Milícias de Bolsonaro se unem para massacrar um cozinheiro

Eduardo Lazzari, cozinheiro do hotel Spa do Vinho, em Bento Gonçalves (RS), publicou o seguinte no Facebook semana passada, pouco antes da visita de Jair Bolsonaro à Serra Gaúcha:

“Vou ter que cozinhar para esse diabo ainda, que raiva.”

O post repercutiu, e alguns comentários sugeriam que Eduardo sabotasse o pasto presidencial com veneno de rato ou laxante. Então a história fica um pouco nebulosa.

Na sexta-feira (9/7), dia da visita de Bolsonaro à região, noticiou-se que o cozinheiro havia sido detido pela Polícia Federal, interrogado e liberado. O evento com as autoridades no hotel foi cancelado por razões de segurança. O funcionário publicou, mais tarde, um pedido de desculpas humilhante.

Ontem, a proprietária do Spa do Vinho declarou à imprensa gaúcha que não havia nenhum jantar programado para Jair Bolsonaro em seu hotel. Negou a detenção do funcionário.

Para esclarecer a história, tentei contato com Eduardo, mas ainda não obtive resposta.

De qualquer modo, é muito estranho que alguém reclame de um dever imaginário. O cozinheiro delirou e antecipou a presença de Bolsonaro no Spa do Vinho? Ainda mais com as consequências possíveis dessa queixa, que ele sentiu na pele em seguida.

Por sinal, Eduardo foi bem mirim nessa história toda. O dono do restaurante pode escolher atender ou não quem quer que seja; o cozinheiro deve cozinhar. Se a presença dessa pessoa o revolta –e o revoltou, como me revoltaria–, engole a raiva ou sai andando. Reclamar aos quatro ventos fere o código de conduta de qualquer ambiente de trabalho.

Além disso, ele foi a enésima alma inocente a menosprezar o alcance das redes sociais. Achou que falava com o garçom e o lavador de prato, mas foi massacrado pelas milícias bolsonaristas do Brasil inteiro.

A indisciplina do cozinheiro deveria ser tratada como um assunto interno do hotel. Nunca deveria envolver polícia ou um deputado federal a incitar o linchamento virtual do jovem. Todas as tropas digitais de Bolsonaro descarregaram seus canhões destruidores de reputações no guri de Bento.

Aliás, Bibo Nunes (PSL-RS) foi especialmente cruel com o cozinheiro do Spa do Vinho. Em transmissão no Twiter, cinicamente acusou o rapaz de tramar contra a vida do presidente, encontrando eco nas hordas que idolatram o “mito”. Agora, para o cozinheiro, será muito difícil viver e trabalhar na Serra Gaúcha –um reduto empedernido do presidente golpista.

Eduardo apenas se queixou. Foram os comentaristas de redes sociais que sugeriram a sabotagem – algo tão ameaçador, diga-se de passagem, quanto o próprio Bolsonaro a desejar a morte de Dilma Rousseff por “infarto ou câncer”.

Mas, para as milícias, não importam os fatos. Agem como rebanho contra o inimigo apontado pelo líder.

Eu, se fosse o Diabo, ficava ofendido com a comparação.

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Fonte: Folha de S.Paulo