Frango compactado, a madeirite das comidas

“Parmegiana de frango compactado”, anuncia a placa da lanchonete Giraffa’s, na praça de alimentação do shopping.

Não são nuggets, não é steak, não são chickenitos, frangolitos, galetitos nem penositos. É a definição crua da matéria ali à venda: frango compactado.

Eu nunca havia visto tamanha honestidade numa peça promocional de junk food. Mas o que vem a ser, exatamente, o tal frango compactado?

É preciso, obviamente, matar um frango. Coxas, sobrecoxas, asas, peito e miúdos são removidos da carcaça. Restam muitos ossos, pedaços de cartilagem, pele, gordura e alguma carne colada ao esqueleto.

As sobras de frango vão para uma máquina de raspagem e trituração, que extrai até o último miligrama de tecido muscular. O material resultante é uma pasta rosada bem pouco apetitosa, a tal da carne mecanicamente separada (CMS).

À CMS se acrescenta uma tonelada de temperos e aditivos químicos, até se tornar minimamente palatável. Ela entra na composição de salsichas, linguiças, mortadelas e hambúrgueres. Pode conferir no contrarrótulo desses alimentos.

Ou então a maçaroca é compactada e enformada para se assemelhar a um filé de frango, pelo menos visualmente.

É isso que o McDonald’s decidiu empanar, fritar e vender. Eles precisavam de um bom nome para o subproduto da desossa industrial de aves. Escolheram nuggets, “pepitas” em inglês.

No Brasil, o termo foi patenteado pela Sadia. Os outros fabricantes inventaram nomes criativos para anunciar a CMS frita.

Quando a qualidade de um alimento (ou a falta dela) precisa ser mascarada nas estratégias de vendas, entram em cena os alquimistas da comunicação para transformar resíduos industriais em pepitas de ouro.

Palavras são decisivas para o sucesso de qualquer produto vendável. Sacar uns nomes em inglês, mesmo que não façam o menor sentido, garante uma clientela de bocós.

Se você gosta de hambúrguer, já deve ter se deparado com uma coisa chamada american cheese. Algo que não existia antes no Brasil, não com esse nome.

American cheese é e sempre foi queijo processado, também chamado de queijo fundido. Polenguinho, saca? Ou aquelas fatias perfeitamente quadradas e ensacadas individualmente.

Obtém-se o american cheese da mistura de diferentes queijos, geralmente aparas e rebarbas, e outros subprodutos da indústria láctea.

É mais barato do que queijo de verdade, evidentemente. Numa analogia com o setor moveleiro, é a mesma diferença entre a madeira sólida e o compensado.

Curiosamente, virou cool usar queijo processado para fazer hambúrguer –algo que, poucos anos atrás, era motivo de constrangimento. Hamburgueiros tatuadões até se gabam de produzir o próprio american cheese premium gourmet prime.

Ousado é o Giraffa’s, que foi lá e tascou o frango compactado na cara do povo que gasta dinheiro no shopping. Quando foi pedir a madeirite de frango, assegure-se de que ela venha com uma quantidade generosa de compensado de queijo.

Fonte: Folha de S.Paulo

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