O turista brasileiro tem mais um jeito de levar dinheiro para o exterior. Desde o fim do ano passado, os bancos digitais BS2 e C6 oferecem para seus correntistas uma conta internacional, em dólares, com cartão de débito.
Em uma simulação, a moeda americana sai mais barata nessa modalidade, mais até do que na compra de dinheiro em espécie (veja abaixo).
A opção pode ser vantajosa para quem é viajante frequente e deseja ter uma reserva de dólares, mas exige vínculo com os bancos e há algumas taxas que o turista deve levar em conta.
O C6 cobra US$ 30 (R$ 126) pela emissão do cartão de débito, e cada depósito precisa ser de pelo menos US$ 100 (R$ 420). Já o BS2 não cobra pela conta, mas é preciso ter feito uma transação de pelo menos US$ 300 (R$ 1.260) para solicitar o cartão.
A moeda americana custa menos na conta internacional porque os dois bancos usam o dólar comercial na conversão, mais barato do que o dólar turismo, que se aplica na compra de papel-moeda. Além disso, as instituições cobram uma taxa de 2% sobre o valor total depositado, menos do que a média de 5% cobrada por cartões de crédito a cada compra.
Por fim, o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) que incide na conversão é de 1,1%, o mesmo do papel-moeda, e menor do que os 6,38% cobrados em transações com cartão de crédito.
Na prática, ao optar pelo produto das fintechs, o usuário abre outra conta em uma filial dessas instituições fora do país. Quando quiser, pode transferir de sua conta nacional para a estrangeira.
Por enquanto, o BS2 e o C6 trabalham apenas com dólares, mas ambos dizem que vão aumentar a lista de moedas.
Para quem não viaja muito, pode ser mais prático comprar o dinheiro em espécie, adquirir um cartão pré-pago ou mesmo usar o próprio cartão de crédito. A escolha depende do perfil do viajante.
O cartão pré-pago, comprado em bancos e casas de câmbio, não necessita de um vínculo entre usuário e instituição financeira. O portador carrega o cartão com a quantia que desejar em reais e ela é convertida para a moeda estrangeira —trabalha-se com dólar, euro e libra, pelo menos. A cotação do dólar usada nesse cartão é a turismo, e o IOF cobrado é de 6,38%.
Esse cartão é interessante para quem quer ter um controle maior sobre a cotação que vai pagar. Como é possível comprar a moeda antes da viagem, o usuário pode carregá-lo aos poucos, aproveitando momentos de baixa, e já viajar com o valor convertido.
Já no cartão de crédito, a cotação mais utilizada pelos bancos é a do dia do fechamento da fatura, o que pode causar diferenças entre o valor que o viajante acredita ter pago em um produto e o que efetivamente será gasto.
Isso vai mudar a partir de 1º de março, quando entra em vigor uma medida do Banco Central que obriga as instituições a usarem a cotação do dia da compra.
Algumas delas já trabalham dessa forma, como o Nubank e a Caixa Econômica.
Ainda assim, na modalidade crédito a cotação muda conforme o dia da compra, enquanto no pré-pago o valor já foi fixado.
Compras feitas no crédito em moeda estrangeira passam pela conversão para dólar antes de aparecerem na fatura em reais. Sobre a cotação do dólar comercial incide uma taxa que, em geral, é de 5%, mas isso varia conforme o banco. Ao final, ainda é acrescentado o IOF de 6,38%.
Apesar do cartão de crédito oferecer a conversão mais cara, é importante tê-lo em viagens ao exterior. “O ideal é levá-lo para segurança e eventualidades. Caso tenha gasto todo o dinheiro e ainda tenha um dia de viagem, ele resolve o problema”, diz a planejadora financeira Annalisa Dal Zotto.
O cartão também pode ter benefícios embutidos que poupam alguns gastos, como seguro-viagem. Além disso, programas de pontos podem dar passagens aéreas gratuitas, mas isso depende do serviço e de quanto é gasto.
Outro ponto positivo do uso dessa modalidade, seja crédito ou débito, é que alguns países oferecem devolução do IVA (imposto sobre valor agregado) para compras.
No Uruguai, é possível conseguir 22% de desconto em restaurantes e locadoras de veículos. Na Argentina, 21%, em hotéis, e no Chile, 19%.
Ter dinheiro eletrônico também pode ser uma necessidade dependendo do destino. Isso porque, em alguns países, o uso de moeda em espécie está diminuindo.
Há estabelecimentos na Inglaterra, na Holanda e na Suécia, entre outros, que não aceitam mais o papel. Também é comum que notas altas sejam recusadas.
Ainda assim, o dinheiro vivo é a segunda forma mais barata de comprar dólares, segundo comparação feita pela repórter, e a mais acessível para os viajantes, já que não é preciso ter vínculo com instituições financeiras.
Porém, só compensa comprar a moeda no Brasil se ela for dólar, euro e libra. Isso porque moedas pouco procuradas no país têm cotação desfavorável para o viajante.
De acordo com a planejadora financeira Dal Zotto, levar dinheiro em papel ajuda a economizar na viagem.
“Dinheiro em espécie é fácil de controlar e do ponto de vista comportamental também é melhor, porque quando você usa o dinheiro, age de forma mais racional”, afirma ela.
O que considerar antes de fazer compras fora
IOF O Imposto sobre Operações Financeiras não é o mesmo para todas as compras no exterior. É de 1,1% para dinheiro em espécie e para transferência de conta brasileira para conta internacional de mesma titularidade, e de 6,38% para cartão pré-pago e de crédito
Orçamento Caso o valor necessário para a viagem seja alto, é arriscado levar só papel-moeda. Vale usar alguma modalidade de cartão, para se proteger de furtos ou roubos
Papel-moeda Alguns países já dificultam a vida do turista que quer usar dinheiro vivo, porque muitos estabelecimentos preferem pagamentos em cartão. É o caso da Inglaterra, da Suécia e da Holanda. Por isso, é melhor se planejar para levar parte do valor em cartão ou liberar a função de uso no exterior do cartão. Outros países dão desconto em impostos para pagamento em cartão internacional
Controle O cartão de crédito é prático, mas também é a pior opção para quem quer economizar. Além de ter um limite maior para as compras, o viajante não sabe qual quantia vai de fato pagar, já que a cotação ou é a do fechamento da fatura ou varia conforme o dia da compra
Fonte: Folha de S.Paulo