‘Pantera Negra 2’ é uma viagem ao futuro com reverência aos ancestrais e recado de união

Um lugar em que as pessoas podem ser quem são sem medo e em toda a sua potência. Wakanda é um lugar mítico que volta as telas em ‘Pantera Negra: Wakanda para Sempre’.

O novo filme que estreia nesta quinta (10) nos cinemas é uma reverência do começo ao fim, literalmente, ao ator Chadwik Boseman, que fez o Rei T’Challa da primeira versão e morreu de câncer em 2020. A produção da Marvel dá continuidade à história, entrega uma obra com novos elementos, mas não arrebata como no primeiro.

A luta entre o povo de Wakanda e o de um novo reino indígena subaquático no México, o Talokan, incomoda, à princípio, por não focar justamente no inimigo comum: o colonizador. Ao longo de 2h40, o longa mostra que o diálogo e a união entre povos que conseguiram se livrar da colonização é a grande força.

Se o vibranium é o superpoder no filme anterior, aqui ele vem acompanhado da necessidade de sentar ao lado de quem é visto como inimigo e conversar, aparar as diferenças e seguir cada um com a sua diversidade, mas com o mesmo objetivo: ser livre e poderoso.

Das telas para a vida real, a lição do filme ainda é desafio para um povo que foi escravizado e carrega as dores do racismo estrutural do presente. Mas como diz um dos personagens, “só as pessoas mais feridas podem ser grandes líderes”. O enredo também mostra que para continuar poderosas precisará de cura e diálogo com o outro, que até então é visto como concorrente do mal por ocupar um espaço parecido.

Nas Wakandas que se formam nas cidades brasileiras, em que há bolhas de negros em ascensão e ocupando espaços importantes, ainda precisamos superar a síndrome do negro único e também deixar de bloquear diálogo e união por conta de problemas do passado. Todos nós fomos feridos de alguma forma e lutamos para estar nas nossas posições. Não nos cabe reproduzir o jogo do colonizador de nos digladiarmos. É muito utópico sonhar com o fim das desavenças entre pessoas negras e uma construção coletiva?

No filme, as tecnologias da viagem para o futuro não nos deixam esquecer que são os ancestrais a nossa força. A “Alexa” da tela é o “griô” que dá pitacos e ajuda nas tarefas diárias. Além disso, Wakanda tem um conselho de anciões, o conceito de circularidade em seus encontros, festa, guerreiros a postos, mas, principalmente, mulheres fortes! São elas que ditam as regras, as protagonistas.

Lupita Nyong’o (Nakia), Angela Bassett (Rainha Ramonda), Danai Gurira (Okoye), Michaela Coel (Aneka), Dominique Thorne (Riri Willians), Letitia Wright (Shuri) se alternam na tela, em grandes interpretações, trazendo as mulheres negras para o lugar que sempre deveriam ter estado. Ver Shuri se transformando em uma super-heroína com seus cabelos naturais é algo tão revolucionário quanto a própria ideia do filme. Temos um novo imaginário para sonhar. ‘Pantera Negra’ vive e Wakanda é para sempre.

Fonte: Folha de S.Paulo

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