Medo de vírus leva a aumento no uso de descartáveis em hotéis

A busca por um turismo mais sustentável pode esbarrar em um ser microscópico em 2020: o vírus Sars-Cov-2, causador da Covid-19.

Campanhas para reduzir o consumo de plásticos de uso único, como copos e canudos, ganharam força nos últimos anos. Mas, com a reabertura de hotéis e atrações turísticas ainda durante a pandemia, a necessidade de tornar esses espaços seguros para os visitantes pode ficar acima da consciência ambiental.

“Há um movimento de embalar toalhas, roupas de cama, talheres e alimentos em plásticos para oferecer maior percepção de higiene”, diz Trícia Neves, sócia-diretora da consultoria em turismo Mapie.

Materiais descartáveis passam ao cliente a confiança de que o item não foi usado anteriormente, o que pode deixar o viajante mais tranquilo em utilizar os serviços.

“Essa sensação de segurança é muito importante agora”, diz Helena Araújo Costa, coordenadora do Laboratório de Estudos em Turismo e Sustentabilidade da UNB (Universidade de Brasília).

O descarte de equipamentos de proteção individual —luvas e máscaras usadas por hóspedes e funcionários— é outro problema. E a maior utilização de materiais de limpeza para desinfecção dos ambientes também gera mais lixo, como embalagens de água sanitária e álcool.

Mesmo redes engajadas com a questão ambiental podem ter de fazer uso dos descartáveis neste momento, no qual precisam cumprir protocolos de limpeza e ainda lutam para recuperar a receita dos meses sem atividade.

“É um desafio para os equipamentos turísticos, que já estão buscando alternativas, mas, no curto prazo, a prioridade será a atração de demanda”, diz Neves.

“Redesenhamos os nossos serviços e pode haver inicialmente o aumento de consumo de plástico”, diz Bruna Dib, diretora de marketing do resort Txai, em Itacaré (BA). Depois de usados, equipamentos de proteção individual são encaminhados à incineração, para evitar contaminações.

O mesmo deve ocorrer com a rede Meliá. “Com o protocolo, temos que utilizar mais plásticos e embalagens descartáveis, já que todos os itens, de talheres a controles remotos dos quartos, têm de ser esterilizados e embalados”, diz Muna Hammad, diretora de RH da rede hoteleira no Brasil.

As duas empresas afirmam, porém, que o aumento será passageiro e que estão adotando medidas para fazer o descarte correto.

O Grupo Cataratas, que gerencia seis atrações no Brasil, incluindo os parques de Foz de Iguaçu e Fernando de Noronha, havia reduzido em 63% a utilização de plástico de uso único em 2019, segundo Fernando Sousa, diretor de sustentabilidade da empresa.

O grupo pretende manter a redução em 2020. Uma das formas de baixar a geração de lixo foi dar um kit de máscaras de pano aos funcionários. O produto também é vendido aos visitantes.

Nos restaurantes e lanchonetes, a esterilização de talheres, pratos e copos é feita com água quente. “É preciso pensar em processos que não acabem gerando mais plásticos. O coronavírus não é desculpa para usar mais produtos descartáveis”, diz ele.

Para Costa, da UNB, o principal é transmitir com clareza os protocolos de limpeza. “Muitas vezes, você vai passar segurança dizendo como fez a higienização daquele quarto, nem sempre a saída vai ser o plástico descartável.”

Fonte: Folha de S.Paulo