Como jantar sem calças num restaurante chique (e não ser perturbado)

O Discover, aquele serviço do Google que abre uma aba não-solicitada no navegador do celular, toda manhã me presenteia com algumas notícias curiosas.

Na terça-feira (28), por exemplo, fiquei sabendo que o restaurante Terraço Itália, no centro de São Paulo, teve a pena aumentada num processo movido por um cliente que chegou de bermuda para jantar e foi obrigado a vestir as calças de um garçom.

O tal cidadão teria ido ao restaurante –um lugar antigo, careta e formal– para comemorar o aniversário de casamento. Já sentado, diz, foi avisado de que não seria atendido se não pusesse calças compridas.

Como ninguém leva um par extra de calças para jantar, a solução encontrada foi pegar emprestado um uniforme do maître do lugar.

Depois, o cliente processou o Terraço Itália. A justiça entendeu que o restaurante pode impor um código de vestimenta, desde que isso seja claramente comunicado aos clientes.

No caso, ficou provado que o e-mail da confirmação da reserva não dizia nada sobre calças e bermudas. A casa foi condenada, em 2022, a pagar R$ 2000 para o homem –valor que acaba de ser aumentado para R$ 10 mil.

Algumas coisas são bem peculiares no episódio. Como assim, um restaurante oferece as calças de um funcionário para um cliente? E como o cara aceita a proposta? Eu teria mandado o Terraço Itália catar coquinho e comemoraria as bodas com um pernil do Estadão Lanches.

Porém: cada um, cada um.

Tem gente que gosta e faz questão de frequentar lugares formais. A essas pessoas, eu aconselho que usem calças compridas. Nos EUA, por exemplo, há restaurantes que exigem até paletó e gravata no “dress code”.

Nesses lugares, se você chega desprevenido, costuma haver peças de empréstimo. Em geral coisas feias, velhas e espalhafatosas, que deixam o esquecido com aparência de Didi Mocó. Desconfio que seja de caso pensado.

Então, se você quiser mesmo ir de bermuda num restaurante chique, há algumas possibilidades mais ou menos arriscadas.

Quem gosta de adrenalina pode tentar descobrir o nome do maître do lugar e chegar tratando o figura como se fosse íntimo. Dica: procure no Linkedin.

Esses funcionários lidam com milhares de pessoas, sorriem para todas e dificilmente se lembram da maioria dos rostos. Chegar na confiança pode criar a impressão de que você é alguém importante e excêntrico. Se der certo, excelente; se der errado, é um bocado humilhante.

Menos arriscado é escolher um restaurante de hotel. Hotéis costumam ser mais flexíveis com os trajes porque muitos clientes também são hóspedes, e hóspedes circulam de forma mais relaxada nas dependências.

O Fasano do Rio de Janeiro tinha um quiosque na praia de Ipanema. Eu, que não sou um típico cliente Fasano, uma vez fui fazer uma matéria lá. Conversando com o gerente, o assunto chegou nas bermudas e chinelos. Ali era uma excepcionalidade, um ambiente Fasano em que o traje de banho era aceito.

Aí perguntei como seria se eu tentasse jantar no restaurante, lá dentro do hotel, com shorts e sandália de dedo. O cara ficou meio ressabiado e, depois de pensar, respondeu que a equipe tentaria arrumar uma mesa externa. Ipanema, oras.

Melhor do que oferecer o uniforme do garçom, né?

Fonte: Folha de S.Paulo

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