Fico curioso em saber como me sentiria num longo cruzeiro que nunca fiz

Leio que um enorme navio zarparia nesta quarta-feira (1º) do porto de Santos. O MSC Seaside seria o maior e mais moderno desta temporada: 323 metros de comprimento, 41 metros de largura, 72 metros de altura e 153.516 toneladas brutas. O que não me diz muito, dada minha inexperiência na área.

Nas fotos parece grande mesmo, como um denso condomínio. Maior do que o único navio em que já naveguei.

Foi uma curta experiência: de carro até Santos, jantar a bordo numa sala privativa, dormir e acordar na manhã seguinte no Rio de Janeiro.

Mal pude explorar o complexo, ou ter uma ideia do que seria estar ali engaiolado por uma semana ou mais. Mesmo a ideia da gaiola fosse talvez preconceituosa: navios param ao longo da viagem e os passageiros visitam vários lugares; no intervalo a bordo, diversão na piscina, academia, cinema, boate, cassino e restaurantes.

Não sei se vale passar poucas horas em cada cidade (é possível conhecê-las batendo pique?). E se, entre as paradas, não serão tediosas sempre as mesmas atrações a bordo. Mas… não é o que as pessoas fazem num resort do litoral?

Ainda somente especulando, tento recorrer a livros, filmes. As referências são idílicas, ou no mínimo positivas, salvo, é claro, os roteiros mais catastróficos tipo “Titanic”, “Poseidon” ou “Um Barco e Nove Destinos” de Hitchcock; ou de livros como “Relato de um Náufrago”, de García Márquez.

O mais comum é ver ambientes glamorosos em alto-mar, como o da primeira classe que leva para a Europa, o seduz pelo luxo e traz de volta o protagonista do livro “O Talentoso Ripley”, de Patricia Highsmith –no cinema, virou o filme homônimo de Anthony Minghella (2000) e “O Sol por Testemunha” (1960), de René Clément, com Alain Delon.

Mas tais cenários são do tempo em que aviões não existiam ou eram raros. Navio era um meio de transporte. Os mais ricos podiam utilizá-lo com mais conforto, na primeira classe, relegando os mais pobres aos porões. Hoje os cruzeiros são principalmente uma opção de lazer. Até me pergunto se ainda existe tamanha diferença de acomodações entre a primeira e a última classe (sabendo que algum hiato permanece).

Outra vez, são apenas conjecturas. Se fosse uma reportagem, com alguma pesquisa e entrevistas teria tudo mais claro. Mas não resolveria a dúvida que levou ao início destas reflexões: mesmo com luxo e conforto, com paradas em lugares incríveis, como ficaria meu ânimo, e meu espírito, numa viagem destas? Relaxado, mirando o horizonte entre um bom livro (talvez da Highsmith) e bons vinhos? Ou sentindo-me enjaulado num tedioso imobilismo?

Um dia vou descobrir. Não num cruzeiro de sertanejo universitário, com certeza; nem ficando todo um mês no mar. Mas bateu a curiosidade –vai que supero preconceitos, gosto, e quem sabe até encontro a bordo uma Cate Blanchett como a que cruzou o caminho de Matt Damon na segunda versão do “Ripley”?

Fonte: Folha de S.Paulo

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