Nina é uma cadela de sete anos, sem raça definida e com pelos que lembram bolas de sorvete de flocos. Na pandemia, como todos em casa, ganhou um pouco de peso, e agora ostenta 16 honrosos quilos. Sou sua madrasta há quatro anos.
Este mês, Nina recebeu um convite: experimentar as acomodações e o serviço pet friendly do hotel Hilton, em São Paulo. Um dos principais cinco estrelas da zona sul da capital, o Hilton Morumbi trabalha já há alguns anos com reservas Pet Experience, e desde março adicionou à vivência uma caixa repleta de mimos que espera pelos bichos no chão do apartamento.
Nina deve me achar uma boa madrasta: me chamou para acompanhá-la no passeio. No check-in, feito em uma sexta-feira à noite, foi recebida pela equipe principal com a cordialidade e as instruções de praxe, mas com um entusiasmo fora do comum. Houve até quem desse a volta no balcão para fazer carinho na cabeça da hóspede.
No Hilton, é obrigatório que os cães circulem pelas instalações no colo do tutor ou usando coleira. Mesmo confiando na cachorra que tenho, confesso que tive medo de que ela, ainda que supereducada, invocasse com algum cheiro curioso e resolvesse carimbar os corredores acarpetados com xixi.
Passamos sem acidentes até o final da estada. Quem não tem a mesma sorte precisa recolher o que for deixado para trás e ressarcir o que porventura seja danificado pelo bichinho. Em situações assim, explica o hotel, o valor do estrago é estimado por um departamento específico e adicionado à conta final.
Nos apartamentos pet friendly, são bem-vindos cães e gatos. A única diferença está no conteúdo da caixinha de presente, organizada pelo sistema de assinaturas Petiko. Nina recebeu bifinhos, biscoitos, duas pelúcias, uma bolinha e um pacote de petiscos saudáveis para os quais não deu muita atenção —ela não ganhou peso na pandemia à toa.
Os potes de ração e água cedidos durante a hospedagem têm boa qualidade, mantendo tudo fresco para o pet. A caminha, completamente higienizada e sem resquícios de uso anterior, acomoda com conforto um cachorro de porte médio. Os hóspedes também ganham tapetinhos higiênicos, que optei por dispor no chão do banheiro durante a noite.
Obviamente não são permitidos animais na piscina, na academia, no spa ou no restaurante do hotel. A solução para quem quiser frequentar estes locais é deixar o animal no quarto, mantendo pendurada na porta, do lado de fora, uma plaquinha que sinaliza haver ali um pet desacompanhado —em momentos assim, a equipe de limpeza e arrumação não tem autorização para entrar.
Isso não significa, no entanto, que tutores que não queiram se separar dos seus bichos passem fome durante a estada. Em uma espaçosa área externa, nos fundos do hotel, mesas e cadeiras confortáveis acomodam quem quiser tomar café da manhã na companhia do seu cãozinho.
À vontade que estava, em seu fim de semana de relaxamento, Nina não teve pudores: subiu no banco estofado ao meu lado e ali degustou seu bifinho matinal, aproveitando o sábado de tempo bom. No dia seguinte, a garoa típica paulistana deu as caras, e a experiência infelizmente não pode ser repetida.
Fiquei sabendo —tarde demais, porque fui embora sem perguntar— que, em casos como este, é possível solicitar o café continental no quarto, sem custos adicionais. Nina lamentou a falta de traquejo da tutora, que fez check-out de barriga vazia.
Ao contrário do que dizem as histórias infantis, madrastas são boas pessoas. No meu caso, faltou coragem para apelar para a plaquinha e descer sozinha para o restaurante.
Além da preocupação com o sossego dos outros hóspedes e possíveis latidos inconformados, também havia o receio, outra vez, da destruição do patrimônio do hotel, em represália ao abandono temporário. Arreguei.
Para ter acesso à Pet Experience do Hilton, é preciso desembolsar uma taxa inicial de R$ 250, além do valor da diária, e pagar R$ 50 por dia adicional de hospedagem. O preço inclui todos os mimos e uma limpeza “reforçada” depois que o pet e seus melhores amigos forem embora.
A repórter se hospedou a convite do Hilton São Paulo Morumbi.
Hilton São Paulo Morumbi
Av. das Nações Unidas, 12.901, Torre Leste, Brooklin Novo, São Paulo. Diárias a partir de R$ 474. Tel.: (11) 2845-0000. Reservas pelo email [email protected].
Fonte: Folha de S.Paulo