Por ordem de ditador, Cazaquistão troca alfabeto cirílico pelo latino

17/01/201807h00Em seus 26 anos como o primeiro e único mandatário do Cazaquistão, Nursultan A. Nazarbayev vem conseguindo manter a Rússia ressurgente à distância e orientar-se nas águas geopolíticas turvas em volta de Moscou, Pequim e Washington, conservando boas relações com as três capitais.
Mas o líder autoritário parece ter perdido de repente seu talento para jogar com interesses divergentes, e a razão disso é uma questão que, à primeira vista, não envolve rivalidade entre grandes potências nem graves questões de Estado: o papel do humilde apóstrofo na escrita de palavras em cazaque.
Hoje a língua cazaque é escrita em uma versão modificada do cirílico, um legado do domínio soviético. Mas em maio passado Nazarbayev anunciou que o alfabeto russo será abandonado em favor de uma nova escrita baseada no alfabeto latino. Segundo ele, isso “será a realização dos sonhos de nossos ancestrais e também o caminho para o futuro das gerações mais jovens”.
Mas a decisão trouxe à tona uma questão espinhosa: como escrever uma língua que não possui alfabeto próprio, mas sempre foi escrita com alfabetos importados.
A intervenção ardorosa do presidente na discussão acalorada sobre a nova escrita, além da solução que ele propôs —Nazabayev quer que sejam usadas muitos apóstrofos— chamaram a atenção a como virtualmente tudo nesta ex-república soviética, por mais possa ser pequeno ou obscuro, depende da vontade de um homem de 77 anos ou, pelo menos, dos que alegam falar em seu nome.

Fonte: Folha de S.Paulo

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