O churrasco folheado a ouro dos palhaços da Seleção

Na cinebiografia “Elvis”, o cantor vive e morre desgostoso com o fato de que Tom Parker, seu empresário, o trata como um palhaço de circo.

Parker, vigarista assumidaço que se criou no meio circense, entendia como poucos as engrenagens do negócio de entretenimento. Arte é o escambau, no show business tudo é ilusionismo, prestidigitação.

O palhaço se faz de bobo para sugar até o último centavo do otário que compra as palhaçadas. Isso é algo que exige talento: tem muito artista genial que vive de migalhas porque não sabe se vender.

Em última análise, algum talento circense é pré-requisito para qualquer pessoa que depende de uma imagem pública para o próprio sustento. Isso se aplica a atletas, influenciadores, jornalistas e chefs de cozinha. Mas alguns indivíduos extrapolam na palhaçada.

Pegue o tal do Salt Bae, por exemplo.

Salt Bae é o nome artístico do turco Nusret Gökçe, que se especializou em churrasco performático.

O fulano está sempre de óculos escuros, rabo de cavalo e camiseta branca agarradinha. Corta a carne em movimentos coreografados e asperge o sal com o braço dobrado como um pescoço de cisne.

Um verdadeiro palhaço. Dos bons.

Salt Bae construiu uma rede de restaurantes chamada Nurs-et, com casas em vários países –inclusive o Qatar. Na Copa do Mundo, o grão-palhaço se instalou em Doha para deliciar a rica e deslumbrada clientela com o balé do sal no bife.

A freguesia da Copa inclui, obviamente, jogadores de futebol –outra categoria de palhaços profissionais.

Boleiros têm um fraco pela diversão ostentatória. Num país ultraconservador como o Qatar, estão fora de alcance o champanhe que pisca, a jogatina e as put… o entretenimento adulto. Resta aos craques o churras-show do Salt Bae.

Circula no Instagram um vídeo em que Ronaldo Fenômeno, Éder Militão, Gabriel Jesus e Vinícius Júnior jantam no Nurs-et de Doha. As legendas mostram o preço do relógio de cada jogador.

E é o próprio Salt Bae quem fatia à mesa a palhaçada-mor do cardápio: um bistecão de 1,2 quilo folheado a ouro. O bife dourado custa o equivalente a R$ 3000 –sem ouro, o mesmo corte sai por menos da metade desse valor.

Ouro comestível é a maior das picaretagens dessa indústria picareta que é a gastronomia de alto luxo. Não tem gosto de nada e sequer é valioso: no Mercado Livre, cem folhas saem por R$ 59. Uma palhaçada deveras cafona.

Na batalha de palhaços que foi o encontro de Salt Bae com a Seleção, falta identificar o otário da história. Sempre há um trouxa a ser explorado: palhaços não trabalham de graça.

Certamente o otário não é o mago do sal, que faz propaganda do seu restaurante com o escrete canarinho.

Tampouco devem ser os futebolistas. É improvável que tenham pagado pela refeição e, se pagaram, o dinheiro não lhes faz falta alguma.

Apenas um palpite: otário talvez seja quem sofre com o circo do futebol enquanto seus ídolos comem carne, ouro e batata frita.

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Fonte: Folha de S.Paulo

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