O que faz o turista feliz

Se tudo correu bem, você geralmente volta de uma viagem encantado. Mas você já se perguntou se voltou de algum lugar mais feliz?

Semana passada estive em Fortaleza, onde, curiosamente, fui mais que ao Rio de Janeiro este ano: um total de seis vezes! O que me deixou, claro, muito feliz.

Ainda mais por ter descoberto lá uma pesquisa, encomendada pela Secretaria de Turismo de Fortaleza, que queria saber exatamente com que grau de felicidade os turistas saíam depois de passar pela capital cearense.

Os resultados desta pesquisa de satisfação parecem convencionais: Fortaleza ganhou nota 9,14 dos seus visitantes em 2022; e mais de 97% não apenas retornariam ao destino, mas também o recomendariam para outras pessoas.

Mas o que me chamou a atenção foi a abordagem da enquete. Olhar uma viagem pelo ângulo da felicidade que ela trouxe me pareceu inovador. Mais ainda, havia uma pergunta que me chamou atenção justamente por estar ligada à sensação de felicidade: “Você viveu alguma experiência nova em Fortaleza?”.

Sim, nem toda experiência nova é um indício de felicidade. Pode ser que você nunca tenha trocado o pneu de um 4×4 numa estrada de terra no meio do nada. Aí você está no interior do Mali, como eu estava, e passa por isso. Não fiquei muito feliz.

Mas, em geral, experimentar coisas que você nunca fez vai mesmo te trazer felicidade.

E, ter essa preocupação com o turista, querer que ele volte porque se sentiu feliz em Fortaleza, me soou como algo tão óbvio que deveria ser o objetivo principal de todo ponto turístico. Como bem sabemos, isso nem sempre acontece.

Os obstáculos para você voltar feliz das férias são inúmeros, e, com o verão de novo se aproximando, o primeiro em que vamos viajar sem medo da Covid (salvo uma intensificação da onda recente de contaminação), eles podem fazer a gente até desistir de uma aventura.

Preços exorbitantes nos serviços. Praias abarrotadas. Dias de chuva ou uma onda de calor intermitente. No caso de viagens ao exterior, dificuldades com a língua, a orientação e até com o câmbio. Tudo isso, porém, pode ser superado se você voltar feliz de onde escolher visitar. Ou não?

Senti-me provocado pelo ponto de vista da pesquisa: de quantas viagens na minha vida eu retornei genuinamente feliz? Descontando algumas luas-de-mel, outros deslocamentos em que recebi um prêmio ou coisa parecida, de que lugares eu voltei transbordando felicidade?

A primeira experiência que me veio à cabeça foi no Butão. Você certamente já ouviu falar que o rei de lá se orgulha de trabalhar para que seus súditos, opa, habitantes tenham o maior índice de “Felicidade Interna Bruta” do mundo.

Fora o fato de esse ter sido um conceito totalmente inventado por ele, de boa-fé, imagino, é preciso lembrar que os visitantes do Butão aproveitam-se disso apenas lateralmente. Com um visto que custa US$ 200 por dia e opções de hospedagem nunca com menos de cinco estrelas, essa felicidade não sai barata.

O dia em que acordei depois de uma viagem de carro de um hotel Aman para o outro, na frente de uma ponte sobre um rio cristalino, aquelas bandeirolas coloridas enfeitando meu caminho até uma fazenda do século 19, onde dormi duas noites, foi feliz. Só que eu acho que não é bem isso que eu estou procurando.

Talvez algo mais simples. Como quando fui despertado, depois de uma noite intensa assistindo a uma dança do fogo, embaixo de uma árvore em uma aldeia no meio de Papua Nova Guiné, pela filha de quatro anos do meu guia brincando com uma galinha sobre minha cabeça.

Talvez quando comprei um urso de pelúcia na FAO Schwarz, a icônica loja de brinquedos de Nova York, para a um grande amor, numa viagem na qual descobri, no meio dela, que uma fatalidade tinha me deixado sem reserva de dinheiro. Foi a única compra então, e só de olhar o ursinho até hoje fico feliz.

Mas essa seria uma felicidade muito particular… Acho que vou escolher uma outra, de um momento único e improvável: o dia em que, para celebrar meu 55 anos, eu coloquei 40 amigos dentro de tuktuks e saímos por Bangkok como crianças pela primeira vez num parque de diversões.

É isso: voltar feliz de uma viagem é ter não apenas vivido uma grande felicidade, mas também tê-la compartilhado com quem você gosta.

Foi uma experiência nova? Sim. Deixou um registro de pura felicidade? Sim. E todo mundo sentiu a mesma coisa? Sim. Será que alguma pesquisa seria capaz de identificar isso? Aí abrimos para o debate…

Fonte: Folha de S.Paulo

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