Escondido lá na casa do chapéu, Mocotó é o oposto do restaurante de shopping

Quando comecei a frequentar o Mocotó, em 2007, não existia Waze. Eu já internet, decerto, mas nada que reproduzisse decentemente imagens num telefone celular. Então memorizei o mapa que estava no site do restaurante e fiz umas anotações bem toscas numa folha de sulfite. Cheguei, gostei e voltei tantas vezes que até hoje sei o caminho de cor.

A Vila Medeiros, naquela primeira visita, me pareceu um lugar estranho e, de certa forma, assustador. Assustava porque era completamente desconhecida. Depois de duas ou três vezes no boteco do seu Zé e do Rodrigo, eu me sentia em casa na quebrada.

Levava amigos, brasileiros e estrangeiros, sempre que surgia uma oportunidade, para se aventurar na Vila Medeiros. O passeio para fora da cidade óbvia era a maior graça do programa –desculpaí, Rodrigo, sei que você é um baita cozinheiro, mas não o Mocotó não seria o Mocotó se eu o tivesse descoberto em Pinheiros ou, digamos, no Tatuapé.

Pensando melhor, quem sabe no Tatuapé também rolasse a excitação do rolê porque, para um morador da zona oeste, o Tatuapé também fica na casa do chapéu. Distância é sempre relativa. Para quem vive em Manhattan, o Queens é onde o vento faz a curva –que dirá a “cosmopolita” Oscar Freire paulistana.

Não fui o único a curtir de montão as excursões para a quebrada. O rolê Mocotó virou modinha, tanto que as filas se tornaram intransponíveis nos fins de semana. A Vila Medeiros foi parar no guia Michelin. Depois Rodrigo abriu em Pinheiros, na Paulista, em Los Angeles, sem nunca abandonar a perifa.

Aí vem uma queridona que leva 16 pessoas do Tatuapé para a Vila Medeiros e sai esculachando, nas redes sociais do Rodrigo, a vizinhança do chef –rotulada de “perigosa” e “precária”, em contraponto ao “Bairro Maravilhoso” (iniciais maiúsculas) do TATUAPÉ (caps lock atolado). Rodrigo respondeu à altura.

Fossem feitas as vontades de gente como a dona Sandra, as praias estariam azulejadas e todos os restaurantes do mundo ficariam em praças de alimentação. Ainda bem que ainda há quem pense diferente. Ainda bem que existe o Mocotó da Vila Medeiros, o oposto do restaurante de shopping. Que venham mais restaurantes bacanas na casa do chapéu e nos cafundós afins.

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Fonte: Folha de S.Paulo