‘Many coves, many falls’

Preocupado com a divulgâchion do túrism para os visitants estrangeiros, também conhecidos como os gringos que gastam môni por aqui, o atual président do órgão mais impórtant do setor no Brasil, a Embratur, imortalizou seu convitation num vídeo (teipe?) recente onde conclamava: “Just come to Brasil. We have many coves. Many falls”.

E, para que não ficasse dáuts de que o que se exaltava eram nossas belezas naturais e não o números de vítimas da Covid-19, esclareceu: “River falls”.

Com o help de um Google Translator, descobri que o sélin póint em questão poder ser understúdi em português como “rio cai”.

Que, por aproximação (poética), nos leva a “água cai”. Que, invertendo a função do mesmo tradutor, agora do português para o inglês, se transforma em “water falls”. Que, também por aproximação (literal), nos leva a “waterfalls”. Cachoeiras!

No, no, no! Nobódi tem a obrigação de falar inglês flúênt se não foi sua língua móder. Nem mesmo the pípol que se considera mais endjeníer civil do que cidadão, logo, béter que os óders.

Tudo bem que em países que realmente se preócupái com o túrism, como a Táiland, por exemplo, todo o setor se esforça para speak algum ínglich.

E nos States, outro ótimo exempól, quase todo mundo fala —menos em Orlando, como prova de sympatí pelos brasileiros, um povo que não se táire de mandar até suas doméstics para lá.

But, se você quer convidar os gringos pra discover nossa terra tão bíutuful, você tem que fazer um pouco béter do que aquilo que está nas imagens que viraláizêd.

“Uí ráve lots of gastrônomi”? Tipo Espanha, França, Itália, Peru, Japão e até a própria Táiland? Temos que ser béter que eles.

“Séndi bítchs”? Considerín que era um vídeo para a Austrália, também poderíamos fazer béter do que ófer o que ele já têm “de big máuntêin”…

Aliás, “uí ar véri similar to Australia” parece uma piada de béd têist quando você descobre que, até o moment em que escrevo isto, o nâmber de mortes da pandemia por lá é de djâst 106.

Ainda, para ser totalí ónest, a mensagem deveria dizer que também temos, bares lotados de gente sem mésk, mesmo com nâmbers de contaminados crescendo assustadoramente, tipo panic!

Uí rév lots of gente fúl de preconceitos, que não respect nem minorias nem nossa culture. Além de lots of pípol com muita grana que diz coisas do type: “Nosso câuntri não pode stop por causa de cinco ou sete
táuzand mórts”. (Quando bater 65 táuzand pode parar?)

Se quiser ser ónest mesmo, seria legal chamar atenção para as coisas que a gente não tem, com mínister de educâichion ou mesmo de saúde (que é superdifícil de pronunciar em inglês, vamos recoguináize, mas dava para ilustrar com uma cruz vermelha).

Ou, bést of all, diga a verdade: que este é um país muito bonito, que corre um risco enorme de ser estragado, não pela displicência de quem deveria cuidar dele, mas pela total incompetência de quem não consegue encarar, e muito menos resolver, os problemas que enfrentamos.

Que ironia convidar australianos para descobrir nossas belezas sendo que nós somos agora párias do turismo mundial, por termos tido o azar de morar num país que deu as costas para a crise sanitária mais grave de uma geração —ou de várias.

Quem é que quer conviver, se relacionar, interagir, com um povo que carrega a marca da contaminação de uma doença que já foi fatal para mais de meio milhão de pessoas em todo o planeta, um número que não para de crescer?

Contra este triste cenário, não há rios que caiam, não há séndi bítchs, não há rôupi.

O que a gente pode oferecer é coragem e lucidez no combate a essa crise absurda, qualidades que, apesar de ausentes nas nossas autoridades, abundam no nosso povo. E que vão ser motivo de orgulho mesmo depois que tudo isso passar.

​Quando a gente finalmente puder desfrutar nas nossas belezas, quando quem celebrou a ignorância finalmente voltar para nossas incríveis queives (não confundir com coves), esse é o Brasil que vai brilhar.

E não vai ser nem uma véri grêit surpraize.

Fonte: Folha de S.Paulo