Despretensioso, road movie ‘4L’ mostra viagem pelo Saara

Em tempos de quarentena e de fronteiras fechadas, o alívio na vontade de viajar fica por relembrar jornadas antigas ou assistir a filmes e séries sobre o tema. Por essas e outras, o longa espanhol “4L” (ou “4 Latas”, no original), da Netflix, é uma opção despretensiosa.

Na trama, dois sessentões —Jean Pierre e Tocho— querem recriar uma viagem que fizeram décadas atrás, na companhia de um terceiro amigo —Joseba—, quando foram de carro da Espanha até Mali. Agora, eles cairão na estrada com Ely, filha de Joseba.

O trio principal é composto por Jean Reno, o eterno Leon de “O Profissional”, Hovik Keuchkerian, o Bogotá da série “La Casa de Papel”, e Susana Abaitua.

Já no início, o filme mostra a vida escura e sem graça de Tocho, que trabalha à noite num cubículo. Após receber uma carta, ele abandona seus afazeres (inclusive a roupa do serviço vai parar no lixo) e sai em busca do amigo Jean Pierre, com quem não fala há tempos.

O francês, ao contrário do espanhol, está bem de vida, trabalhando na produção de vinho. Juntos, vão atrás do carro com que fizeram a viagem original. Agora, o modelo 4 Latas está com a jovem Ely, que resolve se unir aos dois na expedição pela África.

Cena do filme “4L”, que acompanha três viajantes atravessando o Saara (Divulgação)

Os cenários são deslumbrantes —afinal de contas, é o Saara—, e o diretor e roteirista Gerardo Olivares usa e abusa de filmagens de drones para mostrar a vastidão do deserto.

O espectador pode relembrar perrengues típicos a quem viaja com mochilão ou mala de rodinhas, como ir a lugares sem saber falar o idioma local, cair em golpes e fazer cálculos errados (comida, dias em cada lugar, gasolina).

Dependendo de quem assiste, é possível rememorar ainda outras situações, como ter a companhia de alguém (ou ser a própria pessoa) que bebe do início ao fim da jornada ou encontrar um indivíduo vendendo ou consumindo produtos ilegais.

Em ao menos dois momentos o roteiro se mostra preguiçoso: os personagens enfrentam problemas aparentemente impossíveis de se resolver, mas a solução surge milagrosamente. Logo, em vez de deixar ensinamentos a quem cai na estrada, o filme apela para saídas fáceis.

De qualquer forma, o road movie de 2019 vale ser assistido por viajantes em crise de abstinência.

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Fonte: Folha de S.Paulo