de dois andares a sobrevoos panorâmicos de helicóptero. Para o visitante que quiser ficar com o pé no chão, há roteiros criados por ONGs e grupos de arquitetos que passam por pontos históricos de São Paulo.

Uma dessas rotas desbrava o Bixiga, região no centro da cidade conhecida pela concentração de imigrantes italianos. É possível visitar os teatros e monumentos próximos à praça Dom Orione a partir de um mapa elaborado pelo SampaPé, organização sem fins lucrativos que também promove caminhadas guiadas.

O percurso não tem um ponto de partida obrigatório. O trajeto pode começar em três pontos: nas estações Brigadeiro (linha verde) e São Joaquim (linha azul) do metrô ou na rua Avanhandava, via que concentra restaurantes. A área fica em um raio de 15 minutos a pé. O mapa com todos os pontos está disponível online (leticialedasabino.wixsite.com/sampapeorg). 

Saindo da estação Brigadeiro, na avenida Paulista, rumo à rua dos Franceses, chega-se a dois destaques do bairro. O primeiro é a Casa dos Camafeus, na alameda Joaquim Eugênio de Lima, com figuras em relevo na fachada. O segundo é o Totem Chafariz, construído nos anos 1970 por Domenico Calabrone, no conjunto residencial Praça dos Franceses.

Na via paralela (rua dos Ingleses) está o teatro Ruth Escobar, inaugurado em 1963 e conhecido por sua resistência em montagens como a de “Roda Viva”, de Chico Buarque, durante a ditadura militar.
Dali, dá para descer a escadaria do Bixiga e cair na praça Dom Orione, local de feiras de antiguidades e artesanato. 

Criada em 1929, a escadaria foi a primeira ligação entre a parte mais nobre (alta) e a mais pobre (baixa) do bairro. 

Hoje, na parte baixa, além das feirinhas, ficam casas noturnas como a Mundo Pensante, com dois espaços no entorno da praça Dom Orione. Por ali, também vale uma parada no Catzo, boteco de inspiração italiana com mesinhas dispostas na rua.

Há outras opções gastronômicas na rua Treze de Maio, que concentra cantinas italianas. A via também é endereço do Centro de Memória do Bixiga, que reúne histórias da formação da região. A visita, sempre com horário marcado, conta sobre o tombamento do bairro, a festa da Achiropita e o bloco dos Esfarrapados, um dos mais tradicionais do carnaval paulistano. Todos esses pontos podem ser percorridos em cerca de 1,2 km de caminhada.

O passeio a pé faz diferença na hora de explorar as memórias da cidade. 

Giovanna Fluminhan, uma das coordenadoras do coletivo PISA, que surgiu na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo em 2015 e também promove caminhadas, diz que o grupo usa a cidade como ferramenta pedagógica.

Um exemplo é o percurso criado pela pesquisadora Patrícia Oliveira, membro do grupo, por um território que vai do bairro da Liberdade, reduto da comunidade nipônica na cidade, até o Bixiga. 

Durante um dia, o passeio mostra que a área é também um importante território de resistência negra em São Paulo, em uma área de antigos quilombos urbanos. 

Hoje esses passeios são abertos ao público e feitos em parceria com instituições como Sesc e prefeitura. É preciso acompanhar as redes (fb.com/coletivoPISA) para saber a data das próxima saídas.

Fonte: Folha de S.Paulo