Como é fazer turismo na Arábia Saudita, que quer sediar a Copa do Mundo

Vocês estão diante do maior lago artificial do mundo, e aquela é a maior esfera de LED do planeta, reconhecida pelo Guinness. A frase é proferida pelo saudita Turki Majed ao recepcionar dois jornalistas, um do Brasil e outro da Argentina, no parque Boulevard World.

O local é uma das 15 áreas de entretenimento da Riyadh Season, um festival anual de entretenimento, gastronomia e esporte, que sempre ocorre entre os meses de outubro e março, promovido pela Autoridade Geral de Entretenimento em Riad, a capital saudita.

O órgão tem papel coadjuvante em um plano de governo, o Visão 2030, cuja missão é fomentar o turismo e atrair multinacionais à Arábia Saudita, um reino ultraconservador.

No Boulevard World, as dimensões do lago artificial, tomado por embarcações similares às de Veneza, e o embaralhamento de cores do balão de LED impressionam e, ao mesmo tempo, ilustram a mania de grandeza dos sauditas.

No entanto, mais que as medidas, o Boulevard oferecia a chance de experimentar a gastronomia e atrações culturais de dez países, entre eles China, Estados Unidos e França.

É como se Riad importasse um retalho de cada nação, construindo um planeta à parte em torno do maior lago artificial do mundo. Os países estão separados a um passo. Os Estados Unidos despontavam com o letreiro de Hollywood e os seus super-heróis. As hamburguerias e as lojas que vendiam a miniatura de personagens da Marvel ficavam abarrotadas. Bonecos e gorros do Capitão América e do Homem Aranha vendiam como se fossem água.

Os cenários são compostos por maquetes realistas, como a do Arco do Triunfo. A ponte e os túneis são de madeira e ferro, revestidos por materiais que imitam o asfalto —como a que imita a rodovia americana Route 66 —ou terra, como se fossem cavernas.

Entre apresentações, destaques para os encantadores de serpentes na área que representa o Marrocos, as pizzas voadoras (da Itália), os shows de dragões (da China) e o festival de flamenco (da Espanha).
A poucos metros, o Boulevard Riyadh City traz mais de 70 restaurantes, 50 palcos teatrais e outros 20 para musicais. Para Majed, o que mais importa é sublinhar que um dos estúdios dali, o Merwas, é o maior do Oriente Médio.

É claro que os passeios na Arábia Saudita não se resumem às quase 8.500 atividades da temporária Riyadh Season, cuja edição deste ano, sob o slogan “além da imaginação”, acaba de encerrar, às vésperas do Ramadã, período sagrado para os muçulmanos.

Mas, nenhum outro é tão empolgante. Tampouco o badalado mirante do Kingdom Tower a 300 metros de altura. Nele uma ponte, cercada por vidros, interliga as duas pontas de um arranha-céu.

Maior exportadora de petróleo, a Arábia Saudita só abriu para o turismo em 2019. Até então apenas tinham direito de entrar muçulmanos que se dirigiam a Meca ou pessoas com visto de trabalho.

O país também se esforça para figurar no circuito dos grandes eventos esportivos e tem planos ambiciosos para sediar a Copa do Mundo de 2030.

Em janeiro, Riad recebeu as decisões das supercopas da Espanha e da Itália, além do amistoso entre Paris Saint-Germain e o combina do Al Nassr/Al Hilal, que reuniu Messi e Cristiano Ronaldo. Contratado para jogar no Al Nassr, o português receberá salário de R$ 1 bilhão por ano e servirá de isca para atrair outras estrelas do esporte.

Com o turismo aquecido, a Arábia Saudita vislumbra não só novas receitas, mas a chance de se apresentar ao Ocidente como um país simpático e capaz de tocar megaeventos. Um diagnóstico pouco provável, hoje, em meio à truculência por parte de seu governo.

O príncipe do reino, Mohammad bin Salman, conduz medidas de relaxamento à lei islâmica, sharia, e tenta reduzir a dependência econômica do petróleo ao mesmo tempo que seu regime é marcado por forte repressão à dissidência.

Foi ele quem aboliu a exigência das abayas, túnicas que cobrem o corpo, para mulheres estrangeiras e permitiu que elas pudessem dirigir e ir aos estádios. Outro decreto de impacto foi a reabertura das salas de cinemas após proibição que durava 35 anos.

Tais medidas, porém, são incipientes, e o país não convence do seu comprometimento com os direitos humanos, sobretudo o das mulheres sauditas, obrigadas a usar abayas e o hijab —véu sobre cabeça e pescoço. Elas tampouco podem ter qualquer contato com um homem que não faça parte de suas famílias.

Além da falta de fé no reino, a sociedade saudita continua bastante conservadora. Nos restaurantes, apesar do fim da segregação entre os gêneros, o mais comum é observar mesas onde há presença só de homens, boa parte deles fumando cigarros e narguilé.

As demonstrações de afeto entre um casal são tolhidas em público, enquanto homens se beijam e dançam abraçados.

Por fim, viajar até Arábia Saudita e manter-se sóbrio diante do assalto aos direitos humanos e à liberdade de expressão é impraticável. Aliás, detalhe importantíssimo, o consumo de bebida alcoólica é proibido por lá. Nem isso pode.

COMO CONSEGUIR VISTO PARA A ARÁBIA SAUDITA?

Para solicitar o visto de turismo para visitar a Arábia Saudita, brasileiros precisam entrar em contato com a embaixada do país, em Brasília. Os números são (61) 3248-3525 e (61) 3248-3523; o email é [email protected]

Fonte: Folha de S.Paulo