O que você precisa saber antes de voar durante a pandemia

Viajar de avião saindo do Brasil ainda é indicado apenas em situações essenciais. Mas, depois de tantos meses de distanciamento social, a procura por esse tipo de transporte tem crescido.

Um levantamento do buscador de viagens Kayak, feito em junho, mostrou que o avião era a escolha de 51% das pessoas que pretendiam viajar dentro de seis meses.

Veja o que esperar dos voos neste momento, desde os protocolos de segurança até as tarifas praticadas.

Número de passageiros

A ocupação média das aeronaves em voos nacionais ficou em 75% em julho, de acordo com a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). A taxa é 11% menor do que a registrada em julho de 2019.

Isso acontece porque, embora o número de passageiros transportados ainda esteja 81% menor do que em julho do ano passado, há também menos voos em operação: a oferta de assentos caiu 76,3% no período.

“Temos menos voos porque senão não teríamos como manter a malha aérea. Quando a pandemia começou, levantamos aviões de 180 lugares com 17 passageiros. Algumas companhias tiveram prejuízos de mais de R$ 150 milhões por dia”, diz Eduardo Sanovicz, presidente da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas).

Regras sobre lotação

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) recomenda distanciamento entre os passageiros quando for possível, mas não há obrigação para as companhias.

No início da pandemia, algumas empresas estrangeiras afirmaram que iriam deixar livres os assentos do meio —a companhia americana Delta adota a estratégia em seus voos domésticos e vai mantê-la até janeiro.

Porém, a Iata (Associação Internacional de Transporte Aéreo) não apoiou esse tipo de medida, afirmando que a estratégia resulta em menos de um metro de distância entre os passageiros.

Protocolos de segurança

As três grandes companhias nacionais, Gol, Latam e Azul, tornaram obrigatório o uso de máscara durante os voos. Os aviões passam por limpeza a cada viagem realizada, o serviço de bordo foi simplificado ou suspenso e o processo de embarque e desembarque foi reorganizado, para evitar aglomeração.

As aeronaves têm um filtro de ar chamado Hepa, que remove 99,9% dos vírus e bactérias, e o ar da cabine é renovado a cada três minutos.

“Com esse filtro, é mais seguro estar em um avião do que em um escritório ou dentro de um ônibus“, afirma Sanovicz.

A Anvisa está preparando uma regulamentação para o setor, com medidas como distanciamento de um metro entre as pessoas nas filas do aeroporto e restrição de 50% na lotação dos veículos que levam os passageiros até os aviões. O texto está em fase de consulta pública, em portal.anvisa.gov.br/consultas-publicas.

Risco de contágio

“Não há medida de prevenção à Covid-19 que seja 100% eficaz”, afirma a médica Tânia Chaves, professora da UFPA (Universidade Federal do Pará) e membra da Sociedade Brasileira de Infectologia.

Fazer uma viagem aérea também envolve situações de risco antes e depois do voo, como no transporte até o aeroporto, em filas e até no trajeto entre o portão e a aeronave. “Se sua viagem não é essencial, não vá agora”, diz.

Caso uma pessoa de grupo de risco precise viajar de avião, a médica indica o uso de equipamentos de proteção mais completos, como máscara tipo N95, óculos protetor, escudo transparente para o rosto e luvas.

Um estudo alemão divulgado no último dia 18 acompanhou um voo com 102 passageiros de Israel a Frankfurt, feito em março. Todos estavam sem máscara.

Entre os passageiros, estava um grupo de 24 turistas que havia tido contato com um israelense contaminado. Sete integrantes do grupo tiveram resultado positivo para a doença em teste realizado no aeroporto de chegada e outros sete tiveram sintomas nas duas semanas após o voo.

Os cientistas conseguiram contatar 90% dos passageiros e encontraram outros dois casos prováveis de contaminação por Covid-19, em pessoas sentadas em até duas fileiras à frente ou atrás do grupo.

Preço das passagens

Levantamento feito pela empresa de viagens Decolar encontrou passagens nacionais, partindo de São Paulo para cinco capitais brasileiras, por valores até 32% menores do que em agosto de 2019.

Outro levantamento, feito pelo buscador Kayak, constatou uma baixa de até 57% na tarifa média para 20 cidades brasileiras, em comparação com o mesmo período do ano passado.

“É de se esperar que em um primeiro momento os preços caiam, para que as companhias descubram como o mercado está respondendo”, diz Alessandro Oliveira, economista e professor do ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica).

Eduardo Fleury, diretor de operações do Kayak, acredita que os preços devem se manter baixos até que haja uma vacina para a Covid-19.

Enquanto a demanda não voltar a ser o que era antes da pandemia, algo que Oliveira não imagina que vá acontecer dentro dos próximos dois anos, haverá menos opções de voos diretos e de horários para embarcar.

Como as companhias aéreas tiveram que diminuir a quantidade de voos, elas devem aguardar até que a ocupação das rotas já em operação chegue a quase 100% para adicionar mais frequências. “Elas não podem acelerar os planos de retomada e correr o risco de quebrar”, diz Oliveira.

Fonte: Folha de S.Paulo